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Pela primeira vez, o monopólio do Google no setor de buscas está em xeque. Apesar de resultados acima das expectativas divulgadas pela sua controladora, a Alphabet, no dia 29 de outubro, gestores que venderam suas ações na companhia ainda não avaliam uma mudança de rota.
Entre alguns fundos brasileiros que já tiveram ações da Alphabet (GOGL34), o sentimento é de que, pela incerteza, o melhor é apenas analisar o papel e não mudar a posição no momento. “A vantagem competitiva do Google está sob questionamento”, diz Wagner Chavez, sócio da SFA investimentos, que zerou a posição que tinha na empresa há mais de um ano.
Parte das desconfianças quanto ao futuro do mecanismo de buscas reside em uma recente decisão judicial contrária à empresa nos Estados Unidos: em agosto deste ano, o juiz Amit Mehta, de Washington, foi favorável à denúncia de que a plataforma teria usado práticas anticoncorrenciais para se estabelecer como líder no segmento.
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“Há pouca visibilidade sobre quais serão os próximos passos no sentido de para onde vai essa discussão, porque hoje ainda não é descartado um risco de segmentar o negócio”, diz Eder Cruz, analista de renda variável da AZ Quest, que vendeu suas ações da Alphabet perto do primeiro trimestre deste ano.
Um documento enviado pelo Departamento de Justiça americano sobre possíveis ações contra o monopólio menciona a possibilidade de “medidas comportamentais e estruturais” contra a empresa.
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A alternativa menos agressiva e mais favorável ao Google seria impedir que ele continuasse fechando contratos — cotados na casa de US$ 20 bilhões — com a Apple para torná-lo o mecanismo padrão de buscas nos dispositivos da companhia. Ainda assim, isso abriria margem para que a própria Apple criasse seu buscador próprio ou negociasse com concorrentes, como o Bing, da Microsoft.
Um remédio mais amargo levaria à ruptura de parte dos negócios do Google, como a separação do Android ou do próprio buscador em uma nova empresa.
Concorrentes do Google investem em buscas com IA
Acontece que os riscos para a companhia não param por aí, avaliam analistas. Por todos os lados, empresas querem ter uma parte do mercado de buscas, um canhão para retornos com publicidade digital que operam com margens brutas próximas a 70%.
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A Meta (M1TA34) parece estar fazendo seus movimentos: nesta semana, veículos de imprensa internacionais afirmaram que a empresa de Mark Zuckerberg trabalha para lançar um buscador baseada em inteligência artificial.
Na avaliação de Cruz, a dona do Facebook é um exemplo de empresa que passou por momentos de testes do seu modelo e se provou vencedora no passado, durante a ascensão do Snapchat e do Instagram – quando ainda não havia sido comprado pela própria Meta: “É um modelo que foi testado várias vezes e o mercado deu um nível de confiança de que ele não passará por disrupção tão rápido.”
Outros agentes como a Perplexity, ferramenta de busca baseada em IA generativa, ao estilo do ChatGPT, adiciona novo elemento para o receio dos investidores. O próprio Google possui seu modelo Gemini, mas é natural que os lançamentos da big tech sejam mais conservadores na comparação a uma startup, capaz de imprimir um ritmo de inovação mais ousado.
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E mais: a empresa ainda está nas fases iniciais de investimento, fora do mercado público e com investidores pontuais e estratégicos. “Eles podem focar em aumentar a base de usuários primeiro, se tornarem uma plataforma vencedora e depois monetizar. O Google não tem esse benefício”, diz Cruz.
No primeiro momento, no entanto, os resultados indicam que a IA generativa ainda não foi capaz de impactar o mercado de buscas.
Temor é de que Google perca participação de mercado
No segundo trimestre de 2024, a empresa anotou um crescimento de receitas de 13,79% na comparação ao mesmo período do ano anterior. Pelos dados publicados na última terça-feira (29), o crescimento foi de 12,16% frente ao mesmo período de 2023.
“No cenário atual, o que poderia acontecer de ruim é o Google perder margem e participação de mercado – a consequência das duas no valor de mercado seria horrível”, diz Chavez. “O Google já tem números invejáveis, então qualquer coisa que possa passar uma mensagem de que o futuro não vai ser esse, de que o seu auge já passou, será muito mal visto pelo mercado.”
O Itaú BBA calculou um P/L (preço da ação dividido pelo lucro, um indicador de valor de mercado) em 17,5x após a divulgação dos resultados da empresa no dia 29 de outubro. “Acreditamos que a ação não é um investimento atraente, apesar do que muitos chamariam de uma avaliação atrativa”, argumentou Thiago Kapulskis, analista responsável pelo relatório, sob o argumento de riscos para o status quo da companhia.
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