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Modelo de SAF no futebol brasileiro é aprovado por 60% dos torcedores

Jovens e apoiadores de clubes que se tornaram empresas estão entre maiores defensores do modelo de gestão clube-empresa

Iuri Santos

(Foto: Divulgação)
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Torcedores tiveram pouco mais de três anos para avaliar as Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs) no Brasil. A opinião, até agora, é majoritariamente positiva: 60% concordam com a adoção do modelo no futebol brasileiro, segundo pesquisa exclusiva do InfoMoney conduzida pela TM20 Branding e pela Brazil Panels.

“O nível de concordância de 60% é elevado, refletindo uma aceitação de mais da metade ao tema no Brasil”, diz o CEO da TM20 Branding, Eduardo Tomiya. Ele destaca ainda o baixo valor de rejeição ao modelo, de 6,7%.

Quando levadas em conta as sete maiores torcidas do País, com base na pesquisa, o Grêmio é o clube cujos apoiadores mais abraçam a ideia da SAF no futebol brasileiro, com 66,7% de respostas positivas. Vasco e Atlético-MG, dois clubes que adotaram o modelo de sociedade anônima, vêm na sequência, com aprovações de 63,6% e 60,8%, respectivamente.

Bruno Muzzi, CEO do Atlético-MG, acredita que a tendência é que os 40% que não têm opinião ou rejeitam o modelo de SAF aceitem o modelo e entendam seus benefícios com o tempo. “No nosso caso, era a única forma de sermos saudáveis financeiramente e sem depreciar o patrimônio nem deixar de arcar com os compromissos”, disse ao InfoMoney.

A SAF do clube mineiro foi comprada por um grupo de investidores atleticanos. Entre eles Rubens e Rafael Menin, da MRV, o empresário Ricardo Guimarães, e o presidente do Banco Master, Daniel Vorcaro.

“O modelo de gestão de SAFs ainda é relativamente novo no mercado esportivo nacional, e é natural que haja um período de adaptação e aprendizado, mas os resultados mostram que os torcedores estão percebendo os benefícios”, avalia Muzzi.

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Um levantamento do Instituto Brasileiro de Estudos e Desenvolvimento da Sociedade Anônima do Futebol (IBESAF), presidido pelo advogado e coautor da Lei da SAF, Rodrigo Monteiro de Castro, mostra que há hoje 99 SAFs no Brasil, parte dos pouco mais de 700 times com licença para atuar profissionalmente pela CBF no Brasil.

Em entrevista ao InfoMoney, Monteiro de Castro disse acreditar em uma trajetória ascendente de adesão ao modelo, em especial para clubes com menor capacidade de arrecadação. “Os clubes que ainda atuam como associação, estão olhando pro lado ou pra frente, e vendo, na maioria dos casos, outros times ou clubes que tinham menor capacidade de investimento, de competitividade, se colocando num outro patamar”, diz o sócio da Monteiro de Castro, Setoguti Advogados.

Ao serem questionados sobre sua posição quanto ao próprio clube se tornar uma SAF, gremistas foram os que ainda operam em modelo associativo mais favoráveis, com 52,9% assinalando concordar totalmente ou parcialmente. Flamenguistas, corinthianos, palmeirenses e são-paulinos ficam abaixo da média geral de 60% de aprovação ao modelo.

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A pesquisa ouviu 2 mil pessoas das classes A, B, C, D e E entre os dias 6 e 20 de fevereiro. As repostas foram capturadas virtualmente com respondentes das cinco regiões do Brasil.

Migração para SAF é mais rejeitada por palmeirenses e flamenguistas

O torcedor do Palmeiras é o mais resistente à ideia de mudar sua gestão do modelo associativo para o de clube-empresa: 23,5% da torcida discorda totalmente ou parcialmente da migração; na sequência, vem o Flamengo, onde a rejeição é de 18,7%. Segundo o estudo, 37,7% da torcida alviverde concorda em transformar seu clube em uma empresa; entre os rubro-negros, o número é de 44,8%.

Nos últimos anos, Palmeiras e Flamengo protagonizaram as disputas pelos principais títulos no futebol brasileiro e sul-americano. Sob um regime associativo, ambos se tornaram os principais exemplos de gestão de futebol e capacidade de geração de renda — com receitas que extrapolam a casa do R$ 1 bilhão — e elevados investimentos.

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Para Monteiro de Castro, o momento dos clubes e a dinâmica política das associações pode ter influência sobre o resultado. No caso do Flamengo, há uma estrutura política complexa que “acaba, de alguma forma, se expandindo para as bases da torcida”. “É um clube muito grande, se posiciona sempre no topo, tem muito dinheiro, muito acima da média.”

No caso do Palmeiras, a gestão sob a figura de Leila Pereira deu à mandatária poder para tomar decisões ao estilo de uma empresa. “Como está muito bem, como está no topo, eles não veem muito a necessidade de fazer o movimento [para uma SAF]”, afirma o advogado.

São-paulinos vêm na sequência da oposição ao modelo entre clubes que ainda são associações, com 14,4% de respostas negativas. No Corinthians ela é de 11,3% e, no Grêmio, de 10,3%.

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A quantidade de torcedores neutros e que não tem opinião sobre a mudança do tipo jurídico dos seus clubes, no entanto, ainda é alta. Na média geral, 20,5% nem concordam nem discordam com uma alteração, enquanto 15,3% não sabem opinar sobre o tema.

Jovens são maiores apoiadores das SAFs

Entre os entrevistados de 18 a 24 anos, 42,2% concordam totalmente com a adoção do modelo de SAF no Brasil e a aprovação sobe para 67,3% quando considerados aqueles que concordam parcialmente, acima da média geral. Também são eles os que mais concordam quanto à mudança de modelo de gestão de seus próprios clubes para empresas, uma aprovação de 54,6% contra a média de 49,6%.

O grupo de 25 a 34 anos é o segundo que vê com bons olhos a adoção do modelo de SAF no Brasil. Respostas favoráveis somam 65,3% da amostra para esse recorte, em que a rejeição é a mais baixa, de 2,8%.

Pessoas de 56 a 60 anos têm mais objeções quanto à adoção do modelo de SAF no futebol brasileiro, com 8,6% de discordância. Nesse grupo, a aprovação é de 57,6%.

Proposta de alteração da Lei das SAF

O ex-presidente do Senado e autor da Lei da SAF, Rodrigo Pacheco, já propôs no Senado uma alteração no texto original. As mudanças propostas pelo novo projeto de lei buscam deixar mais clara a separação entre o patrimônio das SAFs e dos clubes no momento da cisão, permitir que dívidas sejam convertidas em participação na sociedade e a estruturação de ligas como SAF.

“Olhamos na jurisprudência, vimos onde as arestas surgiram e estamos tentando apará-las, e ficar mais próxima à redação do projeto que foi originalmente apresentado pelo Rodrigo Pacheco”, aponta Monteiro de Castro.

Iuri Santos

Repórter de inovação e negócios no IM Business, do InfoMoney. Graduado em Jornalismo pela Unesp, já passou também pelo E-Investidor, do Estadão.