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Minerva prevê conclusão de negócio de R$ 7,5 bi com a Marfrig em 12 meses e descarta novos M&As no médio prazo

Empresa deverá ficar pelo menos um exercício sem pagar dividendos, mas estima redução rápida de sua alavancagem

Rikardy Tooge

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A Minerva Foods (BEEF3) afirmou nesta terça-feira (29) que espera concluir em até um ano a compra dos 16 ativos da Marfrig (MRFG3) na América do Sul, em um negócio de R$ 7,5 bilhões anunciado na véspera. Diante do esforço de capital para realizar o negócio, a companhia descartou novas aquisições pelos próximos dois anos.

Em teleconferência com analistas, a gestão da Minerva Foods demonstrou confiança de que a compra não deverá ser barrada pelos órgãos antitruste da região. No Brasil, a Minerva levará 11 unidades da concorrente, mais do que dobrando seus frigoríficos no país. Já no Uruguai, a empresa passará de três para seis unidades no país, se consolidando como principal frigorífico no país vizinho.

“Vamos seguir o rito processual em cada país, queremos entregar a documentação o mais rápido possível. Nossa estimativa é que isso não deverá passar de 12 meses para o fechamento”, afirmou Edison Ticle, CFO da Minerva. O executivo estima que, com a aprovação do M&A, a empresa passará a ter um market share de cerca de 35% na América do Sul.

Somente no Brasil, estima-se que cerca de 50% do abate de bovinos com carimbo da fiscalização do Ministério da Agricultura e mais de 50% das exportações ficará entre Minerva e JBS. A concentração em dois players poderia tirar o poder de barganha do produtor rural em um ciclo de preços baixos para a arroba do boi. O tema será avaliado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que dará a palavra final à transação no país.

“Estamos conseguindo uma diversificação geográfica única no mundo – e não é um modelo replicável”, diz Fernando Galletti de Queiroz, CEO da Minerva. O diretor executivo lembrou que esse será o 20º M&A da companhia e aponta que a integração e captura de sinergias deverá ocorrer sem grandes percalços.

Nos cálculos da Minerva, as novas plantas têm potencial de entregar até R$ 400 milhões de fluxo de caixa livre adicional logo de cara, com custos praticamente estáveis, uma vez que as estruturas das operações comerciais e administrativas não virão junto com as unidades. “Isso significa que estamos diluindo em 44% [estimativa do aumento de capacidade de abate] nosso custo fixo”, explica Ticle. Por outro lado, para alcançar a produtividade e margem necessária, a Minerva projeta um capex de R$ 500 milhões a R$ 700 milhões nas novas plantas ao longo de 18 meses.

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Os executivos da Minerva também reforçaram que a empresa não deverá ir às compras pelos próximos dois anos. Em números pro-forma do segundo trimestre deste ano, a alavancagem da empresa estaria em 3,2 vezes a dívida líquida pelo Ebitda, acima das 2,5 vezes considerada ideal pela administração e que permite o pagamento de dividendos.

Edison Ticle projeta que a Minerva fique ao menos um exercício sem pagar proventos até que a alavancagem volte a se estabilizar. “Pelo nosso histórico de M&As, a tendência é de que nossa alavancagem irá se estabilizar ao longo dos próximos 18 meses, a partir da captura de sinergias que irão ocorrer”, explica.

O CFO disse ainda que a empresa estuda eventuais mecanismos de dívida para baratear o custo do empréstimo de R$ 6 bilhões feito junto ao JP Morgan. Emissão de bonds, debêntures, empréstimos sindicalizados são considerados – por outro lado, não há intenção de uma oferta subsequente de ações (“follow-on”) para reforçar o caixa.

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‘Pergunte ao dono’

Do lado vendedor, foram poucas as explicações da Marfrig sobre o negócio. A empresa reforçou o que havia comunicado no dia anterior, de que irá priorizar a oferta de alimentos processados, confiando nos rótulos famosos do grupo, como Sadia e Perdigão. A melhora da estrutura de capital, prevendo a queda da alavancagem de 3,5 vezes a relação dívida líquida Ebitda para menos de 3 vezes também foi lembrada.

Segundo cálculos da administração da Marfrig, com a nova formatação do negócio, centrado em alimentos processados e abrindo mão da proteína in natura, a empresa passará a entregar 35% do volume que era produzido na estrutura anterior. Com o crescimento orgânico previsto em seu plano de investimentos, reforçado pelos R$ 7,5 bilhões do M&A, a Marfrig espera que esse volume alcance 50% da operação antiga, com o diferencial de agora serem apenas produtos de maior valor agregado.

A saída da Marfrig do mercado in natura é vista pelo mercado como mais um passo para que a empresa e a BRF possam unir suas operações no futuro. O motivo é que o fundo Salic, acionista da BRF e da Minerva, não poderia autorizar uma fusão das companhias pelo fato da Marfrig ser concorrente direta da Minerva. Com o deal, teoricamente, abriria-se um caminho para que a consolidação ocorresse.

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Ao ser questionado, o CEO da Marfrig, Rui Mendonça Junior, sugeriu ao analista que entrasse em contato com o fundador da empresa. “Com certeza esse é um assunto [consolidação] que passa pelo conselho. Sugiro que você procure o Marcos [Molina, fundador e chairman da Marfrig e da BRF], pois ele não está aqui neste momento”, esclareceu Mendonça Junior.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br