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Como o mercado livre de energia fomenta novas tecnologias no setor elétrico

IA generativa e blockchain são ferramentas que começam a ser adotadas por comercializadoras

Gabriela Ruddy Agência Eixos

Negociar a venda de energia elétrica de acordo com o perfil de consumo do cliente, oferecer estimativas de economia por meio de mensagens virtuais e ter um “carimbo” digital que comprova que o elétron consumido veio de uma fonte limpa. São novas soluções disponíveis no setor elétrico brasileiro a partir da ampliação do mercado livre de energia, que se tornou uma alavanca para novas tecnologias no país.

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Isso ocorre porque no ambiente de contratação livre o cliente pode escolher o supridor da energia, assim, os dados de consumo estão deixando de ficar centralizados nas mãos das distribuidoras e podem ser usados para fomentar novas soluções.

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No mercado livre, os consumidores podem contratar a energia diretamente do gerador ou de um comercializador. A partir do começo de 2024, todos os grandes consumidores, na rede de alta tensão, passaram a ter essa opção. A expectativa é que a partir da próxima década esse mercado esteja aberto também para o clientes de baixa tensão, incluindo os residenciais.

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Usina hidrelétrica de Itaipu. Crédito: Getty Images

Recentemente popularizada por causa da ferramenta ChatGPT, a inteligência artificial generativa, por exemplo, tem ganhado espaço no mercado de energia. Sistemas de inteligência artificial são capazes de aprimorar o desempenho das tarefas que executam conforme as executam, por meio do processamento de dados em operações matemáticas. No caso da inteligência artificial generativa, é possível gerar novas informações a partir dos dados recebidos.

Inteligência artificial e blockchain

O uso de chatbots, ou seja, chats de resposta automáticas para dúvidas dos clientes já é uma realidade no setor. Outro exemplo é uma ferramenta que envia por mensagem de Whatsapp uma oferta para que o potencial cliente envie as faturas de energia recentes e receba em seguida o cálculo de qual seria a economia caso migrasse para o mercado livre. A partir da análise dos dados de consumo, a aplicação oferece uma proposta de contrato, sem necessidade de contato humano.

A partir dos dados do mercado livre, também começam a surgir no Brasil projetos de pesquisa e desenvolvimento para separar os consumidores em perfis e identificar os diferentes comportamentos de consumo.

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Foi isso que permitiu a venda de energia pré-paga em outros países, como na Inglaterra. Com os dados do estilo de consumo, sistemas de inteligência artificial identificam, por exemplo, clientes que consomem mais energia à noite ou pela manhã e oferecem contratos que permitem o uso de um determinado volume por horário. 

Crédito: Getty Images

“Aqui no Brasil isso ainda está nascendo, em função da abertura de mercado”, diz João Santos, especialista em soluções digitais do Sidi, instituto de ciência e tecnologia focado em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I).

Uma preocupação de grande parte dos clientes que optam por escolher o fornecedor de energia é garantir que a geração ocorra a partir de fontes renováveis. Para isso, tem sido adotada a tecnologia blockchain, que gera tokens que garantem que aquele elétron consumido corresponde a uma geração a partir de fonte limpa, por exemplo.

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O blockchain é uma tecnologia que cria um registro único, imutável e auditável de uma transação, sem necessidade de uma entidade intermediária. A solução é a mesma por trás de criptomoedas, como o bitcoin.

“São tecnologias de suporte para dar transparência no mercado”, afirma o chief technology officer (CTO) da Radix, Geraldo Rochocz.

Realidade do Brasil é complexa

O executivo ressalta, no entanto, que algumas ferramentas digitais presentes em outros países que já viveram a abertura do mercado podem ser mais complexas no Brasil. Uma das grandes peculiaridades do mercado brasilerio é a alta integração da rede nacional, por meio do Sistema Interligado Nacional (SIN).

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“Você consegue produzir praticamente em qualquer lugar do país e vender praticamente em qualquer outro lugar. Há muita liberdade e é um país gigantesco. Existem desafios muito peculiares da realidade brasileira”, diz Rochoz.

Do lado dos vendedores da energia, um grande desafio do mercado livre é que a tarifa é negociada por meio do preço de liquidação das diferenças (PLD), que varia. No Brasil, esses preços têm fortes impactos do clima, por causa da alta participação das fontes hidrelétrica, solar e eólica no sistema.

Nesse cenário, é mais difícil fechar contratos de médio a longo prazo. Por isso, para os comercializadores é importante usar sistemas que ajudam na previsão das condições climáticas e de cenários de preços.

“O quanto vale a pena você ser mais agressivo ou menos agressivo em termos de preço? Para isso, as empresas vão precisar de muita informação na tomada de decisão. É algo que é do ambiente negocial, não é uma tecnologia do setor elétrico, mas embute ali dentro uma matemática bastante complexa de tomada de decisão, de planejamento”, explica Rochocz.

A inteligência artificial também está sendo usada para auxiliar comercializadores a refinar negociações e customizar contratos, para tornar as abordagens de mercado mais assertivas.

“Faz sentido vender energia naquele horário? Ou será que mais tarde essa energia vai estar num valor que vai trazer mais recursos financeiros? É possível utilizar a inteligência artificial para isso também”, afirma o pesquisador do Sidi.

Nesse cenário, um dos desafios é avançar com as políticas de governança e de proteção de dados e segurança cibernética, para evitar vazamentos e o mau uso dos dados dos consumidores.

“A minha preocupação, e o que eu sinto falta em muitos casos, é de uma governança melhor da utilização dessas ferramentas. Ter políticas, diretrizes, determinar quais ferramentas podem ser utilizadas, como você vai administrar melhor os dados que você vai obter dos clientes”, afirma o sócio de energia da consultoria PwC, Adriano Correia.

Ele lembra que nesse cenário é importante a valorização do papel dos reguladores, sobretudo da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). 

“É necessário fortalecer mais as agências, qualificá-las em termos de tecnologia, de ferramentas, para que elas possam exercer o seu papel”, acrescenta.

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