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No último dia 13, a irlandesa Flutter, gigante global do mercado de apostas, anunciou a aquisição de 56% da NSX, dona das marcas Betnacional, Betpix, Pagbet e MrJack.bet, e um dos principais players brasileiros do setor. Esse deve ser o pontapé inicial de uma consolidação no setor de apostas no país, em vias de ser regulamentado.
De olho na expansão de carteira, as maiores donas de sites de apostas esportivas têm apetite para seguir o ritmo de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) nos próximos meses, segundo fontes envolvidas em negociações no setor ouvidas pelo InfoMoney.
A própria união entre Betnacional e Betfair, marca da Flutter no Brasil, gera uma das maiores participações de mercado do setor – segundo projeta a Flutter, de 12% de market share. Companhias como PixBet, Betano e Esportes da Sorte também estão no topo do mercado.
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Tomado por mais de 2 mil sites de apostas esportivas, o mercado brasileiro deve se concentrar já pelo próprio efeito da regulamentação.
No último dia 17, o Ministério da Fazenda determinou em portaria que as apostas que não houvessem pedido autorização à pasta teriam suas operações encerradas em outubro.
Ainda que todas as 149 casas de apostas que protocolaram pedidos de autorização consigam suas outorgas, pelo limite de três marcas por CNPJ, a quantidade de sites não deve ultrapassar 500. Nesta segunda-feira (30), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, informou que entre 500 e 600 sites devem ser banidos do Brasil nos próximos dias.
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As carteiras de clientes que já estão estabelecidas nas apostas regulares devem atrair o interesse de investidores estrangeiros ou negociações no mercado local. “Por mais que esses investidores já estivessem atuando no mercado brasileiro, ainda havia um limitador pela falta de segurança jurídica. Isso deve mudar a partir de agora”, diz Raphael Paçó, especialista em direito desportivo e mercado de bets e sócio da CCLA Advogados. A partir de 2025, o mercado de apostas passa a atuar completamente regulamentado no Brasil.
Questionada pelo InfoMoney, a própria Flutter deixou em aberto a possibilidade de novos investimentos no mercado brasileiro. Ainda que diga estar focada “apenas nas aprovações regulatórias e de concorrência necessárias para o negócio da NSX por enquanto”, “claramente a transação proposta é indicativo do potencial de crescimento futuro que vemos no atrativo mercado brasileiro”.
Segundo a empresa, os trâmites da aquisição só devem ser concluídos no segundo trimestre de 2025. O contrato tem um mecanismo que permite à Flutter aumentar sua participação acionária no quinto e no décimo ano após a aquisição.
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“Pretendemos adotar uma estratégia de múltiplas marcas no Brasil, assim como fazemos em mercados como o Reino Unido, Irlanda e Itália”, disse a companhia em nota. “É cedo demais para comentar sobre a estrutura do negócio no Brasil”, respondeu ao ser questionada sobre como tratará a questão de marcas – como Betfair e Betnacional.
Investimentos
Segundo a regulamentação, casas de apostas online deverão pagar um imposto de 12% sobre o GGR, métrica usada para calcular a receita bruta, além de encargos como contribuição social. Soma-se a isso custos operacionais com adequações à legislação, que determina, por exemplo, adoção de tecnologia de reconhecimento facial e consulta de cadastro para os usuários.
“Trabalhar no mercado regulado não é barato e eu vejo isso pela nossa experiência no mercado regulado de pagamento”, diz o gerente brasileiro da OKTO, empresa de pagamentos com forte atuação em bets, Leonardo Chaves. “Tem que ser uma empresa muito organizada e muito bem estruturada para trabalhar com esses níveis de custos, com margens mais reduzidas. Com isso acabam havendo oportunidades de M&As”, afirma.
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A própria Flutter avalia que deve operar com um EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) negativo entre US$ 90 e US$ 100 milhões em 2025, fruto dos investimentos na operação brasileira.
A principal linha de investimento das empresas em atuação hoje é o marketing. Segundo um estudo do Itaú, o orçamento total do setor de apostas com ações desse tipo no Brasil varia entre R$ 5,8 bilhões e R$ 8,8 bilhões. Como um dos efeitos mais emblemáticos, quase todos os clubes da Série A do futebol brasileiro têm contratos com casas de apostas, que somam R$ 560 milhões.
“Até agora, um dos principais combustíveis para o crescimento deste mercado foi o investimento em marketing. A regulamentação pode levar a mudanças nesses gastos”, avalia Magnho José, presidente do Instituto Brasileiro Jogo Legal. Em sua avaliação, os novos custos podem comprimir os repasses a publicidade.
Um executivo de um clube da Série A do futebol brasileiro ouvido pelo InfoMoney avalia que o primeiro efeito do mercado regulamentado deve ser até o aumento dos cheques de patrocínio para o futebol. Em um segundo momento, com o estabelecimento do mercado, pode haver uma equalização e reestruturação dos aportes nessa linha, disse essa fonte.
Nas últimas semanas, tem aumentado a preocupação de políticos e setores econômicos quanto ao impacto das bets no Brasil. De acordo com o Banco Central, 5 milhões de pessoas pertencentes a famílias beneficiárias do Bolsa Família enviaram R$ 3 bilhões para empresas de apostas via Pix. No setor de consumo, varejistas aumentam a pressão por restrições dos sites de jogos de azar.
Outro perfil
Entre os países com maior mercado endereçável do mundo, o Brasil era um dos poucos em que não havia uma regulamentação para apostas online. No cenário internacional, experiências de regulamentação amadurecidas levaram a processos de consolidação em que há um peso maior na aquisição de tecnologias como carteiras digitais e sistemas de transação, e não apenas na aquisição de carteira.
O aspecto tecnológico é, inclusive, algo que dificulta alguns processos de fusões e aquisições. Hoje, muitos dos sites de apostas utilizam o mesmo fornecedor de tecnologia – o que leva a plataformas praticamente idênticas.
Mas empresas como a Big Brazil, licenciada responsável por trazer o grupo Caesars Entertainment, gigante dos cassinos de Las Vegas, ainda não estão interessadas em movimentos de M&A justamente por utilizar tecnologia proprietária do grupo. “Nossa plataforma tem certificações internacionais, garante credibilidade contra fraude, contra ataques de hackers e uma série de coisas que nem nos permite comprar um outro site”, diz André Feldman, presidente da Big Brazil.
Outro elemento que afasta uma possibilidade de aquisições no primeiro momento é a questão de conformidade. A empresa é uma das que vão aguardar até 2025 para atuar no Brasil, apenas quando o mercado estiver completamente regulamentado. Para o grupo Caesars, listado na Nasdaq, atuar na atual zona cinzenta regulatória não seria nem uma possibilidade.
“Nossa visão é mais ampla que ser apenas uma plataforma de jogos. Um grupo que fatura mais de US$ 11 bilhões no mundo, listado na Bolsa de Nova York, todos os compliances que isso exige”, conta Paulo Morais, ex-CEO da Espaçolaser e amigo de longa data de Feldman que se associou à Big Brazil.
A expectativa é de que a Big Brazil – pela marca Caesars Sportsbook – tenha um posicionamento diferente do que se mostrou até aqui no mercado de apostas brasileiro. Será uma empresa de perfil premium, baseado na força da consolidada marca de hotéis e cassinos dos Estados Unidos e seus jogos exclusivos.
Reflexo disso é a posição da empresa em marketing: por enquanto, o grupo Caesars não pretende se aproximar do futebol por meio de patrocínios, como fizeram as principais marcas do setor em atuação. Paulo Morais, pai de um atleta de esgrima profissional, imagina que a relação com o Grupo Caesars agora possa ampliar plataformas de apoio a modalidades olímpicas e paralímpicas às quais já se associou por meio de sua empresa de investimentos, PG&MP, e na própria Espaçolaser.
Embora não tenha começado a disponibilizar seus jogos online, a Big Brazil já está estruturando a operação para começar 2025 funcionando. Sediada em Americana (SP), em setembro devem ser 28 pessoas trabalhando no escritório. Para 2025, a expectativa é ter 70 funcionários na operação.
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