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Menor oferta de açúcar da Índia reforça supremacia do Brasil no mercado mundial

Analistas preveem investimentos em expansões e novas unidades no país

Fernando Lopes

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A decisão da Índia de suspender as exportações de açúcar melhora ainda mais um cenário já altamente promissor para a indústria sucroalcooleira do Brasil. O mercado já vinha operando com essa possibilidade há meses. Essa expectativa não só vinha dando sustentação aos preços do açúcar como colaborou para que as empresas sucroalcooleiras do Centro-Sul do país decidissem privilegiar a produção da commodity nesta safra 2023/24. O impacto agora deve vir sobretudo no médio e longo prazos.

No curto prazo, a margem de manobra das usinas para capturar ganhos ainda maiores com a medida indiana é pequena. Em primeiro lugar porque, em geral, o “mix” de produção já estava mais voltado ao açúcar do que ao etanol desde o início da temporada atual, em abril, justamente porque o produto vinha oferecendo remunerações melhores. Mas também porque grande parte da produção de açúcar prevista para esta temporada já tem seus preços fixados e hedgeados.

“Todo mundo está produzindo o máximo de açúcar que pode”, afirmou Felipe Vicchiato, CFO e diretor de Relações com Investidores da São Martinho, uma das maiores companhias do segmento no Brasil.  Em 2023/24, a empresa projeta que conseguirá processar 21,5 milhões de toneladas de cana em suas usinas, 7,4% mais que no ciclo 2022/23. A produção de açúcar tende a crescer 14,4%, para 1,38 milhão de toneladas, e a de etanol deverá aumentar 5,1%, para 944,9 mil metros cúbicos.

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Colheita de cana em área da Raízen: safra 2023/24 será mais “açucareira”

Em 30 de junho, o volume de açúcar hedgeado que a empresa prevê comercializar em 2023/24 chegava a 630,1 mil toneladas, a um preço médio de 21,11 centavos de dólar por libra-peso. O volume hedgeado para a próxima safra (2024/25), que terá início em abril do ano que vem, ainda era pequeno (30,4 mil toneladas), mas o preço médio (23,92 centavos de dólar por libra-peso), mais elevado, já refletia o cenário de redução da oferta da Índia.

Na quarta-feira, por causa das notícias sobre a suspensão temporária das exportações indianas a partir de outubro, quando começará a próxima safra naquele país, os contratos futuros de segunda posição de entrega do açúcar subiram quase 2% na bolsa de Nova York e fecharam a 24,18 centavos de dólar por libra-peso. Ontem houve nova alta, de 1,84%, para 24,29 cents, apenas 1,5% acima do preço médio do açúcar de 2024/25 já hedgeado pela São Martinho

As ações da companhia subiram 7,6% na B3 na quarta-feira, com a confirmação da suspensão das vendas da Índia ao exterior. E ontem houve nova alta, de 0,83%. Mas Vicchiato disse que não é o caso de mudar a estratégia de vendas da São Martinho para a próxima temporada em função dos ecos de Nova Déli, que já vinham sendo ouvidos e considerados.

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Também registraram altas na quarta-feira e na quinta-feira na B3 as ações da Raízen (2,6% e 3,32%, respectivamente), maior empresa do segmento, que tem previsão de moagem de pelo menos 80 milhões de toneladas de cana em 2023/24 – com mix de produção mais “açucareiro” –, e da Jalles (5,2% na quarta-feira e 4,13% ontem).

Em recente entrevista ao IM Business, Rodrigo Penna de Siqueira, CFO da Jalles, maior companhia sucroalcooleira do Centro-Oeste e líder nas exportações brasileiras de açúcar orgânico, afirmou que as duas usinas da empresa em Goiás estavam produzindo o máximo de açúcar possível, e que a companhia vai investir R$ 170 milhões em uma fábrica de açúcar na Usina Santa Vitória, em Minas Gerais, adquirida no ano passado e que até agora fabrica apenas etanol.

“O cenário favorável ao açúcar deve estimular novos investimentos em expansão de capacidade e mesmo na construção de novas usinas”, disse Annelise Izumi, analista do Itaú BBA. Ela reforçou que, com os planos da Índia em ampliar a mistura de etanol na gasolina vendida no país, e os problemas climáticos que tendem a reduzir a safra canavieira do país, que levaram à suspensão das exportações de açúcar (por causa do temor de reflexos inflacionários), o quadro global de oferta e demanda tende a ficar ainda mais apertado.

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Nos cálculos do Itaú BBA, na safra internacional 2023/24 (de outubro deste ano a setembro do próximo) a Índia deverá produzir 31,7 milhões de toneladas de açúcar, 3,4% menos que em 2022/23. No Brasil, o crescimento está estimado em 10,1%, para 40,5 milhões de toneladas, e na Tailândia, outro grande exportador, a tendência é de estabilidade em torno de 11,4 milhões de toneladas. No total, a produção mundial deverá chegar a 192,4 milhões de toneladas. Brasil, Índia e Tailândia lideraram as exportações de açúcar nas últimas safras.

Com o forte avanço brasileiro, o banco ainda trabalha com previsão de superávit global de 2,1 milhões de toneladas em 2023/24, após quatro temporadas de déficit. Mas sem novos investimentos na ampliação da oferta, os sinais são que em 2024/25 a demanda poderá voltar a superar a oferta. “A demanda mundial tem crescido cerca de 2 milhões de toneladas por safra”, observou.

Leonardo Alencar, analista da XP Investimentos, também acredita que, embora o aumento da produção esteja sendo forte no Brasil nesta safra, o que compensa a queda da oferta da Índia, o ambiente está propício para novos investimentos. Os preços podem até não ter subido muito após as notícias de Nova Déli, em boa medida já precificadas, mas as curvas de preços futuros são de alta.

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Fernando Lopes

Cobriu o setor de energia e foi editor do semanário Gazeta Mercantil Latino-Americana até 2000. Foi editor de Agro no Valor Econômico até fevereiro de 2023