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Maurício Tolmasquim: “O futuro da Petrobras passa por sua transformação em uma empresa de energia”

Diretor de transição energética aponta prioridades para os próximos anos da gigante petroleira brasileira, que irá investir US$ 11,5 bilhões em projetos de baixo carbono até 2028

Felipe Mendes

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Sob nova gestão desde o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a Petrobras não nega que seu futuro passa pelos investimentos nas chamadas fontes de energia renováveis. Seu plano estratégico de investimentos para o quinquênio 2024-2028 prevê um desembolso de US$ 102 bilhões, sendo US$ 11,5 bilhões para projetos de baixo carbono. O volume destinado ao desenvolvimento de projetos em energias limpas, mais que o dobro em relação ao período anterior, demandou muitos esforços de Maurício Tolmasquim, diretor executivo de transição energética e sustentabilidade da Petrobras, que teve de encontrar um meio termo para atender simultaneamente aos anseios de ambientalistas, acionistas e conselheiros.

“Sem dúvidas, alocar um recurso expressivo de Capex para transição energética exigiu argumentação e mostrar que existe materialidade e que esses projetos podem ser rentáveis”, afirma Tolmasquim ao IM Business. “Eu acredito que ficamos em um nível adequado. A Petrobras tem que se reinventar para um futuro em que o mundo vai demandar menos petróleo. Essa é a nossa missão na diretoria de transição energética. O longo prazo da Petrobras passa pela sua transformação de uma empresa petrolífera em uma empresa de energia.”

A inclusão da transição energética na estratégia de investimentos da empresa foi vista como uma forma de estimular a adoção das fontes renováveis no país. Espera-se que a Petrobras com seu aporte multibilionário seja um catalisador para o desenvolvimento de novos mercados, ancorando a demanda, por exemplo, por biocombustíveis. “O grosso dos recursos agora vai para eólica e solar onshore, porque elas têm mais materialidade no momento, mais retorno”, diz Tolmasquim. A primeira missão da companhia é derrubar a “quase zero” as emissões de metano. “Se você considerar um período de 100 anos, o metano aquece 28 vezes mais o planeta do que uma molécula de CO2.”

A petroleira já é líder mundial no mercado de captura, uso e armazenamento geológico de CO2 (CCUS, na sigla em inglês). Em 2022, a companhia reinjetou 10,6 milhões de toneladas de CO2 nos reservatórios do pré-sal, volume que equivale a 25% do total reinjetado pela indústria global naquele período, segundo o Global CCS Institute. Hoje, as mais de 20 plataformas que operam nos campos do pré-sal são equipadas com CCUS. “Nós não estamos construindo esses projetos sozinhos. Estamos fazendo parcerias com grandes empresas que talvez não fossem investir sozinhas nisso, mas com um parceiro como a Petrobras acabam resolvendo entrar”, complementa Tolmasquim. “Para você estabelecer um novo mercado, é preciso ter alguém que saia na frente ofertando. Ao fazer isso, você acaba trazendo outros investidores também.”

O executivo da companhia também destaca os investimentos da petroleira no mercado de biocombustíveis para a aviação e para o transporte marítimo. A Petrobras prevê a construção de plantas dedicadas ao SAF, o combustível sustentável da aviação, mercado que deve se abrir em 2027, quando as companhias aéreas deverão reduzir as emissões de CO2 em, no mínimo, 1%. “A gente tem investimentos planejados para a produção de SAF na Refinaria Presidente Bernardes, a RPBC, em Cubatão (SP). Também estamos com a meta de fazer uma segunda unidade no GasLub usando essa mesma tecnologia. Eu acho que esse será um mercado enorme que está se abrindo para a Petrobras”, afirma Tolmasquim. “O SAF vai virar uma commodity quando as empresas começarem a usá-lo em 2027. É um mercado potencial importante para nós.”

Outra frente que a Petrobras deve explorar com intuito de conquistar a liderança de mercado, segundo Tolmasquim, é a produção de hidrogênio verde. Maior produtora e consumidora de hidrogênio cinza atualmente no Brasil, a empresa estima que há a possibilidade de acelerar a descarbonização de suas atividades de refino nos próximos anos e que o hidrogênio verde se tornará uma matéria-prima mais barata com a adoção pelo mercado. “Existem estudos que indicam que em 2030 o hidrogênio verde produzido no Brasil vai ser mais barato do que o cinza, que é produzido a partir de fontes fósseis”, aponta Tolmasquim. “A nossa ideia é usar essas plantas que estão sendo construídas, eólica e solar onshore, para ajudar a nossa produção de hidrogênio verde”. Recentemente, a empresa assinou um protocolo de intenções em parceria com a Vale de olho no desenvolvimento de soluções de baixo carbono, como hidrogênio, metanol verde, biobunker, amônia verde e diesel renovável.

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O executivo admite que o nível de investimento empregado pela companhia para transição energética (11% do orçamento) é menor quando comparado com a média realizada pelas grandes companhias europeias, na faixa de 25%, mas que o movimento da petroleira também será um catalisador para novos entrantes, uma vez que a empresa frequentemente recebe convite para participar de projetos com outras companhias. “A gente também pode olhar esse investimento em transição energética como uma espécie de hedge tanto para um futuro, que vai ser diferente em termos de produção de petróleo, como para momentos de possível baixa do óleo no presente”, complementa.