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Mais de dez estúdios de gravação e vídeo, depósitos, salas de reunião, blocos administrativos e até churrasqueira com piscina: é difícil não notar a produtora GR6 em quarteirão da Vila Guilherme, na Zona Norte de São Paulo. Por trás de grandes muros e portões nos dois lados da rua, cerca de 120 pessoas trabalham na frenética produção de artistas do funk paulista.
Em um modelo que batizou de fast music, a produtora vai da ideia de uma música até sua publicação nas plataformas de streaming em um período próximo a um dia. Daí o motivo de toda a estrutura. Com poucos passos pelos anexos da GR6, um artista – e os produtores – conseguem resolver todos trâmites criativos, jurídicos e financeiros para fazer a roda girar.
“Muitas vezes acontece de fazermos uma reunião aqui às 10h da manhã de uma quinta-feira e no dia seguinte já estarmos gravando o clipe. Terminamos de gravar o artista na madrugada, às 11h da sexta-feira a música já está pronta e às 14h já estamos gravando o clipe no nosso estúdio aqui ao lado”, conta o diretor da GR6, André Morrissy. O resultado dessa “produção fordista” é uma média de 40 músicas e 15 videoclipes lançados por semana.
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A inspiração veio do fast fashion, termo popularizado pelo jornal The New York Times para descrever varejistas de moda com desenvolvimento rápido de coleções, como a Zara. É a fórmula por trás de sensações do gênero como os MCs Hariel, Livinho, Don Juan, Pedrinho ou Binn (antes, Bin Laden).
Um modelo adaptado ao streaming
No Brasil, onde o streaming corresponde a 99% do total da receita com vendas de músicas, a GR6 registrou 6 bilhões de transmissões em 2023. É uma fonte de receita relevante, de aproximadamente 50% na linha de produção musical (a outra metade vem da produção de shows e eventos) – mas desafiadora.
Em 2023, mercados emergentes – como a América Latina – representaram 50% das novas inscrições em serviços de streaming, aponta o estudo “Music in the Air”, do banco Goldman Sachs. Até 2030, essa participação deve chegar a 70%. A avaliação é de que o futuro da indústria, desde a dinâmica de distribuição de royalties às prioridades de alocação de capital, passe por esses mercados.
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A receita média por cliente nos streamings, no entanto, é baixa. As projeções do Goldman Sachs sugerem que a contribuição de mercados emergentes em assinaturas pagas deve chegar apenas a 22% em 2030. Além do mais, os repasses das grandes plataformas também são menores. “A receita proveniente das plataformas digitais ainda é baixa em comparação a países desenvolvidos. Acredito que com o tempo isso irá melhorar. Temos trabalhado para isso”, diz Morrissy.
O volume de clientes que pagam por serviços de streaming em mercados emergentes ainda está em 7%, contra 33% nos desenvolvidos. O binômio de assinaturas e publicidade (no caso dos streamings gratuitos) determina a remuneração repassada a artistas – e os planos por assinatura têm maior influência no pagamento final.
“Por isso, nos voltamos a uma produção em massa, com constância, apostando no volume”
Em julho, alguns dos 120 artistas produzidos pela companhia dominaram o top 200 do Spotify (S1PO34): foram 40 artistas da GR6 no “Top Charts”, análise mensal da gigante do streaming que ganhou relevância entre os engravatados do setor da música. “Let’s Go 4”, com alguns dos principais nomes da casa, bateu o recorde de 86 dias no top 1 da plataforma.
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Cerca de 15 dos principais artistas da produtora têm parcerias com as majors, incumbentes do setor musical como Sony, Warner, Universal e Som Livre. Essas empresas conseguem desembolsar valores maiores para produções e campanhas – nos últimos cinco anos, o relacionamento rendeu R$ 200 milhões em contratos –, embora muitas vezes a própria GR6 fique encarregada de boa parte do processo.
“Ninguém melhor que alguém próximo, aqui da quebrada, para conhecer o funcionamento e o consumo do funk. O dia a dia aqui faz muita diferença”, conta Morrissy. Em um dia normal na GR6, artistas se reúnem à beira da piscina para um churrasco, de onde boa parte das ideias de feats e contribuições surgem – estúdios abertos 24 horas por dia e técnicos e executivos ficam sempre prontos para colocar o som na pista.
A polêmica da vez
Mesmo identificada com a quebrada, a GR6 se viu no centro de um debate sobre as eleições municipais que “rachou” o funk de São Paulo. Uma parceria entre a gravadora e a prefeitura paulistana – com a participação de artistas na inauguração de quadras esportivas reformadas pela gestão de Ricardo Nunes (MDB), em fevereiro – foi resgatada e voltou a atrair críticas. Na ocasião, Rodrigo Oliveira, fundador da empresa, publicou foto junto ao candidato em seu perfil próprio – e no da gravadora.
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O assunto voltou à tona porque Henrique Viana – empresário por trás de outra gravadora, a Love Funk – postou foto sua posando ao lado de Pablo Marçal (PRTB) com uma carteira de trabalho em mãos – pouco após protagonizar um confronto em debate junto a Guilherme Boulos (PSOL) envolvendo o documento. Apoiadores de Marçal aproveitaram a oportunidade para divulgar vídeo de MC Ryan, da GR6, abraçando o influencer e se declarando um fã.
Outros artistas da gravadora, como MC Hariel, criticaram posturas de apoio a políticos no meio, com grande penetração nas periferias. Nomes do rap como Mano Brown, sem associação com a gravadora, também se manifestaram.
Questionada pelo InfoMoney, a empresa afirmou respeitar a opinião individual de seus executivos, colaboradores e artistas e diz que, como empresa, não vai tomar partido na eleição em nenhuma cidade do Brasil.
Parceria com marcas
Nos últimos anos, a GR6 tem buscado diversificação, de olho no crescente interesse de marcas por penetração no gigante mercado consumidor da música urbana. Uma unidade de negócio dedicada a patrocínios começa a ganhar tração e movimentou R$ 10 milhões no primeiro semestre de 2024.
Campanhas bem sucedidas como a feita com a Lacoste, cujos artigos se tornaram item de desejo nos guarda-roupas dos consumidores de funk nas periferias, gabaritaram a GR6 junto às agências de publicidade. Algumas lojas da marca de emblemáticas camisas polo trocaram suas fachadas para “Lalá”, apelido que passou a fazer parte de alguns funks.
Um contrato com a Versace está encaminhando para um fechamento e marcas como Ipiranga, Ruffles, Heineken, Vivo e Itaú já fizeram ações junto à produtora. “É inegável que o funk gera muito movimento. A audiência é muito alta e essas marcas estão cada vez mais buscando pelas produtoras e artistas que geram esses números”, diz Morrissy.
Embora não revele o faturamento anual, a batida de crescimento da empresa está alinhada ao mercado, de pouco mais de 16% ao ano.
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