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O Magazine Luiza está otimista com o ciclo “virtuoso” de queda de juros que começou na semana passada, com a primeira redução da Selic em três anos, e vê um ponto de inflexão no cenário atual: “A gente acha que a inadimplência já atingiu o pico e começa a cair”, afirma Roberto Bellissimo, CFO do Magalu.
A ansiedade em relação ao início do ciclo de redução de juros era grande, admitiu Bellissimo ao IM Business. Taxa menor permite maior concessão de crédito pela Luizacred, a financeira da companhia — o que impulsiona as vendas —, e diminui a inadimplência.
O executivo compara o momento atual ao ciclo de queda anterior, quando a Selic saiu de 14,25% ao ano em 2016 e foi até 2% em 2020, no começo da pandemia. “De 2015, 2016 até 2020 passamos por 5 a 6 anos de CDI e inflação caindo — e a gente crescendo. De fato acreditamos que vai ter uma tendência de crescimento muito acelerado, de pelo menos mais 5 a 6 anos de crescimento acelerado”.
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O cenário do executivo contempla um crescimento de três pontos percentuais nas vendas a cada um ponto de queda na Selic. “Se cair de 14% para 7%, devemos ter um crescimento de 20% nas vendas”, estima o executivo, que concedeu a entrevista junto com o CEO da fintech Magalu, Carlos Mauad, antes de a empresa entrar em período de silêncio por causa da divulgação do balanço do segundo trimestre.
O efeito mais imediato do alívio monetário deve ser sentido no custo financeiro da empresa. Nas contas de Bellissimo, o Magalu pode ter uma economia de R$ 1 bilhão a R$ 1,5 bilhão por ano com a redução dos juros para patamares “normalizados” (uma taxa perto de 7%). Essa economia viria pelo menor custo do carregamento da dívida (R$ 1 bilhão) e pela redução da despesa financeira da Luizacred (mais R$ 500 milhões).
Hoje, no entanto, o consenso de mercado aponta para um cenário um pouco mais conservador para a política monetária. A mediana das projeções colhidas pelo Relatório Focus, do Banco Central, é de uma Selic de 11,25% no fim deste ano e de 9% em 2024. Se o corte for menos agressivo, como estima o mercado, o CFO diz que a economia seria de R$ 1 bilhão.
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Desafios no curto prazo
O efeito negativo do juro sobre a companhia é um dos principais fatores a serem observados pelos analistas que irão ler o balanço da Magazine Luíza na segunda-feira (14). A geração de fluxo de caixa, pressionada por margens mais baixas, as altas despesas financeiras atuais e o patamar de investimentos da companhia estão entre os pontos mais desafiadores no curto prazo. A visão desses especialistas é de que a companhia fez pesados investimentos durante a pandemia, mas esses gastos ainda não se reverteram em margens melhores para o negócio.
O Bradesco BBI aponta em relatório o alto endividamento e as vendas dependentes de crédito como pontos detratores para a empresa, mas ressalta que ela (junto com a Via, dona das Casas Bahia) “devem ser as principais beneficiárias dos cortes mais cedo nas taxas de juros”. Já o Itaú BBA vê “um longo caminho pela frente” para o Magalu e “alguma pressão sobre a lucratividade, principalmente por causa de uma margem bruta apertada” (ela ficou em 27,3% no 1T23, o menor patamar desde o 4T21).
Nathalia Maximo, analista de renda fixa da XP Asset, diz que a companhia está mais endividada devido aos pesados investimentos na pandemia, mas tem caixa para quitar seus compromissos até 2025 e não deve enfrentar dificuldades no curto prazo. Ela pondera que “a empresa vem de um trabalho de diminuir estoques e antecipar recebíveis, para melhorar o caixa, mas precisa controlar os investimentos e o capital de giro, para evitar a necessidade de um refinanciamento”.
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Impacto (negativo e positivo) dos juros
O varejo é um setor de margens apertadas e as empresas geralmente operam alavancadas, daí o impacto dos juros nos balanços. A despesa financeira do Magalu foi de R$ 2 bilhões em 2022 (com um CDI médio de 12,3%) e de R$ 632 milhões no primeiro trimestre deste ano (com um CDI médio de 13,8%), o que consumiu respectivamente 5,5% e 7,0% da receita líquida. Na Luizacred, que faz parte da fintech Magalu, a despesa financeira foi de R$ 633 milhões no ano passado (25% de toda a receita).
Isso apesar de o carregamento da dívida do Magazine Luiza ser considerado baixo (CDI+1,25%). Para efeito de comparação, o custo da dívida da Via é CDI+2,10% e representou mais de 11% da receita líquida no trimestre passado.
Mas, ao mesmo tempo em que o varejo é um dos setores mais prejudicados quando há um ciclo de alta de juros — e quando as taxas permanecem em patamares elevados —, ele é duplamente beneficiado quando o movimento se inverte. Na descida, há um alívio não só nas despesas financeiras da empresa (e de seus braços de empréstimo), mas também na inadimplência dos consumidores, no consumo das famílias e na concessão de crédito.
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“Assim como é muito difícil administrar esse período de alta do CDI, a descida também é muito virtuosa”, afirma Mauad, CEO da fintech Magalu que até abril era CEO do Banco Carrefour. Ele e Bellissimo dizem que as “safras mais recentes” de empréstimos da Luizacred (as últimas concessões de crédito) já mostram esse “ponto de inflexão”, com uma inadimplência melhor, apesar de o indicador “cheio” ainda estar alto (o NPL entre 15 e 90 dias estava em 3,7% no primeiro trimestre e o acima de 90 dias, em 10,6%).
O CFO dá como exemplo da “descida virtuosa” as campanhas de parcelamento do Magalu: com a Selic a 2% ao ano, a empresa dividia compras em até 24 meses sem juros e o parcelamento médio era de 16 meses. “R$ 1 mil em 24 vezes sem juros, a parcela fica muito baixa [menos de R$ 42 por mês]. Quase todos os clientes conseguem comprar mais. E fazer campanha sem juros custava muito pouco, porque a gente descontava esse recebível a 2% ao ano”.
“Com o CDI na casa dos 14%, diminuímos o parcelamento médio, que hoje está em 10 meses, e reduzimos o percentual das vendas sem juros também. Então o consumidor tem de comprar em um prazo mais curto, com uma parcela maior e com juros. A prestação fica praticamente o dobro”, afirma o Belissimo.
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