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Gestores e analistas do mercado financeiro ainda assimilam com certa perplexidade os últimos episódios envolvendo o maior banco banco privado da América Latina. Após demitir seu diretor de marketing, Eduardo Tracanella, por uso irregular de cartão de corporativo, o Itaú (ITUB4) protocolou uma ação contra seu ex-diretor financeiro, Alexsandro Broedel, de atuar em conflito de interesse. Tudo isso em menos de uma semana.
Chamou atenção a forma como o banco não teve papas na língua em falar dos pivôs de cada caso, executivos renomados em suas respectivas áreas. “O tratamento exemplar que os dois diretores estão recebendo é importante para reforçar uma cultura intransigente com desvios”, afirmou um gestor, com foco no setor financeiro.
“Por sinal, o fato do Itaú ter identificado esses casos joga a favor dos controles internos do banco”, complementa. O caso de Tracanella parece pacificado, com banco e executivo expressando gratidão mútua em comunicados oficiais e postagens no Linkedin. Mas a situação com Broedel é mais grave, havendo uma petição formal à Justiça da instituição financeira contra o executivo.
A ação também envolve o nome de Eliseu Martins, uma das maiores referências em contabilidade do país. Ele prestou serviços ao banco com emissão de dezenas de pareceres técnicos e de consultoria. O problema é que Martins é sócio de Broedel em uma outra empresa.
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O CFO deixou o Itaú no último mês de julho para assumir um cargo de diretor no Grupo Santander, na Espanha. Nas redes sociais, o consultor de empresas Stephen Kanitz, que diz ter sido professor de Broedel, publicou: “o que parece claro é que o Itaú está profundamente insatisfeito com o Santander, que recentemente contratou Broedel, seu contador geral, alguém que detém amplo conhecimento sobre as operações e estratégias internas do banco.”
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O analista-chefe de uma instituição financeira acha “muito pouco provável” que o Itaú “levantaria esse ponto se não tivesse algo muito concreto”, que justificasse a denúncia.
“Me parece que em nenhum momento Itaú quis colocar a poeira embaixo do tapete. Está agindo como parece fazer sentido, supondo q tenha o embasamento [da denúncia] em dados”, afirmou um outro analista de uma gestora.
Para Marcio Cyrino, especialista em compliance e investigações corporativas, o Itaú deu um exemplo de tolerância zero e mostrou que altos executivos não escapam dos controles internos da instituição financeira. “Compliance é algo relativamente novo no Brasil. Não tenho dúvidas de que muitas empresas vão rever seus controles após esse episódio”, conclui.