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Em meio a discussões sobre possíveis benefícios tributários para GPUs, os computadores que abastecem servidores por trás do processamento de inteligência artificial (IA) generativa, o presidente da Dell Technologies no Brasil, Diego Puerta, avalia que uma isenção deve levar em conta o potencial de trazer benefícios ao país, como a criação de empregos.
Há 25 anos no Brasil, a empresa comemora ser a única região em que uma fábrica própria abastece quase todo o mercado nacional. “Se houver uma flexibilização no custo da GPU para importação para montagem local, é uma forma de a gente conseguir melhorar a condição para o usuário final, então vemos isso com bons olhos”, diz Puerta em entrevista ao InfoMoney.
“Um dos pleitos originais de muitos data centers era poder importar os servidores montados para fazer seus data centers aqui, aproveitar a matriz energética”, diz Puerta. “O componente vindo barato, ok, o problema é ser apenas a importação do produto já finalizado, que traria poucos benefícios para o mercado brasileiro.”
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A Dell (D1EL34) atua em um mercado beneficiado pelo boom da inteligência artificial (IA) generativa, que levou pares como a Nvidia (NVDC34) à disputa do posto de empresa mais valiosa do mundo com seus computadores para IA.
Embora seja conhecida em escritórios e nas casas pelos seus computadores, teclados, mouses e monitores, a Dell desenvolve alguns dos itens necessários para colocar data centers – responsáveis pelo processamento de funcionalidades de IA – de pé, como racks e estantes onde são conectados os computadores.
“Vemos hoje uma demanda muito grande, mas ainda concentrada na América do Norte. Ela está começando a se tornar mais global: alguns países da Ásia, alguma coisinha na Europa”, afirma o executivo. “Na América Latina, há muita curiosidade dos players [por IA], mas ainda assim a gente não está vendo uma escala de investimento na dimensão dos Estados Unidos.”
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No trimestre finalizado em agosto, as receitas líquidas da Dell na linha de soluções de infraestrutura, o que inclui os servidores otimizados para inteligência artificial, cresceram 37,6% na comparação com o mesmo período do ano anterior, de US$ 8,4 bilhões para US$ 11,6 bilhões.
Confira os principais trechos da entrevista com Diego Puerta, presidente da Dell Technologies no Brasil:
InfoMoney: Em um momento em que as empresas estão expostas ao mercado de servidores, com aumento de demanda produzido pela IA generativa, quanto a Dell teve de se reinventar?
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Diego Puerta: A Dell vem em um processo de reinvenção desde a sua fundação. Michael Dell foi criando e reinventando a empresa: mudando de segmento e expandindo a área de atuação, expandindo cobertura, mudando produtos, aumentando portfólio. Se fizéssemos uma analogia com os 25 anos no Brasil, a transformação da companhia Dell durante esses anos foi enorme, enquanto a gente iniciava a operação e crescia e se desenvolvia no País.
Além de iniciar a nossa operação, tivemos que adaptar todo um processo de constante transformação da empresa, porque naquela época, éramos principalmente um fornecedor de PCs, notebooks, desktop, servidores, e estávamos ensaiando alguns outros mercados, com serviços atreladas a caixa. De lá para cá, a gente expandiu portfólio, adquiriu mais de 20 empresas, inclusive a própria EMC, empresas de serviços, de soluções. Fechamos capital, abrimos capital.
Nos próximos anos a gente quer mudar, quer construir uma Dell mais ágil, mais eficiente, mais moderna e atenta às necessidades do cliente. Então é nessa direção que a gente tá querendo focar.
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Quando as pessoas me perguntam se, por trabalhar há 25 anos na Dell, eu não enjoo, respondo que essa dinâmica de se reinventar, passar por 10 posições diferentes, mudar de área, me faz olhar para trás e ver que esses 25 anos para mim deram certo. É um processo de constante evolução, tanto que vários concorrentes nossos ficaram pelo caminho.
InfoMoney: Qual é a parte do Brasil nessa reinvenção e o que o país tem de particular na comparação com a operação global?
Diego Puerta: O que a Dell tem de muito positivo e ajuda no sucesso que a gente tem no Brasil é que buscamos ter os processos mais globais e padrão possível. Quando lançamos um novo produto, ele é automaticamente disponibilizado aqui no Brasil. Pode ter um hiato de um mês ou outro, mas tecnologias, processos e mudanças, sempre acontecem em um período próximo com o resto do mundo.
Muitas vezes o que que cabe para nós é conectar essa direção nova com a realidade do mercado. É esse o papel que eu meu time fazemos: conectar com a dinâmica de mercado, eventualmente um ajuste é necessário, aquelas questões locais de tributação, de questão de legislação local ou mesmo alguma alguma demanda dos clientes locais. A gente muda, e quando muda faz isso muito rápido, em padrão global.
InfoMoney: A demanda por infraestrutura de data centers crescente ligado à inteligência artificial (IA) generativa, que tem chamado a atenção ao Brasil pela sua matriz energética renovável, já reflete no negócio da empresa por aqui?
Diego Puerta: A demanda por data centers tem crescido bastante. Vemos uma dinâmica muito grande de novos investimentos acontecendo, é um mercado bastante aquecido. Temos parcerias com a maior parte dos players de data centers locais, que têm uma dinâmica diferente das de hyperscalers. Vemos que globalmente tem havido um movimento muito forte com uma demanda por GPU elevadíssima.
Os dados abertos da Dell mostram isso: temos um backlog de US$ 3,8 bilhões só de servidores de GPU, fora o que já foi entregue. Mas essa demanda ainda está concentrada muito na América do Norte e está começando agora a se tornar mais global: alguns países da Ásia, algo na Europa. Na América Latina ainda há muita curiosidade dos players, mas ainda assim a gente não vê uma escala de investimento na dimensão que está acontecendo principalmente nos Estados Unidos, onde está a maior parte da demanda hoje.
InfoMoney: O crescimento da demanda na região está vindo mais dos hyperscalers?
Diego Puerta: Vemos crescimento na curiosidade, nos testes, todos querem validar alguma coisa. Montar um conceito ou criar um caso de uso requer um ambiente muito mais simples, dinâmico. Pode até ser a nuvem, um ambiente de teste ou mesmo ambientes menos sofisticados que não vão precisar de um servidor com oito GPUs e refrigeração líquida.
Pode-se testar um modelo aí e aí depois que tem uma maturidade tem um resultado , ampliar. O ponto é que o custo disso é um fator que preocupa muitas empresas. Casos de empresas públicas com centenas de milhões de dólares gastos em nuvem pública, e muitas delas estão montando a sua nuvem privada. Então, o que vemos são timings diferentes entre as geografias, mas acreditamos que vai acontecer.
InfoMoney: Há um pleito de empresas do setor de data centers e até das grandes desenvolvedoras de GPUs, como a Nvidia, para algum tipo de benefício fiscal na importação desses equipamentos. Qual é a avaliação que fazem?
Diego Puerta: Nós montamos os nossos equipamentos aqui. Alguns componentes, como processadores e GPUS, são importados, não há produção local. Se houver uma flexibilização no custo da GPU para importação para montagem local, não deixa de ser uma forma da gente conseguir melhorar a condição para o usuário final, então vemos isso com bons olhos.
Um dos pleitos originais de muitos data centers era poder importar os servidores montados para fazer seus data centers aqui, aproveitar a matriz energética. É uma questão que eu, como membro da Abinee [Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica], não só Dell, mas como entidade de classe, vejo como uma solução que é melhor para o mercado brasileiro.
O data center traz algum investimento em ativos físicos, mas consome muita energia e no fim do dia é um negócio que não gera um volume de mão de obra tão grande. Então vamos produzir esses servidores no Brasil, em vez de importar pronto, tornar um mercado mais competitivo para produzir localmente. Pode se tornar uma base de exportação, vender mais barato e atender o mercado brasileiro, empregando funcionários. Esse é o meu ponto: o componente vindo barato, ok, o problema é ser apenas a importação do produto já finalizado, que traria poucos benefícios para o mercado brasileiro.
InfoMoney: A Dell está passando por uma reestruturação na cadeia produtiva globalmente. Haverá impacto na fábrica brasileira?
Diego Puerta: Para sermos competitivos no Brasil, precisamos ter a fábrica aqui, então vamos continuar investindo na nossa capacidade de produção. A reinvenção que está ocorrendo na nossa cadeia produtiva é muito focada em torná-la mais eficiente: uso de modelos de predição para ajustar cada vez mais a demanda, a compra de componentes. A Dell só produz aquilo que já foi vendido, por isso precisamos de uma eficiência de planejamento muito grande.
Com a inteligência artificial, vamos conseguir montar uma otimização para, por exemplo, saber em qual dia específico precisamos fazer o pedido de determinados componentes, para ter o mínimo possível de de exposição de caixa em inventário, maximizar o capital de giro com planejamento e simplificação.
É nesse sentido que a gente está fazendo a reinvenção. Por exemplo, em vez de ter 20 tipos de placas mães diferentes, e se eu tiver uma linha de produto que permita ter só três ou quatro? Se tivermos mais modularidade entre os componentes, podemos comprar até do mesmo fornecedor, mas com menos variações. Isso reduz o risco de inventário.
Essa entrevista faz parte do Guideline, série de entrevistas do InfoMoney com executivos e especialistas de referência sobre visões estratégicas em diferentes setores. Confira as entrevistas já publicadas:
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