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Inflação x crescimento: o que empresários pensam sobre uma possível alta da Selic

A taxa em patamares elevados tende a encarecer despesas financeiras das empresa, o que inibe investimentos; preocupação com inflação, porém, é legítima

Mitchel Diniz

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Uma possível elevação dos juros básicos da economia nesta quarta-feira (18) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) deve adiar a tão sonhada Selic de um dígito, principalmente por consumidores e por empresários.

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Nas companhias, de maneira geral, a taxa em patamares elevados tende a encarecer as despesas financeiras, o que acaba inibindo investimentos. Na prática, é mais difícil crescer com juros tão altos. Fora isso, há chances das receitas também serem impactadas por uma redução do consumo, em função do crédito mais caro.

Não existe um posicionamento único das entidades empresariais sobre a postura do Banco Central. Nas duas últimas reuniões, em que o Copom interrompeu o ciclo de alívio e manteve a Selic em 10,5%, alguns grupos deram respaldo às decisões, citando incertezas do cenário fiscal e pressões inflacionárias. Outros disseram que os juros no atual patamar restringem a atividade econômica brasileira.

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Passado de preços nas alturas

Antonio Carlos Nasraui, CEO do Rei do Mate, entende que a inflação não pode sair do controle. Afinal, a tradicional rede de cafeterias enfrentou, logo no início de suas atividades, o cenário de hiperinflação que assolou o Brasil por muitos anos. Atualmente, o negócio está exposto a duas commodities que dispararam no mercado internacional este ano – café e cacau – e que, observa Nasraui, nada têm a ver com as incertezas fiscais do Brasil.

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“Nem a Selic dobrando vai segurar o preço do café e do chocolate”, afirmou ao InfoMoney.

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Nasraui admite que juros mais altos impactam o consumo, mas, no caso do Rei do Mate, não tanto a ponto de vir a ser uma grande preocupação para a empresa. Em termos de saúde financeira, o empresário diz que a rede também está preparada.

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“Temos zero alavancagem financeira. Isso vem já dá época do meu pai”, afirma, fazendo referência a Kalil Antonio Nasraui, fundador da empresa. O empresário reconhece que esta é uma situação privilegiada, principalmente após o período de pandemia que reduziu as receitas dos negócios a zero. Concorrente do Rei do Mate, a Casa do Pão de Queijo não teve a mesma sorte e, endividada, entrou em recuperação judicial há poucos meses.

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Impacto em expansão

O efeito de juros ainda mais altos poderá ser sentido na abertura de novas franquias. Um dos critérios do Rei do Mate é aceitar apenas franqueados com capacidade financeira própria para abrir uma loja, sem necessitar de financiamento bancário. Porém, com a Selic elevada, esse modelo de negócio compete diretamente com a renda fixa.

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“Acredito que vai ter gente pensando se é mais vantajoso montar uma franquia ou colocar o dinheiro no banco para render”, reconhece Nasraui. “É possível que afete o nosso crescimento lá na frente, não por nós, mas pelos nossos parceiros”.

Antonio Carlos Nasraui, CEO do Rei do Mate e filho do fundador da empresa (Foto: Divulgação | Keiny Andrade)

O Rei do Mate faturou R$ 320 milhões em 2023, tem mais de 300 lojas em seu portfólio e continua abrindo novas unidades. Porém, o aperto monetário prolongado tende a impactar a estratégia da empresa em abrir lojas em chamados pontos alternativos – dentro de empresas, indústrias, faculdades, hospitais e supermercados.

“Esse empresário do mercado, repensando ou postergando o crescimento, nos atrapalha”, afirma o CEO.

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Investimentos mais caros

Em um outro setor, Antonio Wrobleski, presidente da BBM Logística, diz que caso as previsões de retomada de aperto se concretizem, a Selic sobe em “uma hora ingrata”. “Já não é um período em que o empresário investe forte, porque ele quer colher frutos [do que já investiu] justamente no último trimestre do ano. É um período em que ele analisa e se prepara para o ano seguinte e um aumento de juros, nesse momento, pode fazer a gente voltar ao famoso voo de galinha”, afirma.

Wrobleski destaca ao menos dois investimentos que são essenciais no segmento de transporte e logística, mas que tem sido afetados pelos juros altos. Primeiro, a parte de aquisições de equipamentos e renovação de frota, cujo custo de financiamento está em níveis elevados e fica ainda mais caro com a Selic voltando a subir. O aperto monetário também pode impactar investimentos em digitalização, que têm o intuito de controlar custos, mas são intensivos em capital.

“São investimentos altos, com retornos longos. O empresário faz uma vez e precisa dar continuidade a ele por, pelo menos, cinco anos”, explica Wrobleski. A própria BBM Logística passa por um processo de digitalização iniciado há quatro anos e tem investido em tecnologias como a inteligência artificial que, observa o executivo, demora “de cinco a seis anos” para começar a dar retorno.

Antonio Wrobleski, presidente da BBM Logística (Crédito: Divulgação)

De qualquer forma, Wrobleski diz ter “absoluta convicção” de que uma alta de juros agora seria pontual e não um norte para os próximos anos. “Acho que, em 2025, a gente deve voltar a uma certa normalidade. Algumas coisas que estão querendo ser provadas pelo governo, elas já estarão provadas”, afirma o CEO.

“Não faz sentido um país com crescimento de 3,5% e 4% de inflação ter uma taxa de juros que é o dobro disso. Aí seria querer trazer estagnação para o país”, finaliza.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados