Indústria de aves e suínos projeta exportações maiores e mais rentáveis neste segundo semestre

Embarques de carne de frango devera crescer até 8% em 2023, e os de carne de frango, até 12%

Fernando Lopes Rikardy Tooge

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Restrições da oferta em países concorrentes, queda da produção na China e redução de custos com grãos tendem a favorecer as exportações de carnes de frango e suína do Brasil neste segundo semestre, tanto do ponto de vista de volumes quanto de rentabilidade. O cenário é promissor para empresas como BRF (BRFS3) e Seara, controlada pela JBS (JBSS3), que lideram o segmento no país e na primeira metade do ano amargaram resultados abaixo do esperado nessa frente.

Segundo novas projeções divulgadas ontem pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), os embarques de carne do país deverão alcançar entre 5,1 e 5,2 milhões de toneladas em 2023, até 8% mais que no ano passado. De janeiro a julho foram 3,061 milhões de toneladas, um crescimento de 8,2% ante igual intervalo de 2022, ou US$ 6 bilhões (alta de 7,2%. O menor avanço da receita reflete uma queda dos preços médios de venda que ganhou força em julho, mas a tendência deverá se reverter, segundo a ABPA.

Em entrevista coletiva, Ricardo Santin, presidente da entidade, observou que exportadores concorrentes como Estados Unidos, Turquia, Ucrânia e Chile atualmente enfrentam problemas para ampliar a produção, ao mesmo tempo em que a China, que recentemente ampliou sua oferta doméstica, reduziu o alojamento de matrizes entre o fim de 2022 e o início de 2023 e já deu sinais de que vai pisar no freio nos próximos meses.

Essa conjunção é benéfica para o Brasil, que lidera os embarques mundiais, com participação de 35%, e tem na queda dos preços de milho e soja outro fator de incentivo para o aumento da produção – a ABPA projeta um crescimento de até 3% na produção do país em 2023, para entre 14,8 milhões e 15 milhões de toneladas.

Ricardo Santin, presidente da ABPA (Divulgação)
Ricardo Santin, presidente da ABPA: segundo semestre de retomada para os frigoríficos de aves e suínos (Divulgação)

Em boa medida, porém, a confirmação do cenário positivo dependerá da China, onde a recuperação econômica mais lenta que a esperada provocou forte pressão dos importadores por reduções de preços, sobretudo no segundo trimestre do ano. “Foi um período difícil, e houve alguma queda de preços. Mas, mesmo perdendo tração, a economia chinesa cresce mais que a brasileira, por exemplo, e teremos um crescimento mais consistente de vendas para aquele mercado nos próximos meses”, afirmou Santin.

Como a produção doméstica chinesa perdeu força, completou Luis Ruas, diretor de mercados da ABPA, os importadores serão obrigados a elevar as encomendas, a preços mais elevados. Segundo o executivo, o Brasil respondeu por cerca de 50% das importações de carne de frango da China de janeiro a julho, e os embarques ao país somaram 50,8 mil toneladas no país passado.

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As perspectivas de crescimento dependem, é claro, de o Brasil continuar sem registrar casos de influenza aviária em granjas comerciais, o que certamente geraria barreiras às importações – não só da China –, mesmo que temporárias e parciais. A ABPA ressalvou, porém, que mesmo que a doença chegue às granjas comerciais, os embargos tendem a ser regionais, como já aconteceu com os EUA, que convivem com gripe aviária em sua cadeia produtiva.

No segundo trimestre, houve sobreoferta de carne de frango no mercado global, e esse quadro prejudicou as margens da BRF, maior exportadora brasileira da proteína. Também Influenciado pela queda do dólar ante o real, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) da operação internacional da companhia caiu 75% em relação ao mesmo período do ano passado, para R$ 241 milhões.

“Para os próximos trimestre, estamos observando uma tendência de reequilíbrio entre oferta e demanda — embora não tenhamos guidance“, afirmou Miguel Gularte, CEO da BRF, após a divulgação dos resultados da empresa entre abril e junho.

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Também na divulgação de seus resultados no segundo trimestre, a JBS realçou que a receita líquida em dólar da Seara caiu 7% no intervalo ante um ano antes, para US$ 1,1 bilhão, fruto de uma queda de 14% de preços médios na comparação. A conta também inclui carne suína e alimentos processados, mas quem puxa os negócios é a carne de frango.

Carne suína

No caso da carne suína, a ABPA projetou que as exportações vão atingir até 1,25 milhão de toneladas em 2023, o que representa um aumento de 12% em relação ao ano passado. De janeiro a julho foram 695,1 mil toneladas, 14,6% mais que nos primeiros sete meses de 2022, com receita de 1,7 bilhão (alta de 24,3%).

Os números mostram que, nesse mercado, os preços médios estão em alta, e essa valorização foi influenciada por uma recente disparada dos preços do suíno na China, que absorveu 37% do volume exportado pelo Brasil de janeiro a julho. Aparentemente a disparada chegou a um limite e a ABPA acredita que a oferta doméstica chinesa vai recuar. Nesse contexto, as importações do país asiático deverão continuar aquecidas nos próximos meses, mas com alguma pressão sobre os preços embora concorrentes como os EUA e países europeus não estejam com margem para ampliar as ofertas.

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Paralelamente, o Brasil, que é o quarto maior exportador de carne suína do mundo, o primeiro em vendas para a China, também está diversificando seus mercados, e Filipinas, Hong Kong e Chile são outros destinos importantes para as vendas. “Além disso, o Brasil abriu os mercados de Canadá, México, Peru e República Dominicana, para os quais os embarques tendem a crescer”, disse Santin.

2024

Para 2024, a ABPA estima que a produção brasileira de carne de frango crescerá até 4,5% ante 2023 (15,5 milhões de toneladas) e que as exportações da proteína serão até 5% superiores (5,35 milhões de toneladas). Para a produção de carne suína, a previsão é de estabilidade, e para os embarques a tendência é de avanço de até 8% (1,3 milhão de toneladas)

Fernando Lopes

Cobriu o setor de energia e foi editor do semanário Gazeta Mercantil Latino-Americana até 2000. Foi editor de Agro no Valor Econômico até fevereiro de 2023