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Voar é seguro hoje em dia? Entenda o que pode causar atrasos e cancelamentos

Especialistas em segurança orientam o que viajantes devem levar em conta quando acontecer uma interrupção

Niraj Chokshi e Christine Chung The New York Times

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Fumaça na cabine. Um pneu estourado. Um para-brisa rachado. Não são poucos os problemas que podem afetar um voo, e isso alimenta a ansiedade dos viajantes e resulta em milhares de atrasos e cancelamentos diários em todo o mundo.

Apesar da frustração e da inquietação que esses eventos causam, pode ser difícil interpretar e entender sua gravidade. Confira as orientações dos especialistas em segurança da aviação sobre o que os viajantes devem levar em conta quando acontecer uma interrupção.


Problemas acontecem.

Nas últimas semanas, diversos incidentes alarmantes ocorridos em viagens aéreas têm dominado as manchetes – um mergulho acentuado em direção ao oceano, uma turbulência que danificou a cauda de um avião e uma decolagem abortada devido a um aparente incêndio no motor.

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No entanto, os especialistas afirmam que os acidentes e avarias mais comuns, embora possam parecer assustadores, geralmente não são graves.

Por exemplo, um vazamento hidráulico é uma ocorrência comum que os pilotos levam a sério, mas não é tão preocupante como pode parecer. Isso porque os aviões possuem sistemas hidráulicos de reserva, que alimentam equipamentos como o trem de pouso, freios, flaps de asa e controles de voo, permitindo que os aviões decolem, voem e pousem com segurança. Um avião sair de uma pista, algo conhecido como excursão de pista, cria um vídeo que pode se tornar viral e uma experiência possivelmente aterrorizante para quem está a bordo. No entanto, isso não causa, necessariamente, danos significativos ao avião nem representa uma ameaça à segurança das pessoas a bordo.

O mesmo se aplica à ampla gama de problemas mecânicos ou de manutenção que pode surgir antes da decolagem e pode levar um piloto a manter a aeronave no portão ou retornar a ele após o início do taxiamento. É importante compreender e resolver esses incidentes, mas muitas vezes eles são de menor gravidade, afirmam os especialistas.
“Os pilotos dizem: ‘Tenho alto nível de treinamento, tenho conhecimento profundo a respeito deste avião. Precisamos retornar ao portão e chamar um técnico especialista por precaução'”, afirmou Shawn Pruchnicki, ex-piloto de linha aérea e professor assistente do Centro de Estudos de Aviação da Universidade Estadual de Ohio. “Em outras palavras, o sistema está funcionando perfeitamente. Isso é bom.”

Em algumas situações, esses problemas podem resultar na impossibilidade de realizar um voo ou deixar uma aeronave fora de serviço. Mas em outros casos, eles podem ser corrigidos rapidamente. E, porque os aviões estão equipados com muitos mecanismos de segurança, há momentos em que um voo pode prosseguir sem riscos, mesmo com um defeito em um sistema, simplesmente contando com um ou mais backups.

Voar é um feito complexo que desafia a gravidade e é realizado milhares de vezes por dia em uma ampla variedade de condições. Portanto, os viajantes não devem se surpreender quando algo dá errado, analisou Amy Pritchett, piloto e professora de engenharia aeroespacial da Universidade Estadual da Pensilvânia.

“Pequenos componentes sempre queimam ou quebram”, disse. “Sempre haverá buracos na pista de taxiamento que atravancam alguma coisa. Sempre surgem questionamentos sobre o clima, se está adequado para voar, se haverá turbulência ou não. Todas essas questões são fontes de variabilidade que exigem gerenciamento ativo.

Voar é seguro.

Outro aspecto importante que viajantes devem manter em mente é que problemas graves de voo são extremamente raros, afirmam os especialistas.

Voar é mais seguro do que dirigir ou viajar de trem, em parte porque a segurança está incorporada em tudo desde a fase de projeto, do controle de tráfego aéreo ao próprio avião. Existem backups para sistemas e procedimentos críticos, raramente há pontos únicos de falha, os pilotos recebem treinamento intensivo e repetitivo e as companhias aéreas se preparam para uma ampla gama de resultados possíveis.

“É o meio de transporte mais seguro já criado pela humanidade”, disse John Cox, ex-piloto de linha aérea que hoje é diretor de uma empresa de consultoria em segurança. “Dirija com cuidado até o aeroporto.”

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Uma análise da segurança da aviação comercial conduzida em 2022 pelas Academias Nacionais de Ciência dos EUA revelou que a segurança da aviação comercial nos Estados Unidos melhorou mais de 400% nas últimas décadas.

De acordo com o Conselho Nacional de Segurança nos Transportes, as principais causas de acidentes incluem turbulência, aterrissagens bruscas, colisões no solo com outros aviões ou veículos e falhas de componentes, como mau funcionamento do flap das asas ou do motor.


Voar é muito seguro em parte porque a indústria geralmente responde a todos os problemas, mesmo aqueles que representam pouca ameaça. Nos Estados Unidos, as companhias aéreas, os fabricantes e as agências reguladoras, como a Administração Federal de Aviação (FAA) e o NTSB, monitoram e analisam constantemente os riscos e perigos das viagens aéreas.

“O nível dos sistemas existentes para monitorar o transporte aéreo comercial atual é profundo”, disse Pritchett. No entanto, isso não significa que qualquer pessoa envolvida possa relaxar na avaliação da possibilidade de perigo, acrescentou.

E embora viagens sejam ocasionalmente interrompidas, afirmam os especialistas, o desvio de um voo do seu destino geralmente reflete a devida cautela por parte dos pilotos, companhias aéreas e controladores de tráfego aéreo, e não uma emergência com risco de vida. “Poderíamos continuar até o nosso destino?” disse Kenneth Byrnes, piloto e professor associado que lidera o departamento de treinamento de voo da Embry-Riddle Aeronautical University. “Sim, mas essa seria a coisa mais segura a se fazer?”

Colocar as coisas em perspectiva é importante.

Para os especialistas, é importante manter algum contexto em mente quando ocorre um incidente.

Alguém com menos conhecimento poderia notar, por exemplo, que muitos problemas parecem afetar dois tipos de aviões: Boeing 737 e Airbus A320. Mas essas famílias de aviões representam mais da metade dos jatos comerciais em serviço, por isso aparecem mais na cobertura da mídia.

Os especialistas também alertam contra o viés de confirmação. Quando uma companhia aérea ou um fabricante estão envolvidos em um episódio que chama a atenção da mídia, o público e a imprensa tendem a ficar alertas para outros problemas relacionados à empresa, mesmo que esses problemas tenham pouca relevância para a segurança ou não sejam significativos o suficiente para atrair muita atenção das agências reguladoras.

“Quando algo acontece, você precisa de tempo para descobrir e aprender exatamente o que aconteceu e por que aconteceu”, disse Jeff Guzzetti, ex-investigador de acidentes da FAA e do NTSB. “Não dá para fazer isso em um ciclo de notícias, nem mesmo em dois.”

O NTSB pode levar meses, e às vezes mais de um ano, para conduzir investigações que culminam com recomendações de segurança para prevenir futuros acidentes.

Em janeiro, depois de um painel da fuselagem de um 737 Max explodir durante um voo, a Boeing foi escrutinada com muita intensidade, e com razão, disseram especialistas. Mas vários especialistas também relataram ter recebido muitas ligações de repórteres nos meses seguintes, buscando comentários sobre problemas envolvendo aviões Boeing em casos que tinham pouca relação com a empresa.

“O fato de um avião da Boeing ter um problema mecânico não significa necessariamente que tenha algo a ver com a Boeing”, disse Pruchnicki.


No episódio envolvendo o painel da fuselagem, o avião era praticamente novo, chamando a atenção para o fabricante. Entretanto, segundo os especialistas, é improvável que o fabricante seja culpado quando ocorre um problema com um avião que foi entregue anos antes e tem voado com segurança desde então.

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