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Trabalhei com Steve Jobs: Eis o que ele teria a dizer sobre as lideranças atuais

Shalini Govil-Pai é vice-presidente e gerente geral de TV do Google e diretora do conselho da YouGov e trabalhou com Jobs na Pixar

Fortune Shalini Govil-Pai

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Caso não tenha visto, Paul Graham, da Y Combinator, publicou recentemente um blog que desencadeou intensos debates no Vale do Silício sobre as vantagens e desvantagens do “modo fundador” em comparação com o “modo gerente”. Em meio a toda essa conversa sobre se um líder empresarial deve se envolver diretamente em cada detalhe de seu negócio ou capacitar seus gerentes para implementar sua visão, lembrei-me de um dia de primavera, em 1995, quando atuava como diretora técnica na Pixar.

Havíamos acabado de sair de uma grande reunião com a Intel (ITLC34), onde nos reunimos com o então CEO, Andy Grove, para apresentar um conceito sobre como a Pixar e a Intel poderiam, juntas, lançar jogos que destacassem as capacidades dos chips da Intel. Nosso objetivo era apresentar uma demonstração com personagens inspiradores e storyboards de alta qualidade. A demonstração não foi bem-sucedida, e Steve Jobs, como só ele sabia fazer, deixou clara sua insatisfação. Steve era conhecido por, ocasionalmente, elevar a voz com seus colaboradores, e, naquele dia, fez um discurso especialmente exaltado, mesmo para os seus padrões.

Com Steve frequentemente citado como o exemplo ideal do estilo de liderança do “modo fundador”, quero destacar o que aconteceu após sua explosão. Steve nos olhou nos olhos e pediu desculpas. “Sinto muito”, disse. Não por gritar conosco, mas por não ter feito sua parte para tornar a demonstração mais bem-sucedida. “Da próxima vez, todos nós faremos melhor”, ponderou. Ele então entrou no que hoje chamamos de “modo fundador”, arregaçando as mangas e, fiel à sua palavra, trabalhando lado a lado conosco em todos os níveis. Ele se dedicou a garantir que, na próxima oportunidade, entregássemos um trabalho impecável.

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O problema com Steve era que ele se importava profundamente com seu pessoal. É verdade que ele podia ser meticuloso e exigente às vezes, a ponto de ser chamado de “tirânico”. Mas, sobretudo, ele era um líder gentil, respeitoso e compassivo. Foram essas qualidades que o tornaram grandioso, e não seus momentos de explosão ou palavras ásperas.

Muitos líderes de hoje, não apenas no setor de tecnologia, mas em todo o mundo dos negócios, política, cultura e entretenimento, veem Steve Jobs como um modelo de liderança. E por um bom motivo. Ele construiu não uma, mas duas marcas icônicas e lançou produtos inovadores. Ele também era conhecido, talvez mais do que por qualquer outra característica, por sua busca incansável por uma visão singular e meticulosa. Quando se tratava de alcançar o que desejava, ele podia ser exigente, direto e autoritário, exatamente como sua reputação sugere.

Ao analisar alguns dos líderes de hoje, preocupa-me que muitos pareçam ter adotado os traços mais problemáticos de Steve Jobs, sem equilibrá-los com as qualidades que realmente o tornaram excepcional. Eles abraçaram o Yin, mas ignoraram o Yang, resultando em um estilo de liderança tóxico que frequentemente destrói o moral, reduz a produtividade e prejudica o valor para as partes interessadas.

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Então, que conselho Steve Jobs daria aos líderes que buscam imitar seus métodos autocráticos? Apresento a seguir as lições que aprendi trabalhando com ele na Pixar e estudando seu estilo de liderança.

Ouça atentamente

Após a demonstração desastrosa e seu pedido de desculpas, Steve fez questão de ouvir atentamente todos os envolvidos. Até a mim. À época, eu ainda era relativamente inexperiente, mas ele se sentou comigo pacientemente, ouvindo com grande interesse enquanto eu explicava no que estava trabalhando e sugeria o que poderíamos melhorar. Ele fez perguntas inteligentes e investigativas, solicitando minha opinião sobre questões importantes. Independentemente de ele ter ou não incorporado minhas opiniões em seu pensamento, ele pelo menos as considerou de forma genuína e me fez sentir que minhas opiniões importavam.

Inspire o trabalho em equipe

Ninguém consegue criar algo significativo sozinho. Isso requer contribuições de pessoas de toda a organização, incluindo aquelas de quem menos se espera. Por mais que um líder acredite em sua visão, é essencial que ele inspire os outros a adotá-la e se sintam motivados e apaixonados por trabalhar para realizá-la. Não basta impor uma visão à sua equipe, é necessário inspirá-la a acreditar nela. Uma das grandes habilidades de Steve Jobs era reunir pessoas para alcançar, coletivamente, resultados que jamais conseguiriam atingir trabalhando de forma isolada.

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Seja útil

Steve Jobs entendia que, sozinho, não tinha todo o talento, a visão ou as habilidades necessárias para transformar suas ideias em realidade no mercado. Na verdade, na Pixar, ele frequentemente recorria a John Lassiter e outros líderes criativos e técnicos que sabiam mais do que ele em suas respectivas áreas de especialização. Ele costumava deixar isso bem claro nas reuniões, dizendo coisas como “Estou aqui apenas para apoiar você” ou “Avise-me se puder ajudar”. Ao não apenas aceitar, mas frequentemente destacar especialistas como os verdadeiros líderes em suas áreas, ele inspirava confiança, promovia autonomia e estimulava coragem em toda a empresa.

Foque naquilo que está ao seu alcance controlar

Muitos parecem ter aprendido com Steve Jobs que um bom líder deve estar envolvido em todos os aspectos do negócio, o que reflete essencialmente a essência da doutrina do “modo fundador” proposta por Graham.

Embora seja verdade que Jobs se envolvia profundamente em muitos detalhes de suas empresas, ele também reconhecia que era impossível estar presente em todos eles. Ele sabia quando delegar decisões e quando insistir em mais um detalhe seria algo além do que ele, ou qualquer outra pessoa, poderia administrar.

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Para os líderes que acreditam poder fazer tudo, ele recomendaria focar nas questões e decisões que realmente podem influenciar, delegando à equipe as tarefas para as quais ela está mais bem preparada.

Concentre-se no bem maior

Em uma entrevista de 1994, Steve Jobs afirmou à revista Rolling Stone que “Tecnologia não é nada. O importante é acreditar nas pessoas, reconhecer que elas são essencialmente boas e inteligentes e que se você der a elas as ferramentas certas, elas farão coisas incríveis com elas”. Essa declaração reflete a crença de Jobs nas melhores qualidades da humanidade, além de seu compromisso em oferecer ferramentas que ajudem as pessoas a revelarem seu potencial máximo. Jobs acreditava que apenas ao focar em agregar valor à humanidade, acima de receita e lucros, uma empresa pode realmente alcançar todo o seu potencial.

Steve Jobs estava longe de ser perfeito. Sim, às vezes ele era temperamental e ríspido, mas também sabia ser gentil e atencioso. Ele era controlador e dominador, mas também inspirador e fortalecedor. Aos líderes que imitam seus métodos autocráticos, lembrem-se de também aplicar as outras lições que ele nos deixou.

*Shalini Govil-Pai é vice-presidente e gerente geral de TV do Google e diretora do conselho da YouGov.