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Alguns falam que ela é uma mistura entre a Torre Eiffel e uma boina. Outros a chamam de “Smurf francês vermelho”. A maioria das pessoas sequer consegue pronunciar o nome.
Esta é Phryge (pronuncia-se “frije”), a mascote oficial dos Jogos Olímpicos de Paris. Ridicularizada pelos franceses quando foi revelada, ela se tornou o item mais vendido na cidade — e um símbolo da transformação da percepção da França sobre os Jogos, de um incômodo indesejado a um triunfo inquestionável.
Na megastore dos Jogos Olímpicos na Champs-Élysées, 15 mil clientes formam uma fila de quase cinco quarteirões todos os dias para adquirir a Phryge em suas muitas versões — “Posando como a Mona Lisa!”, “Correndo com a tocha olímpica!” — e comprar milhões de euros em mercadorias oficiais com a marca olímpica. “J’adore!” disse Jenny Prudhomme, uma nativa do sul da França que trabalha como voluntária nos Jogos.
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Ela saiu da loja em uma tarde recente com uma bolsa vermelha estampada com a mascote de olhos arregalados, que é inspirada na barrete frígio, uma espécie de gorro usado durante os levantes da Revolução Francesa e que se tornou um símbolo da república na França.
“Representa a França, mas, mais do que isso, é uma lembrança dos Jogos Olímpicos, que nos encheram de orgulho”, disse Jenny.
Faltando apenas alguns dias até o encerramento dos Jogos, o orgulho francês transbordou com um surto de entusiasmo inesperado que tomou conta de Paris assim que a pira olímpica foi acesa.
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Um dilúvio inicial de queixas deu lugar a uma onda de excitação quando quase 1 milhão de turistas chegaram à capital francesa na primeira semana, e a França conquistou um número recorde de medalhas em eventos lotados, muitos dos quais incluíam a mascote energizando a multidão.
Quando seu design foi revelado no ano passado, a Phryge foi recebida com indiferença, beirando o ridículo na França. Parecendo um tufo de algodão-doce com pernas azuis — ou, como os franceses descreveram amplamente, uma parte íntima da anatomia feminina — a mascote foi chamada de “incompreensível” em uma pesquisa nacional.
Como mascote ao vivo, Phryge acena para os fãs ansiosos por selfies, animada por dançarinos treinados e estudantes em uma fantasia inflável que é instável o suficiente para exigir escoltas. A saudação da Phryge, transmitida para quase um bilhão de lares em todo o mundo assistindo aos Jogos Olímpicos, cimentou sua celebridade.
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Se as vendas são um indicador de popularidade, Phryge não é mais o azarão da França. “Muitas pessoas não sabem exatamente o que é”, disse Edouard Bardon, diretor de licenciamento e varejo dos Jogos de Paris. “O que eles sabem é que é um símbolo olímpico, e estão comprando produtos da Phryge para seus parentes ou para si mesmos para mostrar que estiveram nos Jogos”.
Os souvenirs com a mascote são os mais vendidos nas 140 boutiques oficiais dos Jogos Olímpicos montadas em toda a França e na loja oficial on-line, disse Bardon.
Os organizadores esperam que as vendas globais de produtos licenciados alcancem € 2 bilhões de (R$ 12,2 bilhões). O comitê organizador dos Jogos obterá € 130 milhões (R$ 797 milhões) com os direitos de licenciamento, que serão usados para financiar o custo de aproximadamente € 9 bilhões (R$ 5,5 trilhões) da realização dos Jogos.
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Mas todo este sucesso veio depois de muitas controvérsias. Um escândalo estourou no ano passado quando vazou a notícia de que grande parte dos produtos da Olimpíada de Paris — e uma boa parte dos bonecos de pelúcia da Phryge — foram fabricados na China.
Um porta-voz do governo francês disse que a França “não tinha matérias-primas suficientes e fábricas têxteis para fabricar 2 milhões de mascotes em poucos meses”. Para acalmar os ânimos, um fabricante de brinquedos francês, Doudou et Compagnie, foi incentivado a aumentar a produção de itens da Phryge em sua fábrica na Bretanha.
A polêmica não diminuiu as vendas na megastore da Champs-Élysées, onde as filas às vezes se estendem por cerca de 800 metros até a Place de la Concorde, local das competições de skate e breaking.
As filas são formadas por visitantes dispostos a esperar sob o calor escaldante para comprar um chaveiro, camiseta ou dispenser de balas Pez da Phryge. “Estou ficando emocionado com o espírito olímpico. É loucura, você está à beira da Terceira Guerra Mundial, e ainda assim todo mundo aqui só quer estar junto e celebrar” afirmou Pahno Georgeton, que viajou para os Jogos de Houston com um amigo.
Dentro da megastore, os fãs navegam por um enorme salão dividido em zonas com 10 mil tipos de produtos. Um local popular é o balcão de pins olímpicos e o item improvável mais vendido é um pin de um pombo parisiense. Há também um do símbolo dos Jogos Paralímpicos: uma Phryge com uma prótese de lâmina de corrida. Os pins estão quase esgotados na hora do almoço.
Também fazem sucesso os pôsteres oficiais dos Jogos, mostrando Paris como um desenho colorido de monumentos símbolos da cidade transformados em arenas, incluindo a Torre Eiffel, onde o vôlei de praia é jogado, e o Grand Palais, que abriga o judô e a esgrima. Um quebra-cabeça de 1.000 peças que reúne os pôsteres foi vendido rapidamente.
Lembrancinhas até da Rio-2016
Mesmo para aqueles com orçamento limitado, o dinheiro não é problema quando se trata de comprar lembrancinhas dos Jogos Olímpicos.
Lucia Fernandez viajou da Argentina com seu pai, Raul, e seu irmão, Maximo, para passar duas semanas nos Jogos. Ela saiu da loja com uma bolsa gigante cheia de grandes bonecos fofos do Phryge para adicionar à sua coleção de mascotes olímpicos, incluindo um dos Jogos do Rio de 2016, o verdinho Tom, que foi o parceiro de Vinícius nas Olimpíadas do Brasil.
“Eu realmente não sabia o que era aquilo”, disse ela sobre o mascote do Rio. “Mais ou menos como isso”, acrescentou, segurando um boneco da Phryge. “É como essa coisa não identificável. Mas eu prometi a mim mesma que iria comprá-lo”.
Criados em homenagem a Tom Jobim e Vinícius de Moraes, os mascotes da Rio 2016 representavam a natureza – Vinícius era a mistura de vários animais, e Tom nasceu da combinação de plantas.
Estoques repostos diariamente
Os estoques da loja são reabastecidos todas as noites, disse Bardon, para garantir uma oferta de produtos renovada para os visitantes, muitos dos quais começam a formar fila uma hora antes da abertura das lojas, às 10h.
Para recompensá-los por sua paciência, Phryge está lá para recebê-los. Em uma tarde recente, a mascote, auxiliada por um ajudante, caminhou entre as multidões e subiu em um pequeno palco ao lado de um espaço dominado por 300 tipos de produtos da Phryge, incluindo chinelos e chapéus.
Georgeton, de Houston, olhou maravilhado: “Não sei como dizer que estou deslumbrado por um mascote, mas estou. Tem pura eletricidade, eu juro”.
NYT: ©.2024 The New York Times Company