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Eu estava torcendo pelo Apple Vision Pro.
Ainda estou na torcida por ele, pela computação espacial e pelos computadores vestíveis em geral. No entanto, duas semanas atrás, quando embalei o dispositivo em sua caríssima maleta de transporte para fazer uma demonstração dele aos meus colegas no escritório, cheguei a uma conclusão clara. Assim como todos os outros “headsets” anteriores (seja Oculus, Meta Quest, HTC Vive, PlayStation VR, Google Cardboard etc.), o único cenário real para voltar a utilizar o dispositivo foi mostrá-lo para pessoas que nunca tinham visto antes. E esta foi uma constatação devastadora.
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Sou futurista, não necessariamente por escolha, mas por compulsão. Sofro de um caso incurável de otimismo extremo. Mas também mantenho um filtro bastante crítico em relação ao entusiasmo exagerado. E, quatro meses atrás, quando experimentei o Vision Pro no lançamento, senti que estava testemunhando o nosso futuro coletivo. O VisionOS parecia inevitável. Para mim parecia claro que é desse jeito que todos nós faremos uso de computadores em breve.
Finalmente, alguns dos principais problemas que afetaram as gerações anteriores de “headsets” (sejam eles de realidade virtual, aumentada ou híbrida) haviam sido solucionados. A resolução, taxa de quadros e rastreamento ocular do Vision Pro foram reveladores. O temor quase constante do enjoo iminente acabou. A necessidade de mapear manualmente uma “área segura” para evitar quebrar móveis sumiu. Os desajeitados controladores desapareceram.
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Eu apoiei abertamente a incursão dos novatos da Apple no mundo híbrido do físico e do digital. Elaborei argumentos contrários ao esmagador coro de por quê? Por que tão caro? Por que tão pesado? Por que tão sinistro?
No entanto, já se passaram quatro meses e, sinceramente, por duas semanas inteiras, esqueci até que o dispositivo existia. O fato é que há pouco espaço para a computação espacial na vida cotidiana.
Como chegamos até aqui?
O cerne do problema está no nome e na posição de mercado deste dispositivo. Na realidade, o Apple Vision Pro é um kit de desenvolvedor pesado, volumoso e caro, mas inovador. Nesse contexto, é um grande acerto. No entanto, a excelente equipe de profissionais de marketing da Apple optou por classificá-lo como um produto Pro pronto para o consumidor (apesar do alerta de Steve Jobs sobre o risco de deixar o marketing assumir o controle de uma empresa liderada por produtos). Assim, somos forçados a julgar a questão a partir dessa perspectiva.
O Google Glass teve um destino semelhante ao que eu temia que o Apple Vision V1 vira a ter. Foi lançado com grande alarde, apresentado como o futuro da computação pessoal e prometia libertar as pessoas das amarras de seus smartphones, que causam tensão no pescoço. Ao mesmo tempo, permitiu que os primeiros entusiastas do futuro, como eu, se comportassem de maneira mais natural entre os demais.
No entanto, aconteceu o contrário. Esqueça a péssima duração da bateria, o preço extremamente alto (cerca de metade do que custa o Vision Pro) e o conjunto limitado de aplicativos e funcionalidades. O que realmente acabou com o Google Glass foi a reação das pessoas, que davam um passo para trás em aversão quando viam alguém usando o aparelho em público.
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Com o Vision Pro não é diferente. A rejeição direta que enfrento ao utilizá-lo é um indicador claro de que a sociedade fez sua escolha entre um “headset” ser um vislumbre de nosso futuro inevitável ou uma loucura tecnológica obtusa e repulsiva. Pelo menos o Google Glass era fisicamente confortável de usar. O Vision Pro é tão pesado, desequilibrado e doloroso que na primeira semana, ao tentar utilizá-lo como o dispositivo voltado ao aumento de produtividade que deveria ser, mal consegui aguentar 2,5 dias com ele no rosto. Isso apesar da varredura facial que fizeram de meu rosto durante o processo de encomenda para determinar qual seria a “combinação perfeita” de escudo de luz para meu caso.
A triste verdade é a seguinte: exceto quando mostro o Vision Pro às pessoas pela primeira vez, me sinto totalmente indiferente e não tenho sequer interesse em ligar o aparelho.
Não precisava ser assim, e não posso deixar de refletir sobre onde esse “headset” deu errado, como aconteceu com as dezenas de dispositivos que o antecederam, definhando como troféus mortos da inovação progressiva. A Apple sempre foi conhecida por lançar dispositivos novos equipados com funcionalidades reduzidas e controles excessivamente simplificados, mas o Vision Pro leva isso ao extremo. E o visionOS 2, supostamente de próxima geração, que a Apple anunciou na semana passada, oferece, na melhor das hipóteses, atualizações incrementais.
Os relatos desta semana de que a Apple suspendeu o desenvolvimento da próxima versão do dispositivo devido à falta de demanda e, em vez disso, está priorizando um modelo mais barato, mostram que a empresa talvez esteja recuando e que há tensão interna no que diz respeito a este lançamento ser um caso de tecnologia colocada no mercado antes da experiência do cliente (ironicamente).
Embora a intuitividade e o design do Vision Pro certamente sejam padrões que definem o setor, a vergonha pública, o desconforto, o preço e a ausência de funcionalidades são aspectos muito difíceis de ignorar. É improvável que o Vision Pro alcance uma penetração significativa no mercado ou construa uma base de conteúdo e experiências que proporcionem o impacto emocional duradouro necessário para torná-lo um investimento “obrigatório” para consumidores individuais. Ainda tenho esperança.
Espero que lancem um hardware muito mais leve e barato. Espero que arrumem uma solução para a dolorosa solidão que surge quando você usa o aparelho perto de outras pessoas e percebe que elas não conseguem compartilhar o que você está vendo. Espero que desenvolvam um aplicativo incrível ou caso de uso que foque na telepresença remota e impulsione as grandes melhorias em termos de custo e miniaturização da tecnologia que atualmente são barreiras ao seu apelo de massa.
Enquanto eu assistia a outra demonstração muito bem-produzida e estranhamente estéril na WWDC, na sede da Apple na semana passada, e ouvia todas as piadas internas a respeito do cabelo do chefe de software Craig Federighi, uma coisa ficou certa: ninguém do alto escalão da Apple usa essa coisa todos os dias.
Com o iminente lançamento do Vision Pro no Canadá em algumas semanas (moro em Toronto), cheguei à conclusão de que quando amigos, familiares e colegas me perguntarem se devem gastar uma boa parte de sua renda disponível para adquirir um, minha resposta será, infelizmente, não.
Pelo menos não por enquanto.
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