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Morde e assopra: como mudou a relação entre Trump e CEOs de tecnologia em 8 anos

Executivos foram indiferentes na primeira eleição do atual presidente; agora, tentam compensá-la

Tripp Mickle David McCabe The New York Times

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SÃO FRANCISCO — Quando Donald Trump lançou sua primeira campanha presidencial, há oito anos, a maioria dos executivos do setor de tecnologia o ignoraram. Depois tentaram compensar essa indiferença ao fazer uma entrada televisionada pelo saguão da Trump Tower, em Nova York, para uma reunião de 90 minutos com o presidente eleito.

Neste ciclo eleitoral, os líderes do setor de tecnologia tentaram evitar repetir o mesmo erro. Executivos como Mark Zuckerberg, Tim Cook e Sundar Pichai passaram a fazer contato direto com Trump nas semanas e meses que antecederam as eleições.

O ex-presidente Donald Trump com Elon Musk durante um comício de campanha em Butler, Pensilvânia, em 5 de outubro de 2024. Apple, Amazon, Google, Meta e outras empresas aprenderam durante a última administração Trump a esperar o inesperado quando se tratava de escrutínio e apoio em Washington. (Foto: Doug Mills/The New York Times)

Eles o bajularam, compartilharam seus problemas, criticaram seus opositores. Eles chegaram até a destacar inimigos em comum.

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Essa mudança de estratégia reflete aquilo que os líderes empresariais aprenderam durante o primeiro mandato de Trump e mostra como adaptaram sua abordagem diante da possibilidade de seu retorno à Casa Branca. Acreditando que suas posições políticas são flexíveis e que suas ações são frequentemente movidas por interesses estratégicos, eles estão construindo relacionamentos diretos na expectativa de que isso traga benefícios para seus negócios.

No primeiro mandato, Trump criticou as empresas de tecnologia por manipularem a cobertura sobre ele em suas plataformas e por fazer oposição à sua agenda. Ele agia de forma punitiva com aqueles que considerava seus antagonistas. Em um caso, a Amazon acusou Trump de pressionar o Pentágono a cancelar um contrato de computação em nuvem com a empresa, alegando que isso ocorreu porque seu fundador, Jeff Bezos, era proprietário do The Washington Post.

Mas Trump foi muito elogioso com relação a Tim Cook, CEO da Apple (AAPL34). Ele apreciou o fato de Cook ter se conectado diretamente com ele para discutir questões comerciais e econômicas. Esse envolvimento direto ajudou a Apple a evitar a imposição de tarifas sobre muitos de seus produtos, até mesmo quando o governo Trump impôs restrições a outras empresas que fabricavam na China.

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O presidente Donald Trump visita a Flextronics International, LTD em Austin, Texas, com o CEO da Apple, Tim Cook, em 20 de novembro de 2019. Os executivos das maiores empresas de tecnologia ignoraram amplamente Donald Trump antes da eleição de 2016 — desta vez, eles estão muito mais amigáveis. (Foto: Pete Marovich/The New York Times)

Desta vez, os CEOs de tecnologia seguiram o exemplo de Cook. Zuckerberg, CEO da Meta, conversou com Trump após o presidenciável sofrer uma tentativa de assassinato em julho. Já Pichai, CEO do Google, elogiou Trump ao comentar sobre a parada de campanha que fez em um restaurante da McDonald’s, afirmando que foi um dos maiores eventos já vistos no Google. Já Andy Jassy, CEO da Amazon (AMZO34), se apresentou ao Donald Trump por telefone, enquanto Jeff Bezos, seu antecessor, também entrou em contato com o ex-presidente para parabenizá-lo por sua resiliência após o atentado de julho.

Os executivos nunca apoiaram Trump publicamente, mas após sua vitória na terça-feira, eles o parabenizaram pela plataforma social X. Tim Cook, normalmente o último entre seus pares a se manifestar sobre questões polêmicas durante o governo anterior de Trump, deu a palavra final, expressando suas felicitações ao dizer: “Parabéns, Presidente Trump, por sua vitória! Estamos ansiosos para interagir com você e seu governo.”

Jeffrey Sonnenfeld, professor de administração na Universidade de Yale, que ao longo dos anos aconselhou tanto executivos quanto o próprio Donald Trump, afirmou que estabelecer contato direto e cortejar Trump discretamente era “a coisa certa” a se fazer, ressaltando que é a responsabilidade dos executivos para com seus acionistas manter um relacionamento com qualquer pessoa que ocupe a Casa Branca.

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“Eles estavam construindo um relacionamento”, analisou. “E essa é a abordagem correta, estabelecer contato pessoal e construir uma base para o futuro.”

O então presidente eleito Donald Trump fala durante uma reunião com líderes do setor de tecnologia, na Trump Tower em Manhattan, em 14 de dezembro de 2016. (Apple, Amazon, Google, Meta e outras empresas aprenderam durante a última administração Trump a esperar o inesperado quando se tratava de escrutínio e apoio em Washington. (Foto: Kevin Hagen/The New York Times)

A Meta e o Google se recusaram a comentar, enquanto a Amazon e a Apple não responderam aos pedidos de comentários. Trump compartilhou alguns detalhes a respeito dos contatos dos CEOs em vários podcasts e em uma entrevista com a revista New York. Outros já haviam sido reportados pelo The New York Times e pelo The Washington Post.

O contato privado dos líderes de grandes empresas de tecnologia com Donald Trump se contrastou com a postura mais aberta e pública de Elon Musk, CEO da Tesla, e de vários capitalistas de risco do Vale do Silício. Musk fez campanha por Trump na Pensilvânia e transformou seu feed pessoal no X em um canal de defesa do então candidato. Enquanto isso, capitalistas de risco fizeram doações generosas à campanha de Trump na esperança de que seu governo fosse mais amigável às suas causas favoritas — criptomoedas, antitruste e impostos — do que o do presidente Joe Biden.

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Na manhã de quarta-feira, esses importantes investidores estavam visivelmente entusiasmados nas redes sociais. Quando Elon Musk postou que a “nação de construtores” dos Estados Unidos logo estaria “livre para construir”, Marc Andreessen, um investidor de destaque que havia contribuído para a campanha de Trump, respondeu com seu próprio slogan, “É hora de construir”, acompanhado de um emoji da bandeira americana.

O ex-presidente Donald Trump com Elon Musk durante um comício de campanha em Butler, Pensilvânia, em 5 de outubro de 2024. Apple, Amazon, Google, Meta e outras empresas aprenderam durante a última administração Trump a esperar o inesperado quando se tratava de escrutínio e apoio em Washington. (Foto: Doug Mills/The New York Times)

Ao contatar Trump, os executivos de tecnologia estavam fazendo mais do que apenas proteger suas apostas antes de uma eleição incerta. Estavam também preparando o terreno para melhorar as relações entre o Vale do Silício e Washington.
O relacionamento entre alguns dos líderes de tecnologia e Donald Trump se deteriorou rapidamente após a reunião na Trump Tower em 2016. Poucas semanas após o início do governo Trump, alguns deles criticaram sua ordem executiva que impedia temporariamente a imigração a partir de sete países de maioria muçulmana. Sergey Brin, um dos cofundadores do Google, foi visto em um protesto contra a medida no aeroporto de São Francisco.

A revolta do Vale do Silício semeou tensão com o governo Trump. As relações tensas continuaram quando Joe Biden assumiu o cargo em 2021.

O governo de Biden colocou o setor de tecnologia em seu encalço com ações antitruste mais agressivas e forte repressão a fusões e aquisições. Nos últimos quatro anos, o Ministério da Justiça e a Comissão Federal de Comércio moveram ações antitruste contra a Amazon, a Apple, a Meta (M1TA34) e a Alphabet (GOGL34), empresa controladora do Google. Os processos ameaçaram seus negócios, especialmente o Google, que foi considerado monopolista.

FTC também adotou uma postura mais rigorosa em relação a fusões e aquisições e iniciou uma investigação sobre os investimentos das grandes empresas de tecnologia em startups de inteligência artificial. O escrutínio da agência foi criticado por capitalistas de risco e outros por desacelerar negócios no Vale do Silício e impedir o progresso de oportunidades tradicionais de crescimento de grandes empresas.

Segundo Trump, os líderes das grandes empresas de tecnologia expressaram disposição para virar a página com relação às dificuldades regulatórias. Ele tem se mostrado receptivo aos seus apelos, tendo ouvido com simpatia as queixas de Cook, durante uma ligação no mês passado, sobre os reguladores europeus.

Durante uma entrevista em um podcast no mês passado, Trump lembra de ter dito a Cook que não iria “deixar que eles tirem vantagem de nossas empresas”. “Isso não vai acontecer.”

Trump também expressou ceticismo sobre a possibilidade de o governo dividir o Google, dizendo que considera a empresa um baluarte contra as ambições tecnológicas da China. Embora o presidente eleito tenha criticado o Google ao longo dos anos pela forma como seu algoritmo classifica artigos de notícias sobre ele, ele expressou preocupação de que enfraquecê-lo poderia ser arriscado em um momento de competição tecnológica internacional.

Lina Khan, presidente da Comissão Federal de Comércio, testemunha durante uma audiência do Comitê Judiciário da Câmara dos Representantes no Capitólio, em Washington, em 13 de julho de 2023. Khan tem processado agressivamente grandes empresas de tecnologia. (Foto: Tom Brenner/The New York Times)

Essas posições regulatórias mais brandas aumentaram as esperanças no Vale do Silício de que Trump possa substituir Lina Khan, presidente da Comissão Federal de Comércio, que tentou bloquear fusões, e Gary Gensler, chefe da Comissão de Valores Mobiliários, que antagonizou o setor de criptomoedas.

O mandato de Khan expirou e Trump terá que decidir se a mantém no cargo. Ela foi elogiada pelo vice-presidente eleito JD Vance por estar disposta a ir atrás de grandes empresas de tecnologia. Mas suas opiniões serão apenas uma das muitas consideradas por Trump, que tem um histórico de buscar e ponderar opiniões divergentes sobre as questões antes de tomar decisões finais.

Ao se envolverem diretamente com Trump, os executivos de tecnologia aumentam suas chances de influenciar suas decisões, incluindo a possível substituição de Lina Khan, disse Adam Kovacevich, CEO da Câmara do Progresso, um grupo de políticas de tecnologia que recebe o apoio de empresas como a Amazon e a Apple.

“Sabemos que ele é suscetível até a última pessoa que fale em seu ouvido”, disse Kovacevich. “Seu estilo de gestão não mudou, mas ele pode estar mais versado com relação a o que priorizar.”

Segundo Sonnenfeld, a abordagem dos executivos de tecnologia nos últimos meses mostra que eles entendem o valor de permanecer unidos em questões. No passado, Trump buscava vantagem nas negociações ao colocar concorrentes uns contra os outros, como a General Motors e a Ford Motor Company. A maneira como os executivos de tecnologia entraram em contato diretamente com Trump, transmitindo mensagens semelhantes, sugere que eles reconhecem a importância de alcançar um consenso.

“Se for muito bajulador, Trump atropela você”, analisou Sonnenfeld. “É necessária uma ação coletiva para evitar ser vitimizado.”