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Disney tem novo problema para resolver: a queda da procura por seus parques

Para companhia, menor demanda poderá impactar próximos trimestres

Brooks Barnes The New York Times

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Na aparentemente interminável sequência de problemas que a The Walt Disney tem enfrentado, surgiu mais uma questão desafiadora: impactados por anos de inflação elevada, os norte-americanos têm menos dinheiro para gastar com diversão, o que coloca em risco o crescimento dos parques temáticos da Disney.

A Disney anunciou esta semana que seus parques temáticos alcançaram resultados abaixo das expectativas no trimestre encerrado em 29 de junho. A receita cresceu 2% na comparação com o ano anterior, fechando o período em US$ 8,4 bilhões, enquanto o lucro operacional caiu 3%, para US$ 2,2 bilhões. A Disney atribuiu o problema a uma ‘moderação na demanda dos consumidores’ que ‘superou nossas expectativas anteriores’, além de custos mais elevados. Segundo a Disney, a redução da demanda “poderá impactar os próximos trimestres”.

Hugh F. Johnston, diretor financeiro da Disney, comentou em uma teleconferência com analistas que “o consumidor com renda mais baixa está se sentindo um pouco estressado, enquanto aquele que tem renda mais alta está fazendo mais viagens internacionais”.

Uma entrada para o Disney’s Magic Kingdom no Walt Disney World em Lake Buena Vista, Flórida, 7 de novembro de 2023. O lucro de toda a empresa aumentou, resultado de filmes de sucesso e crescimento do streaming. Mas a Disney disse que a demanda mais fraca por parques temáticos “poderia impactar os próximos trimestres”. (Todd Anderson/The New York Times)


Os parques temáticos assumiram uma importância financeira muito maior na Disney na última década. Eles desempenharam a função de fontes de receita que financiaram a cara expansão da Disney para o streaming e compensaram a queda no negócio de televisão a cabo da empresa. No ano passado, a Disney Experiences, uma divisão que inclui parques temáticos e navios de cruzeiro, contribuiu com 70% do lucro operacional da The Walt Disney Co., na comparação com cerca de 30% há uma década.

Bob Iger, CEO da Disney, descreveu os parques temáticos e os navios de cruzeiro como ‘um motor de crescimento essencial’. No ano passado, a Disney disse que investiria cerca de US$ 60 bilhões ao longo da próxima década para expandir seus parques e continuar construindo a Disney Cruise Line, o dobro do valor gasto na década anterior. Acredita-se que Josh D’Amaro, presidente da Disney Experiences, anuncie uma série de projetos de expansão específicos no sábado, durante uma convenção de fãs em Anaheim, Califórnia.

No entanto, há preocupações de que a economia dos EUA possa estar se encaminhando para uma recessão. Além disso, o crescimento global das viagens ocorrido no período pós-pandemia já acabou. Mencionando uma ‘normalização’ na demanda, a Comcast informou no mês passado que a receita trimestral dos parques temáticos da Universal caiu 11%, enquanto o lucro antes dos impostos despencou 24%.

Na quarta-feira, Rich Greenfield, fundador da LightShed Partners, disse em nota de cliente que “o aumento dos níveis de descontos na Universal e, em menor grau, na Disney, é cada vez mais alarmante”.

Pessoas se reúnem no parque temático Magic Kingdom antes do desfile “Festival of Fantasy” no Walt Disney World em Orlando, Flórida, EUA, em 30 de julho de 2022 (REUTERS/Octavio Jones/Foto de arquivo)


Iger tem se esforçado para liderar a Disney para que a empresa possa superar um período turbulento, no qual investidores ativistas buscaram alterar a direção da companhia. Nelson Peltz, um desses ativistas, promoveu uma disputa de procuração buscando conquistar assentos no conselho e criticou severamente a estratégia de streaming, o planejamento de sucessão e o desempenho das ações da Disney. A empresa rechaçou os ataques, mas o valor de suas ações caiu mais de 25% desde o início de abril.

“Se a Disney não reverter essa tendência negativa, pode surgir a ameaça de uma nova rebelião de ativistas”, explicou Paul Verna, analista de mídia da Emarketer, por e-mail na semana passada.

O restante do trimestre da Disney foi sólido. A receita total da empresa cresceu 4% em relação ao ano anterior, alcançando US$ 23,2 bilhões, ligeiramente acima das expectativas de Wall Street. O lucro ajustado por ação aumentou 35%, para US$ 1,39, superando as expectativas em 20 centavos. A Disney aumentou sua meta anual para o crescimento dos lucros ajustados para 30%. Anteriormente, a empresa havia dito aos investidores que esperassem 25%.

Os filmes trouxeram algumas das vantagens trimestrais. Lançado em junho, “Divertida Mente 2” arrecadou US$ 1,6 bilhão em todo o mundo e reverteu a queda da Pixar, que pertence à Disney. “O Reino do Planeta dos Macacos”, da 20th Century Studios, da Disney, foi um sucesso em maio, arrecadando quase US$ 400 milhões. (Após o término do trimestre, a Disney lançou “Deadpool & Wolverine” e obteve vendas recordes de entradas.)

A recuperação do estúdio de cinema da Disney veio no momento certo, com os resultados ‘mais do que compensando’ a desaceleração nos parques temáticos, afirmou Johnston. A Disney tem vários prováveis megassucessos que chegarão aos cinemas nos próximos seis meses, dentre os quais “Moana 2”, “Mufasa: O Rei Leão” e “Capitão América: Admirável Mundo Novo.”

A ESPN obteve um aumento de 4% no lucro operacional, que fechou em US$ 1,1 bilhão. A maior parte do crescimento vindo do exterior. As vendas de anúncios para os canais a cabo domésticos da ESPN aumentaram 17%, mas os custos mais elevados, entre outros fatores, limitaram o aumento nas receitas operacionais domésticas a 1%.

A Disney também se beneficiou de resultados melhores em streaming. Juntos, os três serviços da Disney (Disney, Hulu e ESPN) geraram US$ 47 milhões em receita operacional, em comparação com uma perda de US$ 512 milhões um ano antes. Foi a primeira vez que a divisão direta ao consumidor da Disney como um todo obteve lucro. Anteriormente, a Disney havia anunciado que não atingiria essa meta até o final deste ano.

A empresa encerrou o trimestre com 153,8 milhões de assinantes no mundo todo, 200 mil a mais do que no trimestre anterior.

À medida que se esforçava para tornar o streaming lucrativo, a Disney promoveu uma série de reajustes de preços, e outros ainda estão por vir.

Na terça-feira, a empresa informou que a partir de 17 de outubro, a versão sem anúncios da Disney passará a custar US$ 16 por mês, em comparação com os US$ 14 anteriores. (A versão da Disney com suporte de anúncios custará US$ 10, também US$ 2 mais caro). No próximo mês, a empresa apresentará “playlists contínuas”, ou canais em reprodução constante que imitam a experiência televisiva tradicional.

Ela também anunciou aumentos de preços para assinaturas do Hulu.

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NYT: ©.2024 The New York Times Company

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