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Imagine isso: você está em um cruzeiro, contemplando o azul brilhante do Mar Mediterrâneo. Daí, em vez de se jogar em uma espreguiçadeira com um martini e uma porção de batatas fritas, você se dirige a uma estação intravenosa para um tratamento com células-tronco, seguido de uma rápida aplicação de Botox e uma refeição saudável inspirada em uma zona azul, cultivada na fazenda orgânica movida a energia solar do navio.
Esse é apenas um exemplo do que acontece em um cruzeiro de bem-estar da Storylines, tudo em nome do turismo de longevidade, uma oferta da indústria de bem-estar que está em rápido crescimento e movimenta US$ 5,6 trilhões.
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Essa nova abordagem às viagens “nasceu de uma reflexão profunda sobre o modelo centenário de férias: o excesso”. “Muita comida e bebida, e pouco sono em destinos abarrotados de turistas”, explicou Beth McGroarty, vice-presidente de pesquisa do Global Wellness Institute, uma organização sem fins lucrativos, em entrevista à Fortune. “Era um clichê porque era verdade: as pessoas voltavam se sentindo pior do que quando partiram.”
A Storylines se autodenomina uma “zona azul no mar”, tirando proveito do desejo dos consumidores de viajar para se tornarem mais saudáveis e viver mais — talvez até mais de 100 anos — em vez de se deixarem levar pelo exagero sem pensar duas vezes a respeito.
“Viajantes globais entendem que para aproveitar as viagens pelo mundo é necessário ter um certo nível de saúde e preparo físico”, explica Alister Punton, CEO da Storylines. “Eles querem conseguir caminhar pelas ruas de paralelepípedos das cidades europeias, percorrer a Trilha Inca e mergulhar com snorkel no Mar Vermelho. Então faz sentido que longevidade, bem-estar e turismo andem de mãos dadas.”
Também a bordo: uma academia de 930 metros quadrados que oferece aulas de ioga, sessões de meditação e personal trainers; bares de smoothies; e um centro de envelhecimento ideal que oferece terapia de reposição hormonal bioidêntica, tratamentos para aumentar a energia e a libido, além das estações de infusão intravenosa mencionadas anteriormente, onde é possível obter desde vitaminas até tratamentos de quelação, que removem metais pesados, como chumbo, da corrente sanguínea. (É importante manter em mente que algumas ofertas de longevidade disponíveis durante as viagens, como tratamentos com células-tronco e câmaras hiperbáricas de oxigênio, ainda não foram amplamente testadas nem aprovadas pelo FDA para pessoas que, de modo geral, são saudáveis.)
Quer dizer então que agora viajar significa eliminar a comida à vontade e as piña coladas à beira da piscina?
Isso certamente não é para todos, mas é para alguns: entre 2020 e 2022, o número de pessoas que realizaram viagens de bem-estar aumentou em 30%, e o setor do turismo de bem-estar deve movimentar US$ 1 trilhão até o final de 2024, de acordo com o Global Wellness Institute, que começou a monitorar esse segmento há 15 anos, na mesma época em que o uso de smartphones começou a crescer. McGroarty acredita que isso não é coincidência.
“As pessoas simplesmente ficaram muito mais estressadas, deprimidas e doentes, e estão exigindo experiências de viagem que as ajudem a se curar”, explica.
Hoje, esse tipo de viagem se entrelaçou com o mercado de longevidade que, segundo o relatório anual do Global Wellness Institute, está em rápida expansão, cujo valor é avaliado em US$ 27 bilhões e que é um dos setores de bem-estar que mais cresce. Os itinerários — não apenas de cruzeiros, mas também de resorts de luxo e residências de férias — prometem um oásis onde o spa de bem-estar se encontra com o biohacker, onde quer que ele esteja.
Esse é o caso do Estate, uma joint venture entre o presidente do SBE Entertainment Group, Sam Nazarian, e o guru de autoajuda Tony Robbins, que é considerada “um revolucionário ecossistema residencial e de hospitalidade de luxo, ancorado no mundo da medicina preventiva, da IA e da longevidade”, que planeja lançar 15 hotéis e dez centros de longevidade até 2030. Segundo a Bloomberg, a premissa será baseada em parcerias de clínicas de medicina preventiva e spas antienvelhecimento, adjacentes a restaurantes e hotéis cinco estrelas, com o centro de longevidade Fountain Life, tudo a partir de US$ 1.000 por noite.
“Não estamos construindo hotéis médicos, estamos construindo hotéis de luxo, residências e clínicas urbanas que se diferenciam pelo compromisso de mudar a vida das pessoas”, diz Nazarian em um comunicado à imprensa.
Enquanto isso, no Six Senses Ibiza, os hóspedes podem se aventurar no RoseBar. Para não ser confundido com um local para tomar um “dirty martini” tarde da noite, esse é um clube de longevidade que testa os biomarcadores dos frequentadores e oferece conselhos personalizados elaborados por diversos “coaches” de saúde a respeito de estilo de vida, nutrição e exercícios. Ele também abriga uma imersão a frio, câmara hiperbárica de oxigênio, sauna infravermelha e estações de infusão intravenosa.
“Não é preciso se comprometer com um retiro completo. Você pode apenas agendar uma sessão de luz vermelha de 30 minutos, um reforço de crioterapia ou uma infusão intravenosa restauradora para combater a fadiga da viagem”, explica Talana Bestall, membro fundadora do RoseBar. O objetivo é capacitar você para escolher exatamente o que seu corpo precisa, quando precisa.
O bar é uma homenagem a medidas holísticas de bem-estar e “combina os poderes da ciência e do bem-estar espiritual para melhorar a expectativa de vida saudável da humanidade”. É o que promete a rede de resorts, cujo diretor de bem-estar é Mark Hyman, o médico de medicina funcional e entusiasta da longevidade das celebridades. Você também pode participar de um mergulho profundo no programa “Young Forever” (Jovem para Sempre) de Hyman, que é uma desintoxicação de seis dias para reverter o envelhecimento, aliviar o estresse e aprender a ativar seus “interruptores de longevidade”.
Seguem alguns exemplos de outros refúgios de bem-estar de luxo e suas ofertas de alto padrão.
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A infusão intravenosa de quatro intervenções
No Four Seasons Resort Maui, os hóspedes podem desfrutar de diversas ofertas voltadas para a longevidade, mais intensas — e invasivas — do que as massagens, academias ou tratamentos faciais normalmente associados a viagens de luxo.
Por exemplo, em parceria com o centro de longevidade Next|Health você pode obter uma terapia de quatro intervenções com ozônio, células-tronco, exossomos e NAD+ por US$ 44 mil. E pela pechincha de US$ 299, você pode adquirir um “Hangover IV” (IV da Ressaca, em tradução livre), um tratamento de desintoxicação de 30 minutos, ou um “Gut Health IV” (IV para a Saúde Intestinal, em tradução livre) para reduzir a inflamação.
200 biomarcadores de dados
O resort de bem-estar e spa Canyon Ranch lançou recentemente o Longevity8, um retiro de quatro dias por US$ 20 mil em Tucson, Arizona, onde as estadias iniciam com a coleta de sangue e uma consulta médica personalizada, seguidas de exames de sono e avaliações de resistência.
A esperança é que os hóspedes saiam revigorados — com mais de 200 biomarcadores sendo avaliados — e um plano de ação.
“A medicina tradicional ainda não está focada na prevenção, então pessoas que têm recursos estão buscando novos destinos ou programas de concierge de bem-estar médico para assumir o controle sobre sua saúde antes que ela se torne um problema”, afirma McGroarty.
Apresentando agora… a escola da longevidade
Outros, especialmente investidores e capitalistas de risco, estão interessados em integrar a educação sobre longevidade em suas viagens. E por US$ 70 mil, o empreendedor da longevidade Peter Diamandis oferece uma “Viagem Platinum da Longevidade” de cinco dias, durante a qual as pessoas aprendem com pesquisadores o básico sobre como otimizar o sono, nutrição e exercícios, além de novos tratamentos e biohacks. Ele chama o programa de seu “mergulho profundo de cinco dias e cinco estrelas na longevidade”.
Embora Diamandis organize retiros para capitalistas de risco e empreendedores há mais de uma década, o itinerário focado na longevidade, que agora está em seu sexto ano, só decolou recentemente, afirma o empreendedor. “As pessoas vão porque querem resolver um problema de saúde que alguém da família está enfrentando”, explicou à Fortune. “Personalizamos a viagem de cada participante, o que envolve entrevistar todos com antecedência para entender suas expectativas… a demanda e o interesse por isso cresceram significativamente.”
Diamandis levanta a hipótese de que o aumento no turismo de longevidade decorre da rápida inovação naquilo que ele considera um “renascimento da longevidade saudável”, área em que a pesquisa destacou o poder que o indivíduo tem de melhorar seus resultados de saúde. Como resultado, empreendedores ricos estão ansiosos para liderar o uso de dados para aprimorar os resultados relacionados ao estilo de vida e à saúde.
E, à medida que envelhecer com problemas de saúde não é mais considerado inevitável — pelo menos para os privilegiados — cada vez mais pessoas estão vendo nas férias a oportunidade ideal para aprimorar suas escolhas de estilo de vida. Seja uma infusão intravenosa antes do jantar ou Botox no navio, as pessoas estão redefinindo o significado de viajar, e isso está se tornando cada vez mais exclusivo.
“Eu chamo esse novo mercado de bem-estar supermédico, de alta tecnologia e ainda mais caro de um novo bem-estar ‘hardcare’”, explica McGroarty. “A programação de longevidade médica está surgindo em lugares inesperados.”
Esta matéria foi publicada originalmente em Fortune.com