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Fait La Force não vai ganhar com o Valentine’s Day, dia dos namorados nos Estados Unidos nesta sexta-feira (14). Por um lado, é uma cervejaria, que, a risco de generalizar, não sinaliza romance. Seu pub em Nashville, Tennessee, é aberto e industrial, não tem velas nem menu fixo, e a comida — sanduíches de uma loja local — é notoriamente difícil de comer de forma atraente.
“Não somos o local para um encontro romântico sofisticado, aquele lugar para um jantar fino”, disse Parker Loudermilk, co-proprietário e fundador da cervejaria. “Mas também não somos tão simples a ponto de sermos ironicamente sofisticados”. A cervejaria não é tão casual a ponto de entrar no mercado de piadas sobre o Valentine’s Day (como uma sobre o serviço à mesa no White Castle, uma cadeia de fast-food norte-americana).
Tudo isso representa um problema — ou uma oportunidade: “Cansado das travessuras melosas do Cupido?”, diz o folheto das festividades do bar no dia 14 de fevereiro. “Junte-se a nós para o Anti-Dia dos Namorados, também conhecido como Noite Emo”. O evento gira em torno de uma playlist com My Chemical Romance, Taking Back Sunday e Good Charlotte, para citar alguns. O bar também servirá margaritas com chamoy escorrendo pela lateral, chamadas de Corações Sangrando.
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“Estávamos pensando que uma festa de Anti-Dia dos Namorados meio que alivia o que pode ser um dia pesado para as pessoas”, disse Shanley Deignan, diretora de marketing da cervejaria.
Ninguém consegue escapar completamente do Valentine’s Day. Celebrar é reconhecer; não celebrar enfaticamente também é uma forma de reconhecimento. Ter uma abordagem casual para o dia exige ignorar deliberadamente que o mundo todo foi temporariamente coberto por ursos de pelúcia vermelhos e rosas.
Talvez mais do que qualquer outro negócio, os restaurantes tendam a se aproveitar do feriado. Mas, embora seja uma das noites mais movimentadas do ano, ignora uma parte significativa da população.
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“Tudo está rosa, e seu menu precisa ser rosa e vermelho e clichê, e para dois”, disse Sydney Buck, uma chef particular no bairro de Queens, em Nova York, e cética em relação ao Valentine’s Day, que, este ano, realizará sua quinta aula de fabricação de bolinhos “descarte seu ex”.
“As pessoas têm essa sensação meio estranha sobre isso”, disse ela. “Especialmente se estão solteiras”.
Assim, a internet está cheia de pessoas, tanto casadas quanto solteiras, desesperadas por outras opções. E nem todos os estabelecimentos estão preparados para o romance elevado do Dia dos Namorados, seja pela prática ou por natureza.
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“Como restaurateur, nunca fui fã de pessoas se beijando à mesa enquanto os outros ao lado tentam desfrutar de uma refeição”, escreveu Jamie Boudreau, proprietário do restaurante e bar de coquetéis Canon, em Seattle, em um e-mail.
Por 14 anos, o Canon marcou a ocasião com um evento chamado Massacre do Dia de São Valentim. Folhetos alertam que “qualquer casal que demonstre abertamente afeto (como segurar as mãos, beijar ou sussurrar palavras doces)” corre o risco da ira e do julgamento dos outros clientes, expressos através de “uma (ou todas) das 24 pistolas de água colocadas pela sala”.
O evento, explicou Boudreau, visa “proporcionar um refúgio seguro para aqueles que não querem estar cercados em um ambiente que se assemelha a um set de um softporn“. Mas também é um negócio inteligente: com seis mesas, dois balcões e assentos no bar, o Canon “literalmente perderia milhares” de dólares, disse ele, se incentivasse o tipo de permanência tântrica associada ao feriado.
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Há até jantares especiais voltados para clientes solteiros. A edição de Valentine’s Day do clube de jantares Sichuanese da chef Charlene Luo, a Baodega (ou, neste fim de semana, “bao-bae-ga”), aceita apenas reservas individuais. Sem casais. Sem amigos de longa data. Não é um evento de encontros, mas, como explicou Luo, “todo mundo está idealmente procurando alguém”, o que cria, se não romance, pelo menos camaradagem.
“Eu só queria criar um espaço seguro para as pessoas, sem pressão”, disse ela. “Não é tão sério assim”. Ainda assim, ela tem ambições secretas. “É meu sonho ser convidada para um casamento da Baodega algum dia.”
Nem toda programação alternativa para o Dia dos Namorados é direcionada exclusivamente, ou mesmo principalmente, aos solteiros. Todos, independentemente do status de relacionamento, podem se rebelar contra a tirania da tradição no Laundromat, uma pizzaria e bar de vinhos em San Francisco. No Valentine’s Day, oferecerá pintura ao vivo e um artista de balões, além de um DJ; pode ser o cenário para um encontro, mas a intenção é uma celebração mais ampla do amor em suas várias formas.
Essa é mais ou menos a mesma ideia por trás do “Love Stinks”, um evento anual no Hart’s, no Brooklyn, que Nialls Fallon, um dos proprietários, descreve como uma alternativa à programação de filé e champanhe. Há um menu fixo de pratos pungentes (polenta com queijo forte, puntarelle com anchovas), e o tema é adaptável, dependendo das suas necessidades. Compartilhar uma cascata de pratos exóticos com seu amado pode ser o auge da intimidade. Alternativamente, é um reconhecimento de que “o amor pode literalmente ser desagradável às vezes”, disse Fallon.
Para Loudermilk, do Fait La Force, o aparente apetite por programação alternativa como a Noite Emo sugere que as pessoas estão cansadas da hegemonia da Hallmark (empresa de cartões e embrulhos de presente com mensagens padronizadas). Elas estão “realmente tentando se opor à corporatização de tudo”, disse ele. Celebrar sem as armadilhas clássicas é, se não revolucionário, “talvez um pouco contracultural”.
“Não estamos tentando ser excludentes”, acrescentou Deignan. E como poderiam ser? Em uma contradição que não passou despercebida por eles, Loudermilk e Deignan se casaram no ano passado.
c.2025 The New York Times Company