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Dessa vez não foi preciso denúncia de ONG, acusação do Ministério Público ou assinatura de Termos de Ajustamento de Conduta (TAC). Diferente do que aconteceu na Amazônia, os grandes frigoríficos do Brasil aderiram voluntariamente ao protocolo para compra de gado no Cerrado.
Na verdade, muitos participaram da criação do documento apresentado oficialmente na noite de ontem em São Paulo. Imaflora, Proforest e NWF passaram os últimos quatro anos coletando contribuições da indústria de alimentos, Ministério Público e entidades de produtores para elaborar o protocolo.
De largada, JBS (JBSS3), Minerva (BEEF3) e Marfrig (MRFG3) já aderiram ao protocolo. A meta da Associação Brasileira dos Exportadores de Carne (ABIEC) é que todos os seus associados adotem padrões de monitoramento em todo o Brasil em até dois anos.
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O Cerrado se transformou no grande alvo dos ambientalistas, depois que o combate ao desmatamento na Amazônia foi intensificado. Dados do IBGE e do Ministério da Agricultura mostram que o Bioma tem 60 milhões de cabeças de gado, ou seja, cerca de 36% do rebanho nacional.
“O Cerrado conta com 30% das fazendas fornecedoras e responde por 47,8% dos bovinos processados pela JBS. Esperamos que haja uma unificação e a aplicação de protocolos nos demais biomas também”, disse em nota Liège Correia, diretora de sustentabilidade da JBS.
No caso da Marfrig, a empresa disse já rastrear 100% dos seus fornecedores diretos no Cerrado e 71% dos indiretos. “O protocolo do Cerrado é um conjunto de parâmetros estabelecido em âmbito multissetorial, que proporciona isonomia e padroniza – de forma factível – os critérios socioambientais para aplicação por todos os elos da cadeia de valor”, disse Leonel Almeida, gerente de sustentabilidade da Marfrig.
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Em nota, a Minerva Foods disse estar comprometida em contribuir para uma atividade pecuária cada vez mais sustentável. Segundo a empresa, ela já monitora todos os fornecedores diretos da cadeia produtiva no Brasil desde 2020, incluindo o bioma Cerrado.
Denominado Protocolo de Monitoramento Voluntário de Fornecedores de Gado, o documento elenca 11 critérios e gera uma base comum de conformidade socioambiental para os criadores. A ideia é que as regras funcionem como um guia para a produção e a compra responsável de gado no Cerrado.
Os critérios adotados no Cerrado, de fato, são muito semelhantes aos já seguidos pelos frigoríficos para a compra de gado na Amazônia. Prevê a análise de uma possível sobreposição das fazendas com terras indígenas, quilombolas e Unidades de Conservação a partir do Cadastro Ambiental Rural (CAR).
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Também cruza os dados da fazenda e seus proprietários com as listas públicas de trabalho escravo e de embargos ambientais. E tenta ainda analisar as Guias de Trânsito Animal (GTA) e da produtividade dos pecuaristas, como forma de inibir a triangulação de animais provenientes de áreas com irregularidades.
O protocolo do Cerrado se espelha na experiência do Boi na Linha, implantado na Amazônia desde 2019, a partir de uma parceria entre Imaflora e o Ministério Público Federal. O Boi na Linha foi a primeira iniciativa a harmonizar regras do setor e vem se aperfeiçoando gradativamente.
“Utilizamos os cinco anos de experiência para levar a outro bioma soluções que respaldam a produção frente aos mercados mais exigentes, ajudam a consolidar a prática da pecuária sustentável e contribuem para o enfrentamento da crise climática”, disse Lisandro Inakake, gerente de projetos em cadeias agropecuárias do Imaflora.
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