Conteúdo editorial apoiado por

FriGol tenta compensar mercado adverso com maior eficiência

Quarto maior frigorífico de carne bovina do país encara queda de margens, mas amplia capacidade de produção

Fernando Lopes

Publicidade

Quando comemorou os resultados recorde obtidos no ano passado, brindando a uma mudança de estratégia que ampliou o peso das exportações nos negócios e acelerou seu ritmo de crescimento, a FriGol, quarta maior companhia de carne bovina do país, atrás de JBS, Marfrig e Minerva, sabia que em 2023 o cenário seria mais difícil. Os preços da proteína já estavam em queda na China, principal mercado para os embarques da empresa (e do país), as vendas no Brasil continuavam fracas e o início da trajetória de queda da taxa básica de juros (Selic) dava sinais de que demoraria a ser deflagrado. O quadro demandava cautela e,  diante dele, ajustes de rota seriam necessários.

De lá para cá, a FriGol, que em 2022 registrou receita líquida de R$ 3,6 bilhões, 21% mais que em 2021, e lucro líquido de R$ 132,9 milhões, com alta de 226% na mesma comparação, voltou as atenções para dentro de casa e passou a investir em expansões e melhorias em unidades e processos, para se preparar para dias melhores. Em março, a suspensão temporária das exportações de carne bovina brasileira à China, por causa da confirmação de um caso atípico da doença da “vaca louca” no Pará, aprofundou o quadro adverso. Mas a situação já melhorou e, na empresa, o diagnóstico é que o plano traçado está sendo bem-sucedido e os investimentos realizados permitirão um avanço mais forte em 2024.

“Fizemos de 2023 ‘o ano da eficiência’. Estamos ampliando a capacidade de produção das nossas unidades, sofisticando o processo de monitoramento do gado que compramos para garantir a sustentabilidade dos produtos que vendemos, ampliando o relacionamento com clientes no varejo e no food service, no Brasil e no exterior, e diversificando as exportações”, afirmou Eduardo Miron, CEO da FriGol, ao IM Business. “E tivemos uma grata surpresa: o mercado doméstico começou a melhorar. Voltou a crescer, e essa tendência deverá se consolidar com a inflação em baixa e o início da queda dos juros”, disse ele em entrevista no dia 21 de julho.

Segundo o executivo, os investimentos em melhorias e expansões das três plantas de bovinos da companhia vão chegar a R$ 50 milhões este ano. Uma das unidades está situada em Lençóis Paulista, onde está a sede da companhia, e as outras duas são no Pará, nos municípios de Água Azul do Norte e São Félix do Xingu. Em Lençóis a FriGol também conta com um frigorífico de suínos e uma graxaria. As ampliações estão elevando a capacidade de cada uma das unidades em cerca de 25% num momento em que os preços dos bovinos estão em baixa no país graças ao incremento da oferta. O que pode acelerar a retomada quando o horizonte melhorar em todas as frentes, mesmo que o câmbio permaneça menos camarada para os negócios internacionais.

Eduardo Miron, CEO da FriGol, afirma que a recuperação do mercado doméstico já começou e deve se consolidar com a inflação em baixa e o início da queda dos juros (Foto: divulgação)

Além de escoarem seus cortes de bovinos no mercado brasileiro, os frigoríficos de Lençóis Paulista e Água Azul do Norte têm permissão para exportar à China. De São Félix do Xingu, por sua vez, saem os produtos vendidos a Israel, mercado tradicional para a companhia e segundo maior destino das vendas externas – são mais de 60, e países asiáticos como Indonésia, Malásia e Filipinas estão sendo prospectados. Em 2022, a China recebeu quase 80% de embarques que, no total, responderam por 52,7% das vendas. Com a suspensão de março, a fatia das exportações totais nas vendas caiu para 42,3% no primeiro trimestre, mas os resultados no segundo trimestre deverão mostrar que a participação chinesa voltou a superar 50%.

De janeiro a março, a receita das vendas à China alcançou US$ 44,4 milhões, uma retração de 51% ante igual intervalo de 2022. No total, a receita líquida da FriGol somou R$ 697,3 milhões, em baixa de 30%, e houve prejuízo líquido de R$ 15,2 milhões. O volume de vendas no mercado interno recuou 3% em relação ao primeiro trimestre de 2022, para 38,6 mil toneladas, e o abate de bovinos diminuiu 2,3%, para 119,5 mil cabeças.

Continua depois da publicidade

Segundo Miron, o monitoramento do gado comprado para abastecer os frigoríficos paraenses e paulista continua a ser uma das prioridades da companhia. Segundo dados do Ministério Público Federal no Pará, as compras da empresa estão 100% dentro da lei no Estado, e a Frigol recentemente foi o primeiro frigorífico do país a assinar o Protolocolo de Monitoramento Voluntário de Fornecedores de Gado do Cerrado, desenvolvido pelas ONGs Proforest e Imaflora.

Para fortalecer o caixa e alongar dívidas – e já pensando também nos investimentos que estavam no radar –, a FriGol realizou duas emissões de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) no ano passado, em junho e novembro, no valor total de R$ 210,6 milhões. Segundo Miron, no momento não há nenhuma nova operação em curso, mas as emissões se mostraram uma boa alternativa e a empresa continua querendo aumentar o prazo da dívida. Atualmente, o valor total está em cerca de R$ 300 milhões,  R$ 200 milhões dos quais vencem no longo prazo. “Quanto mais alongarmos, melhor”, afirmou o CEO.