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“Estamos no inverno [das startups], mas a primavera está chegando”, diz Eric Ries

Para o autor do livro ‘Startup Enxuta’, o setor de tecnologia começa a se recuperar e o Brasil pode liderar frentes de inovação

Mariana Amaro

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Os investimentos de capital de risco caíram ao seu menor nível desde o segundo trimestre de 2020, ao patamar de US$ 60,5 bilhões no mundo. Depois de um excesso de liquidez e valuations inflados, o que esteve na ‘moda’ foi a palavra ‘layoff’, que representa as demissões em massa que acometeram a indústria de tecnologia e levaram mais de 150 mil postos de trabalho.

Nesse cenário, o mundo mágico dos unicórnios, as empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão, que queimaram caixa em busca de crescimento exponencial, foi, aos poucos, substituído pela volta à ‘startup enxuta’. O termo é o título do livro lançado em 2011 pelo engenheiro e empreendedor Eric Ries, que também cunhou termos comuns ao vocabulário ‘startupeiro’, como MVP (produto mínimo viável) e ‘pivotar’, no sentido de mudar a direção de um negócio. A obra virou uma espécie de ‘manual’ para empreendedores.

Eric Ries, autor do best-seller “Startup Enxuta”: o inverno das startups está prestes a acabar (Foto: Divulgação)

Mais de uma década depois, Ries está à frente da Long-Term Stock Exchange (LTSE), uma Bolsa de Valores registrada na SEC e fundada por ele, com foco mais em sustentabilidade dos negócios e menos em resultados trimestrais. Ries esteve no Brasil para apresentar-se no Startup Summit, que aconteceu em Florianópolis. E, lá, antes de subir ao palco, falou com o IM Business.

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A última década

A publicação de Startup Enxuta passou como um furacão na vida de Ries – e o levou para dezenas de países. “Tinha um olhar muito míope e local para o empreendedorismo. Também tinha uma ingenuidade de achar que passaria toda a minha vida em um combate intelectual contra as ‘velhas ideias de empreendedorismo’. Mas a grande mudança foi que eu ganhei essa briga rápido demais. Não há outras teorias que desafiem o conceito de startup enxuta”, afirma Ries.

E mesmo entre aqueles que não simpatizam com o formato de trabalho sugerido pelo livro, diz Ries, precisam adotar o mesmo vocabulário. “As palavras que foram criadas lá, inclusive a palavra startup, fazem parte do ‘léxico’ de empreendedores”, afirma o autor. Para ele, o mundo enxergar que uma startup é uma entidade distinta de uma pequena empresa, também do ponto de vista de gestão, é uma vitória particular.

Mas também houve derrotas. Ou melhor, pontos a melhorar. “Quando escrevi o livro e até alguns atrás, se me perguntassem sobre propósito e valores, eu diria que são coisas para ONGs e caridade. Para mim, as empresas eram feitas para gerar dinheiro e precisam de disciplina e foco em competição. Mas essa mentalidade acabou levando empreendedores a crises de saúde mental e empresas para lados bastante obscuros”, afirma Ries. O autor cita o exemplo do Google. “Eles declaravam a política de ‘don´t be evil’ [não seja malvado, em tradução livre]. Recentemente, foram processados por ex-funcionários por violação dessa política. O que fizeram? Um acordo. Porque sabiam que não podiam se defender”, diz Ries.

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O autor de best-seller, contudo, está otimista com o futuro: “Podemos mudar. E precisávamos desse chacoalhão para perceber que tantas companhias que ajudamos a criar foram para este lado. As pessoas reclamam da alta taxa de mortalidade das startups, mas esta não é a pior coisa que pode acontecer com você. Isso é ruim, sim. Mas é muito pior construir um monstro que você não pode controlar”, afirma, citando, como exemplo, as corporações trabalhando com inteligência artificial.

“Ninguém tem medo da tecnologia. As pessoas estão com medo das corporações, porque sabem como construímos empresas até agora: elas são extrativistas e com visão de curto prazo. Devemos voltar ao básico: empresas deveriam existir para servir pessoas. E vamos precisar confiar nas organizações, as mesmas que não conseguiram fazer pessoas usarem máscara durante uma pandemia, para responder a essas inovações de forma global, porque uma resposta local não funcionará”, diz.

Mudança de estação

O ‘inverno’ das startups, que fez secar os investimentos de risco, não assustou Ries. “Estou no setor há tempo suficiente para não me empolgar quando o mercado cresce nem quando cai”, diz. Mas avalia que parte do pânico que tomou conta do ecossistema foi fundamentado na idade dos empreendedores. “Muitas das startups são fundadas por pessoas jovens que estão passando por um primeiro ciclo de alta ou de baixa na vida. Então, quando viram os valuations explodirem nos últimos anos, acreditavam que tudo estava indo para a lua. E, então, veio o tombo”, afirma.

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Para Ries, o inverno já está perto de acabar. “Estamos vivendo um inverno, mas vai haver uma primavera em breve. Nos últimos anos vimos a ascensão e queda de criptos, web3 e metaverso. Agora, vivemos uma empolgação com a IA. Se não for esta a tendência da próxima década, será alguma outra, mas sempre haverá inovação”, diz.

Em sua análise, o Brasil, “com grande extensão territorial, fontes renováveis de energia, posição geográfica interessante e alianças estratégicas, tem os ingredientes para liderar os próximos movimentos de inovação”. O país, segundo Ries, também é muito acolhedor para estrangeiros – como ele próprio – e imigrantes. “Por tudo que eu conheço do país e da cultura, o Brasil deve ser um polo de inovações”, diz.

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Mariana Amaro

Editora de Negócios do InfoMoney e apresentadora do podcast Do Zero ao Topo. Cobre negócios e inovação.