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“Estamos na melhor janela para investir em 15 anos”, diz Martin Escobari, da GA

Executivo, que já investiu em empresas brasileiras como XP e QuintoAndar, prevê retomada de IPOs nos EUA e volta da liquidez para fundos de private equity

Mariana Segala

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Martin Escobari é um velho conhecido no ecossistema empreendedor brasileiro. Foi por suas mãos que empresas do calibre de XP Investimentos (XPBR31), Arco Educação, QuintoAndar e Gympass chegaram ao porfólio da General Atlantic, gestora americana que já fez aportes em 540 empresas pelo mundo.

Do alto da presidência do comitê global de investimentos da GA, Escobari tem uma visão privilegiada do vaivém dos cheques que abastecem o caixa das empresas mais promissoras do mercado – assim como das portas de saída para quem entrou nesses negócios com grande potencial de crescimento quando eles não passavam de uma aposta. Seu diagnóstico para 2025 é simples e reto: será um ano de animado para o private equity.

Martin Escobari, co-presidente da General Atlantic

O ponto de partida é uma esperada reabertura da janela de IPOs nas bolsas americanas. Nesse ano, aconteceram cerca de 200 aberturas de capital nos Estados Unidos – o que pode parecer muito aos olhos dos brasileiros, que viram o último na B3 há mais de três anos, mas é considerado um número modesto no mercado onde houve mais de 1.000 só em 2021.

A “ressaca” após a euforia do período de pandemia, quando o dinheiro barato ansiava por ter onde ser investido, foi uma das mais longas dos últimos tempos – são três anos e meio de mercado fechado, ganhando do então recorde de 18 meses registrado por volta dos anos 2000, nos idos da bolha das “ponto com”.

“Quando o mercado fica eufórico, saem IPOs de empresas não preparadas. Depois, percebe-se o que não fazia sentido e há uma sangria, gente perdendo dinheiro”, resume Escobari. É um cenário que, a essa altura, já parece depurado.

A eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA é outro aspecto a favor do mercado de private equity, segundo o executivo. A visão é de que sob um governo republicano tanto pode haver um movimento de desregulamentação de certos setores, liberando as amarras da indústria, quanto de maior abertura para fusões e aquisições, deixando para trás o cenário restritivo que, segundo Escobari, foi a realidade no governo democrata.

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Leia também: As ações que ganham e perdem com Trump presidente dos EUA

Liquidez de volta ao private equity

Com quase US$ 90 bilhões sob gestão, a GA é uma das empresas que deve ajudar a alimentar uma nova safra de IPOs. Desde a pandemia, a via de saída preferencial para aportes feitos no passado deixou de ser as bolsas e passou a ser a venda de participações para investidores estratégicos. Escobari acredita que, com a retomada das aberturas de capital, a gestora voltará a uma média de 10 a 15 IPOs de empresas investidas por ano.

“Haverá liquidez voltando para os fundos, permitindo ao private equity voltar a investir”, diz Escobari.

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O que não significa que Escobari esteja parado em campo esperando o cenário se concretizar para só então agir. Pelo contrário. Uma nova onda de investimentos da GA já está em curso, e Escobari estima encerrar 2024 com aportes de US$ 7 a US$ 8 bilhões – perdendo só para os volumes registrados nos primeiros anos da pandemia.

“Estamos na melhor janela para investir dos últimos 15 anos”

— Martin Escobari, co-presidente da General Atlantic

Segundo o executivo, empresas com o perfil almejado pela GA – com crescimento na casa dos 40% a 50% ao ano – ainda podem ser compradas por preços razoáveis. “Para o tipo de empresa de que gostamos, temos visto oportunidades interessantes”.

Esse otimismo está sendo direcionado para os mercados já tradicionalmente acessados pela gestora: 50% do portfólio é formado por empresas americanas, 25% por empresas europeias com atuação global e 25% estão em empresas de países emergentes.

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No último grupo estão as mudanças mais importantes. A empolgação com a China diminuiu bastante nos últimos anos, e está ainda mais evidente agora. “O problema não é falta de estímulos na China, mas, sim, o decoupling [afastamento] entre ela e os EUA”, diz Escobari. “É a incerteza: haverá briga ou não? Quanto tempo vai durar?”.

Quem está ocupando espaço entre os emergentes é a Índia, segundo o executivo. As reformas estabelecidas pelo primeiro-ministro Narendra Modi trouxeram dinamismo ao país e o transformaram, se não na nova China, pelo menos na “bola da vez”.

O Brasil, por outro lado, saiu do radar. “Não do nosso”, adianta-se Escobari, que se autointitula o “maior propagandista do país no mundo”. Mas não está mais na altura dos olhos do mundo do capital.

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“Juros altos com dívida alta e impostos altos não são uma boa combinação. Só dá para resolver cortando gastos”

— Martin Escobari, co-presidente da General Atlantic

O cenário macro, no entanto, não conversa com os aspectos da microeconomia – que está “espetacular”, nas palavras de Escobari. Há boas empresas com estratégias vencedoras se saindo muito bem. Um exemplo é a LiveMode, líder no ecossistema brasileiro de esporte e mídia, em que GA e XP investiram em conjunto neste ano. O fluxo de capital em direção ao país, no entanto, não ajuda.

Se dá para virar o jogo? “O fomo [fear of missing out] está voltando e está na hora de o Brasil entrar nele, mas antes precisa mostrar que tem política fiscal e contenção de gastos”.

Mariana Segala

Diretora de Redação do InfoMoney