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Dominante nos documentos físicos, Valid não tem medo da digitalização

Empresa se desalavancou e agora quer acelerar na transformação digital de governos e sociedade

Rikardy Tooge

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Após concluir um bem-sucedido turnaround, a Valid quer mostrar que não tem medo do futuro. Diferentemente do que se espera de um incumbente, que estaria mais propenso à manutenção do status quo, a empresa que lidera o mercado de emissão de documentos em papel no país, além de imprimir cartões de bancos e chips para celular (SIM cards), não teme os efeitos da digitalização para seus negócios.

“Estamos há 66 anos no Brasil e acompanhamos os vários ciclos de transformação da sociedade. Antigamente, nós imprimíamos debêntures, talão de cheques e cartão telefônico. Eles se tornaram obsoletos — e nós seguimos”, diz Ivan Murias, CEO da Valid, em conversa com o IM Business.

O executivo demonstra já ter mapeado como migrar seus principais negócios à medida que a transformação digital ganha escala entre governos e no hábito das pessoas. Se os documentos digitais pegarem tração definitiva, a Valid pensa em como trabalhar o banco de dados para os governos.

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Com contrato com 19 Estados, entre eles São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, a empresa emite mais de 7 milhões de documentos por mês, sendo responsável por 60% das emissões de RGs e 80% de CNHs. Para o futuro do documento, a Valid se inspira no modelo da Estônia de cadastro único dos cidadãos. Embora o tamanho da população não seja comparável, a espinha dorsal disso já existe no exterior e uma aquisição ou parceria com empresas de govtech desse país não está descartada.

A partir dessa base, cada Unidade da Federação pode decidir o que vai priorizar nesse banco de dados. Isso já é executado pela Valid, por exemplo, nos municípios paulistas de Vinhedo e São Caetano do Sul, em que foi possível evitar que cidadãos de outras regiões acessassem os serviços da cidade. Também seria possível o Estado utilizar essa base de cidadãos, dentro dos limites da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), para vender serviços de checagem de fraude para as instituições financeiras. “Pode ser uma renda interessante para os governos e que teria adesão do setor privado – afinal, é a fonte primária dos dados”, reforça Ivan.

Ivan Murias, CEO da Valid: plano de voo pronto para a digitalização (Divulgação)

Nos SIM cards, vertical da empresa que fornece para empresas como T-Mobile, Vodafone, Telefonica, America Móvil (dona da Claro), a transformação passará para os e-SIM, iniciativa puxada pela Apple de deixar um chip fixo nos celulares sem a necessidade de ter um para cada operadora. Neste desafio de mercado, Murias projeta que dois negócios poderão nascer para a Valid: o fornecimento dos chips passaria das telecoms para as fabricantes de celulares, enquanto seria possível ofertar às operadoras um sistema para “ligar” esse e-SIM ao sistema das telcos. “O primeiro negócio ficaria menos rentável por ser um chip ‘híbrido’, com menor valor agregado, mas podemos gerar valor neste segundo produto”, explica.

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“A única solução que ainda não desenvolvemos um plano definitivo é para o cartão bancário, mas as emissões demonstram que elas seguem em crescimento. Se isso vai ser um pico para um declínio, não sabemos, mas temos que aproveitar o momento”, acrescenta. No segundo trimestre deste ano, a vertical responsável pela produção dos cartões apresentou crescimento de 25% nas vendas em relação a igual período de 2022, com o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, em inglês) chegando a R$ 42 milhões.

A Valid que agora se vê pronta para o futuro é resultado da mudança de gestão imposta nos últimos anos. Com a chegada do Alaska, de Luiz Alves Paes de Barros e Henrique Bredda, como acionista de referência em meados de 2018 (o fundo tem 28% do capital da companhia), a empresa passou por um intenso turnaround. A vinda de Ivan Murias, experiente executivo ligado ao varejo, em setembro de 2020, coincide com esse momento.

A empresa diminuiu de três para uma fábrica no país e vendeu sua operação nos Estados Unidos. Sob essa e outras mudanças, a alavancagem da empresa (relação dívida líquida pelo Ebitda) caiu de 3,2 vezes para 0,5 vezes no último trimestre. “Meu background no varejo mostrou que sempre podemos otimizar algum ponto e acho que conseguimos implementar aqui na Valid. Trouxemos métricas de produtividade que melhoraram nossa margem”, explica.

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O desempenho foi bem visto pelo mercado. Neste ano, os papéis da Valid na B3 negociam com quase 100% de alta, em torno dos R$ 18 por ação. A baixa alavancagem e o preço de tela ajudam a empresa a pensar em formas de financiar seu crescimento, seja por emissão de dívida ou equity. Nos últimos dois anos, a empresa fez dois M&A, a compra da FlexDocm por R$ 20 milhões, e a aquisição de uma parcela minoritária na ViaSoft – e novos negócios estão no radar da companhia, que encerrou o segundo trimestre com receita líquida de R$ 534 milhões (+17%) e lucro líquido de R$ 57,5 milhões, revertendo prejuízo de R$ 4,3 milhões de igual período do ano passado.

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Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br