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Do disque-pizza a entregas Turbo: CEO da Rappi explica planos para IPO

Felipe Criniti vendeu sua startup para a Rappi e virou CEO da empresa de delivery colombiana. Em entrevista, ele explica potencial das entregas Turbo para bater de frente com Ifood e a possibilidade de IPO

Mitchel Diniz

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Quando não existia Whatsapp, Messenger e afins, o jovem usava uma ferramenta de troca instantânea de mensagens bem arcaica para os padrões de hoje: o mIRC. Muitos millennials vararam madrugadas nas salas de bate papo desse programa de computador, que já permitia troca de arquivos e atualização de “status” – era o auge da socialização virtual. E foi nesse ambiente que Felipe Criniti, ainda adolescente, aprendeu programação e desenvolveu um jogo online de RPG, daqueles em que os participantes interpretam personagens dentro de um universo de magos e monstros. A empreitada nerd foi a primeira de um jovem do litoral paulista que viria a assumir, dali a duas décadas, a cadeira de CEO em uma das empresas de delivery mais conhecidas do Brasil: a Rappi.

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Mas a carreira de executivo não era o que enchia os olhos de Felipe em sua juventude. Neto de empreendedora, ele se inspirava na avó, que foi dona de dois salões de beleza. Ao se tornar pai aos 21 anos, quando não tinha nem concluído a faculdade de engenharia mecatrônica, comprou uma pizzaria de bairro em São Vicente, na Baixada Santista. “Um salãozinho com meia dúzia de mesas”, segundo ele, para fazer um extra. Apesar do espaço pequeno, o forte mesmo era o “disque-pizza”. Foi nessa experiência que Felipe identificou os muitos gargalos que o delivery tinha na época. “Havia muita dificuldade para se contratar entregadores”.

Essa foi uma questão que seguiu ecoando na cabeça do jovem, mesmo enquanto tocava as três startups que ajudou a fundar nos anos seguintes: a Foco, de gerenciamento de obras, a KeyCar, de gestão de frotas automotivas, e a Machine Air, de reconhecimento facial. Com a Box Delivery, fundada em 2016, o empreendedor trouxe o tema para o centro do negócio que se tornou um divisor de águas em sua jornada. 

A “Box”, como é carinhosamente chamada por seu fundador, surgiu como um hub de entregadores em um momento de ascensão dos market places de restaurantes, como o Ifood. “Os restaurantes não tinham logística de entrega e o entregador, na verdade, era a chave para o sucesso do negócio”, explica. De Santos, o negócio expandiu para Campinas, no interior de São Paulo, e, durante a pandemia, “acelerou cinco anos em um”, segundo Felipe, tamanha foi a demanda por delivery

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Foi essa pujança que chamou a atenção da Rappi. Em 2022, Felipe inicia as conversas com os fundadores da startup colombiana de entregas sob demanda, que havia estreado no Brasil cinco anos antes. Capitalizada por aportes que a levaram a um valor de mercado superior a US$ 5 bilhões, a Rappi fecha a compra da Box Delivery em abril de 2023, no “maior negócio de sua história”, e leva o fundador junto. Em menos de três meses, Felipe é anunciado CEO da operação brasileira. 

Sob sua gestão, como já era de se esperar, a Rappi ganhou tração em food delivery. Recentemente, a empresa fechou parceria com o fast food de comida árabe Habib’s para realizar entregas ultrarápidas, feitas em até 15 minutos, na Grande São Paulo. É levando restaurantes para o Rappi Turbo, vertical de ultra conveniência lançada em 2021, que a empresa espera ganhar poder de fogo contra a sua principal concorrência, o Ifood. “Ultrarrápido dessa forma, é só a gente que fez”, diz o CEO. 

De acordo com a empresa, mais de 13 milhões de pedidos foram entregues pelo Rappi Turbo desde sua estreia. E é com essa estratégia que a Rappi espera dobrar a participação de restaurantes em sua receita no mercado brasileiro até o final de 2024, ano em que a empresa prevê investir R$ 100 milhões no país. Ao InfoMoney, Felipe Criniti falou sobre outros segmentos que estão na mira da entrega turbo, o papel do Brasil na operação global da Rappi e como o país passou a ser o centro de gestão financeira da empresa. 

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Felipe Criniti, CEO da Rappi (Crédito: Divulgação)

Esta entrevista faz parte do Guideline, série semanal de entrevistas do InfoMoney com executivos e especialistas de referência sobre visões estratégicas em diferentes setores. Confira as entrevistas já publicadas:

InfoMoney: Como foi tomar a decisão de vender a Box Delivery para a Rappi?

Felipe Criniti: Começamos a conversar em meados de agosto de 2022. Existia uma vontade da Rappi de não só trazer uma estabilidade para a operação, mas também de implementar uma visão um pouco diferente da que vinha sendo construída nos últimos anos. O negócio fazia sentido não só do ponto de vista do aumento de frota e melhora na qualidade da operação da Rappi, mas também com a cultura de ter o entregador no centro. Com o Turbo, por exemplo, fazer uma entrega em 10 minutos envolve uma série de elos na corrente. E o engajamento com o entregador tem um papel importantíssimo nisso. 

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InfoMoney: E como veio a ideia de implementar a entrega Turbo para restaurantes?

Felipe Criniti: Estávamos fazendo testes desde o começo deste ano para definir áreas de atuação. Precisávamos garantir um cooking time, na cozinha do restaurante, que funcionasse para o Turbo, assim como levar para o food delivery a tecnologia que operávamos em nossas lojas próprias. Demos o pontapé com o Habibs quando tivemos confiança suficiente. Nos outros países em que a Rappi atua, Colômbia, México, já temos um volume bem expressivo da categoria Turbo em restaurantes. No Brasil, ela está em desenvolvimento, mas vai ser nosso grande diferencial. Hoje, quando você vai pedir um delivery, provavelmente já está com fome. E entregar uma experiência verdadeiramente rápida, de confiança, é um grande diferencial para o mercado.

IM: Existem planos para o Turbo em outras modalidades?

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FC: Estamos trabalhando em outras frentes também, como a parte de farma, em que enxergamos um grande potencial. Temos um piloto em curso com a Panvel que já tem feito bastante sucesso com os nossos consumidores. Farma, inclusive, era uma vertical em que a Box Delivery atuava, fazendo a logística para Raia Drogasil e Drogaria São Paulo e já dava perceber que era um segmento que estava evoluindo rápido, principalmente depois da pandemia. 

IM: Qual o tamanho do Brasil na Rappi hoje?

FC: Hoje o Brasil tem uma representatividade de 15% no negócio. A Colômbia foi o país de nascimento da Rappi e o México, o segundo país de desenvolvimento, tem uma liderança. Aqui temos um concorrente que já havia se desenvolvido muitos anos antes da nossa chegada. Por isso temos trazido o Turbo, para nos diferenciar desse competidor. Esperamos, nos próximos anos, chegar a 30% de share dentro do Rappi. Sem dúvida, dentro dos nove países em que a Rappi atual, o Brasil é o maior em extensão territorial então, para a estratégia da companhia, o sucesso da operação brasileira é fundamental e é o que vai mexer o ponteiro para o nosso IPO. 

IM: E como estão os preparativos para o IPO?

FC: Temos a ambição, mas não temos pressa. Hoje estamos muito mais preocupados em desenvolver o negócio. Este ano nos tornamos uma empresa de Ebitda [lucro operacional] positivo. Temos gerado caixa e utilizado isso para crescer. Fazer o IPO não está nos nossos planos de médio prazo. Estamos numa preparação, mas vamos esperar o momento certo, a janela. 

IM: E vocês já tem ideia onde esse IPO vai acontecer ou isso ainda está sendo avaliado?

FC: Está sendo avaliado [nesse momento, Felipe ri como se estivesse guardando um segredo].

IM: Você atua como CEO da Rappi apenas no Brasil? Pergunto pois, recentemente, a empresa contratou um brasileiro [Tiago Azevedo] como CFO global, mas que vai atuar de dentro da operação brasileira. 

FC: Cada país tem o seu CEO. No caso do Tiago, ele vai cuidar das nossas necessidades financeiras locais, mas também vai olhar globalmente para todas as finanças do Rappi. É um cara fantástico que veio com uma mega bagagem do Mercado Livre e tem contribuído muito para acelerarmos várias coisas aqui no Brasil. Ele atua muito perto da gente. É óbvio que o Tiago veio para contribuir com o nosso futuro IPO [oferta pública de ações, na sigla em inglês], como tem sido noticiado por aí, mas foi para muito mais que isso. Ele tem trabalhado para colocar a empresa em um próximo nível. Fora que é super importante, sim, ter um brasileiro à frente da área financeira global. 

IM: Você sempre se viu como empreendedor, mas agora ocupa cargo executivo. Como é isso para você?

FC: Tudo tem sido um belo aprendizado nesses últimos 14 meses desde o deal [da Rappi com a Box Delivery]. Hoje eu me vejo empreendendo dentro do mundo corporativo. Ter que lidar com marcas grandes do food service não foi uma novidade, a própria Box fechou grandes contratos, com grandes empresas. Então muito do que eu aprendi tem sido útil aqui. A Rappi ainda tem essência de startup e acho isso bom, porque nos dá uma velocidade que as grandes corporações não tem. Obviamente que precisei passar por uma adaptação. Não sou mais o Felipe “da Box”, mas ainda preciso da coragem e resiliência daquele empreendedor. 

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados