Debate sobre prazo e ritmo de corte de juros vai marcar 2024, diz Caio Megale

Para economista chefe da XP, é preciso que bancos centrais tenham confiança de que realmente a a inflação voltou para níveis normais; ele sugere que os riscos geopolíticos precisam ser acompanhados por investidores

Roberto de Lira

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Se 2023 foi um de combate à inflação, 2024 será marcado pelo debate sobre quando e quanto os Bancos Centrais vão poder caminhar na rota da flexibilização, cortando os juros. O diagnóstico é de Caio Megale, economista chefe da XP, que participou do painel sobre macroeconomia no Onde Investir 2024, evento gratuito e online organizado pelo InfoMoney, que reúne nesta semana importantes nomes do mercado financeiro do Brasil e do mundo.

Megale destacou que, para considerar que a inflação está realmente dominada, são necessários alguns fatores. O primeiro é que a certeza de que custos de produção maiores tenham de fato ficado para trás, algo que enfrenta hoje incertezas devido ao cenário geopolítico.

Ele citou como pontos de atenção a realização de eleições importantes, em especial a dos Estados Unidos no final do ano, e a continuidade das tensões iniciadas no ano passado, como a série de eventos no Mar Vermelho – esse último tema já tendo impacto nos preços dos fretes marítimos.

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“Acho que os Bancos Centrais, para começar a cortar juros, ou, no caso do Brasil, ir além dos 9%, 9,5% ou 10%, tem que ter confiança de que realmente a inflação voltou para níveis normais”, afirmou, prevendo que esse processo deve durar todo o primeiro semestre do ano.

O economista, reforçou o BC precisa tomar cuidado com o diagnóstico que o risco inflacionário ficou para trás. Ele voltou a citar que questão do fretes marítimos aumento o curo de produção para o mundo. “Outro problema pelo lado da oferta nos custos é o El Niño mais severo. Isso significa chuvas mais severas no Brasil e problemas com algumas culturas importante para o dia a dia brasileiro, como o arroz e o feijão”, citou, lembrando que esses itens batem direto na cesta do IPCA.

Um terceiro fator, dessa vez do lado da demanda, é que para uma inflação domada, é preciso um mercado de trabalho mais equilibrado. Ele lembrou que nos indicadores de setembro para cá, há uma certa aceleração da inflação ligada a salários. “Aumentar salário é bom, aumentar poder de compra e bom, mas é preciso ter produtividade para aumentar a oferta na mesma proporção. Quando isso desequilibra, às vezes há inflação no curto prazo”, explicou. 

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“Cabo de guerra”

Megale definiu a situação como um “cabo de guerra”, com fatores pressionando a inflação para cima e para baixo, mas que há uma projeção de que a meta ficará apertada. Nas suas contas , colocando os fatores citados o economistas alertou  que o primeiro trimestre de 2024 deve fechar com uma inflação de 1,5%, ou seja, a metade da meta que o BC persegue para o ano.

“O BC vai continuar cortando os juros, mas vai manter a cautela. Não tem nada pior do que sair cortando muito rápido e depois ter de voltar atrás

Ele também alertou sobre a política expansionista no campo fiscal, que vem crescendo desde 2022 e com previsão de alta de algo perto de 10% sobre a inflação neste ano. “Tem um pedaço de inflação ainda de demanda que é muito reflexo da política fiscal estimulando a economia a continuar crescendo.”

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A XP está com um previsão de inflação de 3,7% em 2023 e de 4,0% em 2024, ambas dentro do intervalo de tolerância da meta de inflação.

Para os juros, Megale disse não ver o BC acelerando o ritmo de cortes, que deve ficar nos atuis 0,50 p.p. até que a Selic atinja 9% e permaneça nesse patarma por um bom tempo.

Para o câmbio, a previsão é de um fluxo positivo para o Brasil, com a manutenção de bons número para a balança comercial e da continuidade da atração de investimentos internacionais pelo bom posicionamento do Brasil em temas voltados à energia limpa. Com isso, a taxa de câmbio deve ficar em R$ 4,70 neste ano, até com possibilidade de ficar baixo disso se o cenário geopolítico ajudar.

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Investimentos

Esse cenário traçado por Megale tende a manter a renda variável como uma boa opção de investimentos em 2024, especialmente os papéis de empresas maiores, que tendem a se beneficiar desse ciclo mais longo. Para o Ibovespa, a projeção da XP é de chegar aso 145 mil pontos neste ano.  

Megale sugeriu um pouco de cuidado com as commodities e com a eleição americana, uma vez que o ano promete muita volatilidade, “uma montanha russa”, especialmente o segundo semestre.

Para a renda fixa, ele prevê que os título pós-fixados tendem a perder atratividade ao longo do tempo, uma vez que que eles dependem de quanto o mercado está acreditando que vai a queda na taxa de juros, hoje entre 9% e 10%. Tudo isso vai depender dos sinais sobre o equilíbrio fiscal no ano.  

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Megale também disse gostar de títulos atrelado à inflação, não por acreditar que ela vá acelerar muito, mas porque se configuram numa boa proteção ao longo do tempo. Há também boas possibilidade para os papéis de dívida privada, mas com o cuidado de realizar uma análise critérios sobre fatores como o setor de atuação da empresa, detalhes da emissão e do emissor.