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O mercado financeiro foi pego de surpresa no último sábado (7) após a acusação feita pelo Itaú de que seu antigo diretor financeiro, Alexsandro Broedel, teria agido em benefício próprio na contratação de pareceres técnicos. O banco falou em “grave conflito de interesses” em ata de assembleia geral extraordinária publicada no fim de semana.
De acordo com a instituição financeira, Broedel teria “agido em violação às políticas internas e à legislação e à regulamentação aplicável”. O Itaú (ITUB4) alega, em um processo protocolado na Justiça de São Paulo, que o executivo teria aprovado a contratação de pareceres na soma de R$ 13,255 milhões nos últimos cinco anos para uma empresa em que Eliseu Martins e seu filho, Eric Martins, são sócios.
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Eliseu é sócio do ex-executivo do Itaú na empresa Broedel Consultores, criada em 1998 e cuja a última atualização cadastral, de 2005, demonstra a sociedade.
Ambos dividem fileira como docentes da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e se sucederam na direção da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Quem é Eliseu Martins
Martins, veterano respeitado no meio acadêmico por publicações na área da contabilidade, chegou a ser diretor da FEA entre 1998 e 2002. Ele se formou na USP em 1972 — sete anos depois, já era livre-docente pela Universidade e, em 2008, se tornou professor sênior.
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Segundo o agregador de pesquisas acadêmicas Google Scholar, seu livro “Contabilidade de Custos” foi citado mais de 4 mil vezes em artigos científicos.
Em instituições públicas ou do governo, Martins já ocupou o cargo de Diretor de Fiscalização do Banco Central entre 1990 e 1991. Também foi membro do Conselho de Administração do Banco do Brasil nos anos de 1996 a 2001, além de contribuições em representações de classe.
Diretor da CVM por dois períodos, de 1985 a 1988 e, depois, de outubro de 2008 a dezembro de 2009, Martins passou a cadeira em sua segunda passagem justamente para Alexsandro Broedel Lopes, após nomeação do presidente Luis Inácio Lula da Silva.
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“Há vários materiais suporte das consultorias que foram feitos sem formalidade, algo de que me arrependo agora, dada a má-fé da interpretação dada pelo banco. Trabalho com, aproximadamente, seis outros colegas e temos, inclusive, a condição de só opinarmos verbalmente ou via parecer”, afirmou Martins em nota sobre o caso envolvendo o Itaú.
“Assim, há opiniões que não geram parecer e não aparecem em qualquer documento. Mas são serviços efetivamente prestados, como todos os que fiz ao Itaú”, prossegue.
“Talvez influenciados pela perda de tão brilhante profissional, estão, no banco, interpretando de forma totalmente incorreta o que, de fato, ocorreu. E, além de me envolverem para atingi-lo, cometem ainda o absurdo de envolverem meus filhos, que nada têm a ver com os fatos que o banco relata e mal interpreta”, disse o executivo. “Não há ainda os citados eventuais processos, mas vou obviamente aclarar e provar o que digo”, completa.
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Quem é Alexsandro Broedel
Broedel concluiu a sua graduação no curso de Ciências Contabéis da FEA em 1997. Em 2001, o executivo já era doutor pela faculdade. Mais tarde, em 2012, se formou em direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (FDUSP). Hoje, é professor titular no curso de Ciências Contábeis e convidado no Direito.
Junto a Martins, Broedel publicou artigos em revistas da área e livros. Em 2005, publicaram em conjunto “Teoria da contabilidade: uma nova abordagem”.
Além da direção da CVM, Broedel também foi membro do conselho consultivo do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) de 2021 a julho 2024. No Itaú, esteve por 12 anos, como contador-chefe, controlador financeiro, diretor executivo de finanças, head de relações com os investidores e, a partir de 2021, diretor financeiro — ou CFO.
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De acordo com Broedel, as alegações do Itaú são “infundadas e sem sentido”. Por meio de nota, o executivo, contratado como chefe global do Santander, assegura que “sempre se conduziu de forma ética e transparente em todas as atividades ao longo dos seus 12 anos no banco”.
Ainda segundo Broedel, seu comportamento nunca foi “contestado pelo Itaú, que tem uma rigorosa e abrangente estrutura de controle e compliance, própria de um grupo financeiro com seu porte e importância na economia brasileira”.