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Corrida de big techs por IA aquece — e a Microsoft dá sinais de assumir a dianteira

Microsoft, Google e Amazon lançam produtos, investem em empresas e expandem infraestrutura por competitividade.

Iuri Santos

Loja da Microsoft em Nova York, nos Estados Unidos, em 17 de junho de 2023 (Foto: Victor J. Blue/Bloomberg)
Loja da Microsoft em Nova York, nos Estados Unidos, em 17 de junho de 2023 (Foto: Victor J. Blue/Bloomberg)

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Em uma competição que, segundo especialistas, remete aos avanços tecnológicos agressivos vistos durante a corrida espacial (da década de 1950 à de 1970), empresas de tecnologia como Microsoft, Google e Amazon disputam centímetro a centímetro cada avanço no setor de inteligência artificial generativa com investimentos bilionários e concorrência por clientes.

Um novo capítulo da disputa pôde ser visto na última semana, quando a Microsoft, pioneira no setor, liberou oficialmente na quarta-feira (1) o seu assistente Copilot, que incluirá funcionalidade de IA generativa, com base no GPT, em ferramentas como Word, Excel e PowerPoint.

A utilização de IA generativa em softwares não é uma novidade. O que chama a atenção agora é a dimensão da aplicação. Segundo relata ao Financial Times o ex-diretor de tecnologia da empresa, Barry Briggs, a companhia se torna a primeira na indústria a usar essa tecnologia como uma ferramenta padrão em um software amplamente difundido, com potencial de transformar o trabalho de milhões de pessoas.

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Em alguma medida, o novo movimento da Microsoft se deve ao seu bem-sucedido plano de investimento em IA generativa.

Apesar de não ter desenvolvido um modelo próprio de linguagem, a companhia tomou a dianteira ao investir na empresa que popularizou a IA generativa nos últimos anos com o ChatGPT, a OpenAI. Entre 2019 e 2022, a Microsoft colocou US$ 3 bilhões na desenvolvedora e, no início de 2023, houve um novo investimento multibilionário com valores não divulgados. Segundo relatos do mercado, no entanto, a operação mais recente ronda pela casa de US$ 10 bilhões, pagos em parte por meio de créditos de uso da Azure, infraestrutura de nuvem da Microsoft.

Em razão da parceria, a Microsoft pode vender os modelos da OpenAI por meio da Azure. Essa é uma das principais fontes de rentabilização dos investimentos em IA pela companhia, que segundo relatório do Credit Suisse de março deste ano, pode aumentar sua receita em US$ 40 bilhões nos próximos cinco anos ou mais por conta dos investimentos na OpenAI.

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Companhias que queiram criar soluções de IA generativa dentro de suas empresas não precisam necessariamente fazê-lo pela infraestrutura da Microsoft, mas essa tem se tornado uma tendência. Segundo Kenneth Corrêa, professor de MBAs da FGV, uma das vantagens da Microsoft, além de ter um modelo fundacional já avançado como o do OpenAI, é a familiaridade junto ao mercado, que já consome amplamente sua suíte de ferramentas corporativas.

Na Pipefy, plataforma de automação de processos que utiliza tecnologia de IA, por exemplo, clientes já impõem como condição o uso de soluções desenvolvidas no ambiente da Microsoft. “Hoje temos clientes que falam que só utilizarão nossa IA se fizermos via Azure. Provavelmente teremos que migrar para a Azure em algum momento” explica o CPO da Pipefy, Sobhan Daliry. A principal razão para isso é a confiança das companhias na empresa fundada por Bill Gates.

O modelo de negócios de big techs como Microsoft, Google e Amazon, com atuação em várias faces da indústria de inteligência artificial generativa, tem sido chamado no mercado de “fábrica de IA”. “Vai além da infraestrutura. É uma empresa que possui um ecossistema composto por hardware, software, networking, armazenamento […] É construir essa fábrica de IA e permitir que outras empresas entrem com alguma informação, com algum dado, criem algum modelo e saiam do outro lado para algum serviço”, explica Marcel Saraiva, gerente de vendas para empresas da NVidia Brasil.

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Logo do Google fixado na parte superior de um prédio branco
A Alhpabet, dona da Google, atua desde a venda de modelos até a estrutura de nuvem para suportar soluções de IA. (Foto: Shutterstock)

Hoje, não possuir um modelo de linguagem de IA generativa no seu provedor em nuvem, por exemplo, pode significar perder espaço no mercado. Nessa onda, as big techs têm aumentado investimentos em todos os aspectos: desde modelos até aplicação de IA em suas ferramentas nativas e expansão da infraestrutura em nuvem.

O Google, por exemplo, possui uma plataforma gerenciada chamada Vertex AI que disponibiliza uma variedade de modelos no Cloud, seu serviço de nuvem — entre eles, está a linguagem própria da empresa, o PalM2. A companhia também tem um concorrente para o ChatGPT chamado Bard, além do Duet AI, assistente de inteligência artificial aplicado em algumas das ferramentas do workspace — concorrente do Copilot, da Microsoft.

Por meio de suas ferramentas de trabalho compartilhadas, o Google tem presença relevante no mercado, o que abre portas para oferecer sua plataforma de desenvolvimento de soluções com base em IA para novas empresas. No Brasil, por exemplo, companhias como Sinqia, Magalu, Globo, BV e Tim já desenvolvem soluções de IA por meio do Vertex.

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Apesar disso, a avaliação de especialistas é de que a empresa ainda está distante da Microsoft, junto à OpenAI, quando o assunto é a utilização de modelos de IA para desenvolvimento de soluções internas. “O Google não é tão rápido quanto a Microsoft e está lidando [com maior presença] em startups, que estão passando por um período mais difícil de orçamento recentemente”, aponta Kenneth Corrêa, da FGV.

Na apresentação de resultados do terceiro trimestre de 2023, a CFO da Alphabet (dona do Google), Ruth Porat, afirmou que a empresa segue focada em organizar seus gastos para “criar capacidade de suportar as prioridades de crescimento” da companhia, sendo IA a mais importante delas.

Já a Amazon, em um movimento similar ao feito pela Microsoft junto ao OpenAI, investiu US$ 4 bilhões na Anthropic, startup que desenvolveu o modelo de IA Generativa Claude, em setembro deste ano. A AWS, serviço de nuvem da Amazon, tornou-se o provedor primário da solução. A empresa também tem atuado no desenvolvimento de chips focados em IA, mercado atualmente dominado pela NVidia, com os desenhos do AWS Inferentia 2 e AWS Trainium.

Empresa de Jeff Bezos também tem desenvolvido chips focados em IA. (Foto: Giovanna Sutto/InfoMoney)

No momento, qualquer passo das empresas em IA envolve grandes investimentos em desenvolvimento e pesquisa. Mas um dos principais gastos –  e também uma barreira – para o crescimento das big techs nesse mercado é a computação em nuvem,  necessária para processar o alto volume de dados necessário para rodar modelos de IA. Segundo Marcel Saraiva, da NVidia, são necessárias em média 10 mil GPUs para que uma big tech desenvolva soluções de IA.

Segundo relatou o Financial Times, analistas do Bank of America preveem que as despesas de capital relacionadas à tecnologia de nuvem de Amazon, Alphabet (dona do Google) e Microsoft devem aumentar 22% no próximo ano, para US$ 116 bilhões. No último trimestre deste ano, as três companhias aumentaram seus gastos em propriedades e equipamentos, somados, em US$ 42 bilhões, quase o equivalente a 20% em comparação ao mesmo período do ano anterior.

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Iuri Santos

Repórter de inovação e negócios no IM Business, do InfoMoney. Graduado em Jornalismo pela Unesp, já passou também pelo E-Investidor, do Estadão.