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Em 2019, em uma fábrica em Pomerode, no Vale do Itajaí (SC), nascia um queijo autoral, batizado de Morro Azul e produzido a partir de fungos da família Penicillium, base também para o brie e o camembert. O nome é uma homenagem ao monte mais alto da região, com 758 metros. Tradicional ponto de encontro de praticantes de parapente, o cume oferece, em dias ensolarados, vista até o município de Barra Velha, no litoral catarinense. Intuitivamente, os donos da receita autoral, os irmãos Bruno e Juliano Mendes, selaram o destino do queijo Morro Azul: alcançar o topo.
Premiado sete vezes, inclusive antes de ser lançado comercialmente, em 2019, o Morro Azul atingiu o topo do pódio dos queijos com sabores únicos em abril deste ano, quando conquistou o prêmio Super Ouro durante o Mundial de Queijo, realizado em São Paulo. Na edição de 2024 do concurso, que premia os melhores queijos e produtos lácteos de diversos países, a receita dos irmãos Mendes conquistou a colocação máxima, desbancando franceses e suíços.
No ano passado, o Morro Azul já havia sido considerado o Melhor Queijo da América Latina na 35ª edição do World Cheese Awards, realizado na Noruega, quando conquistou a medalha Super Ouro. No ano passado, o Morro Azul também já havia conquistado o posto de campeão de vendas com cerca de quatro mil unidades vendidas por mês pela Pomerode Alimentos, fábrica dos irmãos Mendes.
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Após ostentar a medalha de Super Campeão dos queijos, o Morro Azul despontou em vendas. Segundos dados da Pomerode Alimentos, entre abril, mês do concurso, e junho, o salto foi de 400% em crescimento de vendas. Após a última premiação, a Pomerode vende cerca de 20 mil unidades mensais do Morro Azul. Apesar do grande sucesso no mercado nacional, e no paladar do júri dos concursos internacionais, o queijo não é exportado.
Esta matéria faz parte da série “Premiados no Exterior”, que reúne produtores brasileiros reconhecidos em premiações de projeção internacional. Confira matéria já publicada:
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Segundo Juliano Mendes, por conta da textura, a massa do Morro Azul não lida bem com calor. Isso dificulta o transporte em longas distâncias. Embora tenha um sabor considerado mais complexo, que combina a cremosidade, semelhante a um requeijão, com notas especiais de cogumelos, além de apresentar a inovação de ser envolto em uma cinta de carvalho, o Morro Azul já é considerado, nos poucos anos de vida, um grande sucesso de vendas entre os brasileiros.
Segundo os irmãos Mendes, os pedidos crescem diariamente em diversos pontos do país, sobretudo onde há representantes e distribuidores, como regiões Sul e Sudeste. Feito com leite de vaca, o Morro Azul pode ser encontrado desde em butiques de laticínios e casas especializadas em queijos artesanais a gôndolas de grandes redes de supermercados, como Pão de Açúcar e Carrefour.
Obstinação tempera a receita
Quando os irmãos Mendes são questionados sobre o que faz do Morro Azul um queijo tão especial, a resposta é imediata: generosas doses de obstinação. Mesmo sem nenhuma tradição familiar na produção de laticínios, os irmãos Mendes, naturais de Blumenau, conquistaram em 10 anos um lugar de excelência na indústria nacional de queijos, graças ao DNA de inovação.
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Até o fim dos anos 2000, Bruno e Juliano só sabiam apreciar de forma amadora o paladar de queijos. Na época, os irmãos haviam criado e estava produzindo a cerveja Eisenbahn, que hoje pertence ao grupo que produz a Heineken. Para surpreender os visitantes de cervejaria e clientes do bar, os irmãos resolveram criar harmonizações da Eisenbahn com queijos.
Filhos de engenheiro elétrico, Juliano e Bruno acabaram enveredando pelo ramo da administração de empresas. Sempre muito companheiros, foram estudar juntos em Boston, nos Estados Unidos. Juliano, o mais velho, foi para a faculdade de administração. Bruno resolveu viajar também para estudar inglês e acabou seguindo os passos acadêmicos do irmão.
Nos Estados Unidos, conheceram a cerveja artesanal Samuel Adams Boston Lager, produzida sem conservantes, e se encantaram com a ideia de fabricar em Blumenau, sede da Oktoberfest, maior festa alemã, uma cerveja sem similares no Brasil. “Sempre nos perguntávamos por que Blumenau não tinha uma cerveja local, produzida artesanalmente”, diz Juliano Mendes.
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O novo negócio da família Mendes foi objeto de muito estudo dos irmãos, que aprenderam a fazer cerveja com as mesmas técnicas da Alemanha, sem conservantes, química e milho. “Na época, um consultor do mercado cervejeiro disse que não iria fazer parte do nosso projeto, porque não via futuro. Na visão do consultor, o brasileiro não gostava desse tipo de cerveja. Com a nossa trajetória no queijo, os desafios foram semelhantes”, diz Bruno Mendes.
Após a venda da Eisenbahn para o Grupo Schincariol em 2008, os irmãos continuaram no ramo da alimentação, administrando restaurantes, mas não estavam completamente realizados. “Gostávamos mesmo de indústria, criação de produtos, marcas, então começamos a estudar o mercado de queijos. Reparamos que, no Brasil, não havia novidades. Percebemos, então, a oportunidade de fazer um trabalho diferente”, conta Juliano Mendes.
Oportunidade bateu à porta
Em 2013, os irmãos foram para Vermont, estado localizado na região da Nova Inglaterra, no Nordeste dos Estados Unidos, em busca de conhecimento na produção de queijos. Os EUA foram o destino escolhido por questões de facilidade com a língua. “Assim como no caso das cervejas, os EUA construíram uma escola de queijos especiais consistente. O mercado americano traz a tradição da técnica europeia e dá um toque especial de marketing”, observa Bruno Mendes.
Ao voltarem dos EUA, o destino bateu à porta dos irmãos Mendes. O dono de uma fábrica de laticínios em Pomerode os procurou para fazer um negócio, que podia ser uma parte da sociedade ou a venda total da indústria. A opção dos irmãos foi adquirir totalmente a fábrica.
“Achamos interessante porque a fábrica já tinha licença do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para a venda de produtos em outros estados. Além disso, geralmente os negócios envolvendo laticínios são mais afastados dos centros urbanos, em Pomerode estamos perto de Blumenau, onde moramos, e a logística é facilitada”, conta Juliano Mendes.
A primeira providência, após a aquisição foi mudar o nome de Laticínios Pomerode para Pomerode Alimentos, porque o projeto do negócio vai além dos laticínios. Hoje eles produzem também geleias e torradas. Nos três primeiros anos, eles se concentraram na produção de queijos fundidos, mas trabalharam simultaneamente na construção da fábrica para produção da linha de queijos Vermont, que inclui o Morro Azul.
Consumidor brasileiro valoriza produto artesanal local
Com espírito de startup, o negócio dos irmãos Mendes é alimentado por inovação, sem chance de perder boas oportunidades. Foi o que aconteceu em um congresso de queijos nos EUA em 2015. Durante o evento, os irmãos conheceram um consultor francês, que, dois anos mais tarde, teve participação fundamental para orientar a produção da linha Vermont.
“Em 2017, chamamos esse consultor para nos ensinar o que queríamos fazer na fábrica com a linha Vermont. Nossa meta é fazer o melhor possível. Buscamos a perfeição, mesmo sabendo que ela não existe. Trabalhamos para entregar o melhor produto possível. O melhor marketing é um produto bem feito. Enquanto não alcançamos isso, não sossegamos”, ressaltam os irmãos Mendes.
Essa busca pela excelência tem dado resultado. Quando adquiriram a Pomerode, em 2013, o faturamento anual estava em torno de R$ 400 mil por ano. Agora esse montante já ultrapassa R$ 15 milhões.
Trilha de inovação
Os queijos da Pomerode Alimentos reúnem mais de 50 prêmios, nacionais e internacionais. Além do Morro Azul, o Vale do Testo, batizado com o nome do rio que corta a cidade, também tem se destacado nos concursos internacionais. Outra receita autoral, a produção do Vale do Testo exige três meses de maturação, enquanto a preparação do Morro Azul é finalizada em 20 dias.
Atentos às transformações no paladar dos brasileiros, os irmãos Mendes pretendem continuar investindo na trilha de inovação. Juliano explica que o Morro Azul é um tipo de queijo que existe na França, na Suíça, no Reino Unido e nos Estados Unidos, mas não tem concorrentes no Brasil.
“Uma inovação foi a cinta de carvalho, que além de segurar a massa, que é muito cremosa, confere um sabor próprio”, diz Bruno Mendes.
Pouco tempo depois de ser lançado, o Morro Azul enfrentou o desafio do mercado durante a pandemia de Covid 19. Juliano lembra que os concursos só voltaram no fim de 2021, na Europa.
“Mandamos o nosso semiduro, o Vale do Testo, que foi premiado. Os prêmios trazem visibilidade e mostram a parte do mercado, que nos olhou com uma certa desconfiança, no início, que estamos no caminho certo”, diz Juliano Mendes.
Para expandir a produção, os irmãos empreendedores estão apostando no gosto dos brasileiros por queijos especiais. “Há muito mercado a ser desenvolvido. Muitos brasileiros ainda não conhecem esse tipo de queijo. Por outro lado, vemos os brasileiros mudando também os hábitos, mais interessado em produtos feitos internamente. Passamos da fase de achar que o produto bom é o importado. Há queijos e vinhos de baixa qualidade fora do Brasil”, diz Bruno Mendes.
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