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Como Ana Sanches, da Anglo American, quer mudar a imagem da mineração no Brasil

Executiva tem missão de conciliar um plano de investimentos de R$ 12 bi com a meta global do grupo de chegar à neutralidade de emissão de carbono

Mitchel Diniz

Ana Sanches, CEO da Anglo American Brasil (Crédito: Divulgação | Jana Vieiras)
Ana Sanches, CEO da Anglo American Brasil (Crédito: Divulgação | Jana Vieiras)

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Ana Sanches está prestes a completar sete meses como primeira mulher a ocupar o cargo de CEO da Anglo American no Brasil. E, em relativamente pouco tempo, já é uma das vozes mais ativas de um movimento que busca repaginar a reputação da atividade mineradora no Brasil, ferida pelos desastres ambientais da última década. Essa é uma das pautas que a executiva encabeça como atual presidente do conselho do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM). 

“O setor de mineração precisa sair dos seus ‘aquários’ para contar sua história, mostrando como a atividade pode contribuir, de fato, para a sociedade”, afirma Ana, em entrevista exclusiva ao InfoMoney, o maior e mais completo ecossistema de comunicação especializado em mercados, investimentos e negócios do país.

No comando da operação brasileira do conglomerado britânico Anglo American, a executiva tem a missão de conciliar um plano de investimentos de mais de R$ 12 bilhões até 2027 com a meta global do grupo de chegar à neutralidade de emissão de carbono até 2040.

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“Temos uma vantagem competitiva aqui no Brasil pela nossa matriz energética e, desde 2022, 100% da energia dos nossos contratos para negócios de minério de ferro como de níquel vêm de fontes renováveis”, explica a CEO. “Temos os desafios de outros consumos dentro das operações, mas contamos com uma série de iniciativas para acompanhar essa meta do grupo nos próximos anos.”

A preocupação em não repetir tragédias como a de Mariana e Brumadinho resultou em um investimento de R$ 4 bilhões na construção de uma planta de filtragem de rejeitos. “Cerca de 85% do rejeito grosso vai ser filtrado, compactado e empilhado, o que demonstra nosso compromisso muito forte em reduzir a dependência da barragem de rejeitos”, conta a executiva. 

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Já na sua gestão, em fevereiro deste ano, a Anglo American fechou acordo com a Vale (VALE3) para impulsionar suas operações de  minério de ferro no Brasil. De um lado, a Vale aportou suas reservas de minério que ficam na Serra da Serpentina, em Conceição do Mato Dentro (MG), mais US$ 157,5 milhões e passou a deter 15% de participação no capital da Anglo no Brasil, que, por sua vez, opera o sistema de produção chamado Minas-Rio. Outras parcerias do tipo não estão descartadas.

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Ana Sanches é a primeira entrevistada do Guideline, série semanal de entrevistas do InfoMoney com executivos e especialistas de referência sobre visões estratégicas em diferentes setores. 

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Ana Sanches, CEO da Anglo American Brasil (Crédito: Divulgação | Jana Vieiras)

INFOMONEY: Como foram esses primeiros sete meses como CEO da Anglo American e quais oportunidades e desafios você conseguiu identificar nesse período?

Ana Sanches: Sentada nessa cadeira, vários temas ficam mais nítidos. Um deles é a minha responsabilidade pessoal e profissional com a segurança de todas as pessoas. Acho que para um líder não tem nada pior do que imaginar que alguém pode se machucar, fisicamente e emocionalmente, trabalhando para nós. Esse assunto de segurança é muito forte para o nosso setor e está no nosso dia a dia, segundo a segundo. Outro tema que fica cada vez mais nítido e me motiva muito é a capacidade de transformação do nosso setor. Na liderança, eu tenho a oportunidade de fazer parte disso, de liderar, influenciar, ajudar no ajuste de rota e de velocidade.

IM: De que tipo de transformação estamos falando?

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AS: É muito simples falar “vamos acabar com a mineração”. Acabar com a mineração significa acabar com bases da nossa sociedade hoje, não é algo possível. A transformação começa por fazer as pessoas entenderem a importância dessa atividade e continua ao mostrar que é possível fazer mineração de forma responsável, sustentável e segura. É importante ir para fora da empresa, entender porque há dúvidas e resistência, mostrar nossa responsabilidade e foco em uma mineração sustentável. Os municípios de regiões mineradoras mostram que a atividade feita de forma responsável pode trazer renda e desenvolvimento social, com atuação direta em bases de educação e saúde, de forma muito maior do que seria se não houvesse mineração naquela localidade. Muitas vezes as pessoas não sabem ou não conseguem enxergar isso. Mas pode ser que a gente não tenha sabido contar essa história também. 

IM: Como presidente do conselho do Ibram, você está engajada na pauta de ressignificar a mineração. Como é possível mudar a percepção sobre essa atividade?

AS: As pessoas frequentemente associam mineração somente à produção de aço e esquecem que praticamente tudo ao nosso redor passa por essa atividade. A campanha reforça essa essencialidade, passando pelos conceitos de responsabilidade social, compromisso com meio ambiente, mas, sozinha não vai fazer diferença. O que a gente precisa é da comunicação local, nas comunidades que recebem a mineração, onde a atividade minerária está. E aí cada uma das empresas associadas ao Ibram faz a sua parte, com uma aderência muito forte de discurso à prática. Na Anglo American nós temos um propósito que é reimaginar a mineração para melhorar a vida das pessoas.  É uma frase linda, mas que se não for vivida nas ações do dia a dia, não vai passar disso. A gente precisa garantir que as decisões do nosso plano de negócio estejam bem casadas com um plano de mineração sustentável. Essas coisas não precisam brigar. A produção não vai deixar de crescer em detrimento de requisitos ambientais e monitoramento. A gente precisa acreditar que é possível essas coisas andarem em harmonia.

IM: Como esses aspectos são tratados dentro do atual ciclo de investimentos da empresa?

AS: O nosso plano de investimento é cuidadosamente montado e elaborado para garantir a priorização de recursos a esses temas tão importantes. Embora a gente tenha metas mais de longo prazo, se não construirmos um caminho, não vamos alcançar isso. Vimos empresas mundo afora se comprometendo sem um plano para fazer isso acontecer e muita coisa andou para trás.

Sistema de produção Minas-Rio (Crédito: Divulgação)

IM: A parceria com a Vale está caminhando? A Anglo tem interesse em firmar outros acordos desse tipo?

AS: Estamos aguardando a aprovação dos órgãos competentes, o que deve ocorrer antes do final do ano. Essa parceria vai nos permitir muitos anos adicionais de produção do nosso minério de ferro de alto teor. Além disso, pode permitir uma expansão e até mesmo uma duplicação de nossa capacidade produtiva. Mas isso depende de estudos de viabilidade que serão conduzidos para termos essa confirmação. Sobre outras parcerias como essa… Por que não? Temos que estar abertos a somar. Não há parceria como essa no nosso pipeline no momento, mas a gente precisa estar sempre aberto para achar as melhores soluções de negócio.

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Mitchel Diniz

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