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O mercado de crédito privado no Brasil, que já começou a destravar no segundo semestre de 2023, deve continuar aberto no próximo ano. E, enquanto a tônica da atividade do último ano foi a necessidade de reperfilamento de dívida, em 2024 a expectativa é de que virão mais operações decorrentes de um ciclo de crescimento das companhias. Na visão de especialistas ouvidos pelo IM Business, o fato de boa parte das companhias ter feito ajustes em sua estrutura de crédito e caixa no ano passado abriu caminho para que muitas delas tirem proveito de um cenário macroeconômico mais favorável, composto por corte de juros, redução de inadimplência e recuperação da atividade.
“A perspectiva macro é muito melhor para o mercado de crédito diante da reforma tributária, quadro fiscal mais favorável, juros em baixa e redução da volatilidade”, resume Danilo Catarucci, sócio e head de mercado de capitais da BR Partners. Esse conjunto de fatores tende a tornar o investidor mais aberto ao risco e, consequentemente, contribui para melhorar as condições para o emissor.
Ao mesmo tempo, o corte de juros, por si só, traz uma liberação de caixa das companhias, o que deve contribuir para que um ciclo de empresas buscando crescimento seja um importante motor a impulsionar esse mercado, diz Catarucci. Além dos juros mais baixos, o executivo observa que, ao contrário do que se viu na virada de 2022 para 2023, agora as empresas estão com a situação de crédito melhor digerida e balanços mais fortes, o que também contribui para o acesso dessas companhias ao mercado.
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“A Selic chegou a 13,75% no ano passado e hoje o mercado precifica uma taxa de 9% no fim de 2024. Para o grande universo de empresas que têm dívida atrelada ao CDI, esses quase cinco pontos de queda são muito determinantes para a capacidade de pagamento”, confirma o sócio e gestor de crédito privado da JGP, Alexandre Muller.
A melhora do ambiente para as companhias já começou a influenciar os preços exigidos pelo investidor, diz Muller. Segundo o Idex-CDI, índice criado pela JGP para acompanhar a evolução das debêntures atreladas ao CDI, o spread médio dos papéis – a taxa que o emissor paga acima do CDI – está hoje perto de 2,24%, abaixo do nível de 3,31% observado na primeira semana de abril. Naquele momento, além do impacto dos eventos de crédito da Americanas e da Light, a pressão política sofrida pelo Banco Central trazia incerteza sobre o futuro da política monetária e, consequentemente, pressionava os juros futuros e gerava muita volatilidade. “Mas o barulho político arrefeceu, a agenda econômica caminhou e o que se viu a partir daí foi um alívio importante dos spreads”, afirma Muller. Ele ressalta, entretanto, que o spread médio hoje ainda está levemente acima do que do patamar de 1,90% observado no encerramento de 2022.
O ano de 2023 foi bastante desafiador para o mercado de capitais como um todo. A mudança de governo elevou o risco político e colocou o investidor em modo cautela, ambiente que ficou mais adverso com a guerra entre Rússia e Ucrânia. E tornou-se extremamente negativo após a crise da Americanas e da Light, que impactou em cheio a carteira de gestores e de grandes bancos credores dessas companhias.
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“O cenário agora é bem mais calmo. Se, em 2023, as empresas precisavam esperar por janelas para melhorar seus passivos, em 2024 as empresas terão mais espaço para fazer um planejamento financeiro”, define.
Mesmo com tantos eventos negativos, foi no mercado de crédito que a maior parte das empresas encontrou a melhor opção para se refinanciar ao longo do ano. A volatilidade e os preços descontados da bolsa inviabilizaram muitas das ofertas de ações planejadas – Muller lembra que, dos 25 follow-ons ocorridos em 2023, boa parte foi fechada por empresas com balanços pressionados, que precisaram acessar o mercado a qualquer preço. E, no exterior, o aperto monetário realizado pelo Fed tornou mais cara – e em alguns casos, inviável – a emissão de dívidas.
Essa reação, explica o gestor, mostra que o mercado de crédito brasileiro tem hoje uma profundidade que garante às companhias a possibilidade de diversificação de fontes de financiamento. Condição pouco comum entre países emergentes, acrescenta. Ele cita o caso do México, onde as empresas são bastante dependentes do mercado de bonds ou do setor bancário.
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Para Fernanda Farah, head de DCM do Investment Banking da XP, esse ambiente mais favorável, tanto do ponto de vista macroeconômico quanto político, deve abrir caminho para um crescimento entre 20% e 30% no volume de emissões de dívida no mercado institucional em 2024. “O mercado já está aceitando nomes de empresas não tão óbvios e os prazos têm se alongado. Tudo indica que em 2024 o mercado de capitais vai ser mais forte”, diz.
O mesmo vale para o segmento de dívida incentivada, onde se encaixam as operações de empresas de infraestrutura, um destaque positivo em 2023. Com forte demanda por parte das companhias para os setores de saneamento, energia e rodovia, a expectativa da XP é que o número de operações nesse segmento cresça cerca de 10%.
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