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CEO do Wellhub no Brasil tem missão de repaginar “ex-Gympass” em seu país de origem

Priscila Siqueira conduziu a transformação digital que ampliou o copo da empresa, de um "passe de academia" para um ecossistema de bem-estar

Mitchel Diniz

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Nos primeiros anos de existência, quando ainda era apenas uma startup com operações no Brasil, a Gympass ganhou o apelido de “Netflix das academias”. A inovação estava em oferecer a possibilidade de frequentar diferentes estabelecimentos aos usuários da plataforma, por meio da compra de pacotes ou aulas avulsas. Naquela época, a empresa operava no modelo B2C, prestando o serviço diretamente ao consumidor final, antes de se tornar, exclusivamente, um benefício corporativo. E esta foi a primeira de muitas transformações que estavam por vir.      

A mais recente se concretizou no último dia 6 de maio, quando a Gympass passou, oficialmente, a se chamar Wellhub. Ainda que seus assinantes possam demorar a acertar o novo nome (sobretudo em seu país de origem), a antiga alcunha já não cabia mais à empresa. Há algum tempo o negócio não era mais só um “passe de academia” – havia se tornado um verdadeiro ecossistema de saúde. Com um empurrãozinho da pandemia, a empresa se digitalizou, passando a oferecer aulas online sob demanda e acesso a aplicativos de bem-estar mental e nutricional.

Leia mais: Tecnofit, a plataforma para academias que avança sem as “marombas” do setor

Wellhub também combinava mais com a proporção global que os negócios ganharam. Além do Brasil, onde tudo começou, a empresa opera em outros 10 países, soma mais de 15 mil empresas clientes e 2,7 milhões de assinantes. Após seis rodadas de investimento desde sua fundação, em 2012, o Wellhub é avaliado em US$ 2,4 bilhões. Sua principal sede, hoje, fica em Nova York, nos Estados Unidos, onde as redes de academia têm proporções gigantescas.

Dos 55 mil estúdios e academias parceiras do Wellhub hoje, 28 mil estão no Brasil. Por aqui, quem comanda a operação é Priscila Siqueira. A executiva ingressou na empresa em 2019, meses antes de a Covid-19 fechar as academias. Familiarizada com tecnologia desde os 16 anos, quando teve seu primeiro emprego como programadora, Priscila trabalhou por 12 anos na Oracle e atuava como vice-presidente da área digital, quando decidiu deixar a companhia. No Wellhub, começou como vice-presidente de vendas. 

“Duas coisas me chamaram a atenção. Primeiro, era uma startup brasileira mais desenvolvida, que não estava só no Brasil. E tinha o tema de cuidar das pessoas com tecnologia”, disse a CEO do Wellhub no Brasil em entrevista exclusiva ao InfoMoney

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Esta entrevista faz parte do Guideline, série semanal de entrevistas do InfoMoney com executivos e especialistas de referência sobre visões estratégicas em diferentes setores. Confira aqui as entrevistas já publicadas:

Priscila Siqueira, CEO do Wellhub (ex-Gympass) no Brasil (Crédito: Divulgação)

InfoMoney: Como foi chegar à empresa com toda a sua experiência em um período de tantas transformações?

Priscila Siqueira: Eu acho que a grande oportunidade que aconteceu foi liderar essa transformação – de uma empresa totalmente offline para uma empresa digital. Quando eu entrei, ainda era Gympass, uma empresa que olhava para o lado da atividade física. Hoje, o foco é ser uma solução de bem-estar, que não é só atividade física. Temos muitos outros pilares agora: nutrição, terapia, qualidade de sono e até educação financeira. É um olhar mais integrado sobre a saúde. 

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IM: Quais são os desafios de mudar uma marca que já era tão popular entre seus usuários?

PS: É evidente o quanto o nome impacta em mostrar nossa missão dentro de uma organização. Mas, de fato, uma mudança assim não é nada fácil. Foi um trabalho feito com o maior cuidado, durante um longo período. Fizemos todo um trabalho de comunicação direta com os clientes, com os usuários, os nossos parceiros. Realizamos diversas entrevistas, com milhares de líderes de RH, para entender como éramos percebidos pelas empresas.   

IM: E como tem sido a aceitação dessas mudanças?

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PS: As empresas e os usuários entendem que o novo nome faz sentido com o que a gente entrega. E já temos vários clientes abrindo mais portas para nós, para que a gente possa entrar com mais profundidade nos outros pilares dessas empresas: o pilar de melhorar o absenteísmo, o de melhorar a atração e retenção. Então não somos só um benefício por si só. Nossa proposta é ajudar o RH a mensurar o impacto de suas iniciativas de bem-estar como um todo. O quanto a empresa melhorou em produtividade depois que colocou o Wellhub, o quanto ela deixa de gastar quando previne que suas pessoas fiquem doentes. 

IM: A empresa espera acelerar crescimento com essa nova roupagem?

PS: Sem dúvida. Nossa estratégia é ser a plataforma de bem-estar das empresas e para isso, eu tenho critérios a cumprir. Preciso de diversificação no que estou oferecendo, ser interessante para os colaboradores e ter um valor agregado para a empresa que nos escolhe, para que ela seja capaz de atrair pessoas, engajar. O engajamento é bem complexo dentro de qualquer gestão de saúde. E, hoje, temos adesões fantásticas. Nossa média de engajamento [percentual de funcionários de uma empresa que adere ao benefício] gira em torno de 30%, o que é muito alto. Nossas pesquisas mostram que 60% dos nossos usuários não faziam atividade física antes de ter a plataforma na empresa em que trabalham. 

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IM: Vocês chegaram a fazer uma parceria com clientes da SulAmérica, oferecendo cashback para quem fizesse um mínimo de ‘check-ins’ durante um período de seis meses. Outras parcerias assim estão no radar?

PS: Hoje a gente estuda tudo o que está relacionado a reduzir custos de empresas com saúde e implementação de bem-estar. Então, obviamente, esse tema de operadoras pode fazer sentido, a gestão de saúde dentro das empresas também.

IM: Qual tem sido o foco de investimentos da empresa?

PS: Além da expansão dos serviços, a gente também tem investido bastante em experiência do usuário. Estamos atentos a tudo o que surge de inteligência artificial. Tivemos nossa última rodada de investimentos em 2023 e focamos na construção de um sistema que seja fácil para o RH implementar, fácil para o usuário utilizar. 

IM: Quanto a empresa vem faturando?

PS: Não abrimos o faturamento. Mas eu diria para você que a gente vem em um ritmo de crescimento de dois dígitos. Isso varia de acordo com país, claro. Nos Estados Unidos o crescimento acaba sendo maior, por ser um mercado de maior maturidade. Lá você tem redes com 10 mil academias e as operações acabam sendo mais concentradas em número de parceiros. Mas, aqui no Brasil, a gente segue crescendo bastante também.  

Após a publicação da entrevista, o Wellhub informou possuir 28 mil parceiros no Brasil (e não 25 mil) e também explicou que 60% dos usuários da plataforma não faziam atividade física antes de ter acesso ao benefício (e não 70%).

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados