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O ano acaba melhor do que o previsto para as companhias de mineração de ferro em termos de preço da principal matéria-prima do aço. A cotação ficou acima do projetado e a expectativa é que o desempenho deve se repetir em 2024. “O preço do minério em patamar acima de US$ 130 que estamos vendo em dezembro é excelente. Nada a reclamar da parte das produtoras”, afirma José Carlos Martins, sócio-diretor da Neelix Consulting Mining & Metals e conselheiro do grupo Cedro Participações.
Na sexta-feira (15), o preço de referência do minério no mercado do norte da China – produto com 62% de teor de ferro – foi negociado a US$ 135,60 a tonelada, segundo o índice Platts, da S&P Global Commodity Insights. Neste trimestre, até agora, a média da cotação da commodity industrial foi de US$ 127. Desde o início de janeiro, atingiu valor médio de US$ 119 a tonelada.
O cenário previsto para 2024, avaliam especialistas, indica bons resultados para Vale e CSN Mineração e também para Usiminas, que exporta um bom excedente de sua produção. E é também favorável a outras empresas no país, caso de Anglo American, J&F Mineração, Cedro e as de menor tamanho, chamadas de independentes.
“Vamos fechar o ano com média de US$ 120, no teto da previsão de US$ 110 a US$ 120. Ficará igual a 2022. E esse valor deve, no mínimo, se repetir em 2024”, acredita Martins, que foi diretor da área de ferrosos da Vale por dez anos, até 2014.
No primeiro trimestre, por razões climáticas comuns todo ano – chuvas em regiões produtoras do Brasil e ciclones nas áreas de embarques portuários da Austrália – poderão ser vistos, em casos pontuais, negociações a até 150 a tonelada, preveem alguns analistas.
As projeções de média para o próximo ano variam de US$ 110 a US$ 125 a tonelada, nas avaliações passadas ao IM Business. Nesse cenário, o principal fator considerado é a relação de equilíbrio entre oferta e demanda para 2024. “A nossa visão é de um mercado equilibrado, como em 2023, sem fatos novos tanto do lado da oferta quanto da demanda, com a volatilidade de sempre no período de janeiro a março devido aos fatores climáticos que afetam produção e embarques nos dois principais países fornecedores”, observa Martins.
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Segundo o executivo, o Brasil não vai oferecer nada relevante ao mercado, em volume adicional, da parte de Vale e CSN Mineração. Na Austrália, a Rio Tinto – líder global do setor – não tem projetos e um da Fortescue começa a entrar em operação. Austrália e Brasil são os grandes produtores estabelecidos no mundo, com poder de ditar os preços. Juntos, respondem por 56% da produção mundial, prevista em 2,46 bilhões de toneladas neste ano. São os grandes fornecedores da commodity às siderúrgicas chinesas, que importam em torno de 1,2 bilhão de toneladas a cada ano.
De acordo com Martins, do lado da demanda não deve haver fatores de impulso a aumento de compras pelas siderúrgicas. A produção de aço chinesa deve ficar estável, acima de 1 bilhão de toneladas neste e nos próximos anos. Em 2023, aponta, a China compensou parte da queda na demanda interna de aço com aumento nas exportações. Estima-se embarques de100 milhões de toneladas de aço (volume anualizado).
Isso requereu, ao menos, 130 milhões de toneladas de minério, já descontando parte da produção de aço à base de sucata ferrosa. Uma pergunta é se o país vai manter a desova de 10% da produção de aço para o exterior em 2024. Vai depender da reação do mercado doméstico chinês e de barreiras que podem ser instaladas em países importadores. As usinas chinesas operaram seus altos-fornos a mais de 90% da capacidade neste ano.
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Daniel Sasson, analista do Itaú BBA, observa que o ano começou com excitação grande após o anúncio da reabertura da China entre outubro e novembro, quando o minério estava em US$ 80 a tonelada. Bem rápido saltou para US$ 120. Isso trouxe uma certa animação ao mercado. “Mas o que liderou a demanda chinesa foi a parte de consumo no país e não o setor de infraestrutura. Apesar disso, viu-se o minério bem resiliente porque a produção de aço chinesa manteve-se forte, crescendo entre 2% e 3% neste ano frente a 2022”.
O analista destaca que o mercado imobiliário (properties) chinês, que é grande consumidor de aço (35% do volume total), continuou com problemas e não decolou, apesar de medidas de estímulo do governo. “No entanto, algumas válvulas de escape mais que compensaram essa performance fraca. Por exemplo, os setores de maquinário, automotivo e de infraestrutura, com medidas de estímulos a obras e projetos nessa área.
Outro ponto, afirma Sasson, foi a exportação de aço do país. A China, diz, vem exportando cerca de 8 milhões de toneladas mensais nos últimos meses, o correspondente a cerca de 10% do volume feito pelo país, gerando consequências para o mercado de aço global. Avaliação consensual é que ajudou a sustentar os preços do minério em patamar elevado em grande parte do segundo semestre.
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“Olhando para 2024, temos uma expectativa um pouco mais cautelosa”, afirma. Ele diz que há dúvidas se a China conseguirá manter esse ritmo de exportação de aço, pois vários países [caso de EUA, México, União Europeia] vão colocando barreiras – tarifas de importação e salvaguardas. E precisa ver também qual será o cenário de properties. Os investidores mais otimistas acham que o pior já passou, ou parou de piorar.
Por fim, diz, o que joga a favor do minério no próximo ano é que Vale, Rio Tinto, BHP e Fortescue – as Big Four do setor – dado os guidances que anunciaram para os próximos trimestres, não têm expectativa de aumento de oferta. Com isso, sem projeção de grande aumento da produção de aço na China, o mercado deve se manter balanceado. “Poderemos ter no início do ano um patamar de preços mais alto, pois o primeiro semestre é sazonalmente mais fraco em oferta, mas com normalização ao longo dos 12 meses. Minha estimativa é de US$ 110 a tonelada em 2024”, informa Sasson.
Com uma visão otimista, Pedro Oliva, diretor financeiro e de RI da CSN Mineração, disse na quinta-feira (14) durante o Investor Day do grupo CSN que trabalha com uma média de preço para o minério de ferro de US$ 125 a tonelada no mercado futuro, com a cotação flutuando entre US$ 120 e US$ 130 a tonelada. “Vemos um mercado apertado em 2024, com adicional de oferta de 21 milhões de toneladas e de demanda de 39 milhões de toneladas”. Segundo ele, os estoques estão menores nos portos e usinas chinesas e os incentivos à economia do país vão gerar produção adicional de até 12 milhões de toneladas de aço (consumindo 19 milhões de minério de ferro).
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“O problema da demanda mundial pelo minério não está na China, que tem mantido o ritmo de consumo. As importações do país cresceram 7% até outubro. O problema está no Ocidente, onde a demanda teve retração de 50 milhões de toneladas de minério e não voltou”, destaca Martins.
Entre os fatores que poderiam mudar esse cenário, estão o fim da guerra na Ucrânia (pouco provável em 2024) com um enorme trabalho de reconstrução do país; solução para questão energética, elevando a oferta de gás na Europa (perspectiva baixa de ocorrer) e a China continuar produzindo menos minério. Com uma mineração fragmentada, o volume produzido no país caiu, no período de janeiro a outubro, de 270 milhões, no ano passado, para 252 milhões em 2023.
Para 2025, diz, o cenário será outro. Estão previstas novas capacidades de oferta entrando no mercado: mina nova (Iron Bridge), da Fortescue, que fará 25 milhões de toneladas por ano; investimentos no Gabão e início de produção da mina Simandou, na Guiné, que será a “Carajás da África”, operada pela Rio Tinto. “Aí já começa uma era de desequilíbrio do mercado”, avalia.