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Dívida ainda pesa, mas C&A reduz alavancagem e volta a abrir lojas

CEO da varejista de moda, Paulo Correa, espera um crescimento progressivo dos investimentos daqui para frente

Lucas Sampaio

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O endividamento ainda pesa no balanço da C&A (CEAB3), mas a empresa tem feito a lição de casa, melhorando seus indicadores e reduzindo a alavancagem, o que tem refletido diretamente no preço das ações. Agora, a varejista de moda já começa a sonhar mais alto e virou a mão: parou de cortar investimentos e voltou a abrir lojas.

“A ideia é acelerar a dinâmica de investimentos. A partir do próximo trimestre vamos ver uma aceleração na comparação com 2023”, afirma o CEO, Paulo Correa, ao InfoMoney. “Não vai ser extremamente maior, mas vai ter um crescimento progressivo”.

Já foram inauguradas duas lojas neste trimestre — uma em Barretos (SP) e outra em Itajaí (SC) —, que não estão contabilizadas no balanço divulgado na quinta-feira (10), e Correa diz que novas unidades serão abertas no terceiro trimestre. Ele não diz quantas (nem onde) e evita dar um guidance para 2024 e 2025, mas diz que “a parte de inaugurações, de novas lojas, deve ficar mais intensa em 2025”. Em 2023, a empresa abriu apenas 4 unidades no ano inteiro.

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O executivo também destaca a importância da reforma das lojas atuais, que tende a melhorar o desempenho das unidades (eram 330 antes das inaugurações). “Também vamos melhorar as nossas lojas, com reformas como a do shopping Ibirapuera [em São Paulo]”.

Os investimentos da C&A caíram 32% no primeiro trimestre, de R$ 49,8 milhões no ano passado para R$ 33,7 milhões no atual, e os gastos com lojas foram de apenas R$ 9 milhões (R$ 5 milhões em inaugurações e R$ 4 milhões em reformas e remodelagens). O grosso dos investimentos ficou, novamente, com digital e tecnologia (R$ 24,8 milhões), mas o CEO minimizou o número e disse que “nesse trimestre foi mais uma sazonalidade”, pois o começo do ano é sempre “mais desafiador”.

Inverno rigoroso

A C&A enfrentou um “inverno rigoroso” entre seu IPO (abertura de capital) em 2019 e o fim de 2022, que fez as ações caírem de R$ 16,50 na estreia na Bolsa para menos de R$ 2. Mas tem passado por um processo de turnaround (ponto de equilíbrio) de dar inveja às concorrentes: ela aumentou sua margem pelo 9º trimestre seguido no primeiro trimestre, na comparação anual, e a alavancagem despencou em apenas um ano (de 4,0 vezes para 1,5 vezes da dívida líquida sobre o Ebitda ajustado pré-IFRS 16 dos últimos 12 meses).

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Além disso, a receita líquida consolidada cresceu 17,1% na comparação anual, para R$ 1,453 bilhão, e as vendas em mesmas lojas (SSS) de vestuário dispararam 21,9%. Isso levou a um Ebitda ajustado de R$ 180,5 milhões (alta de 125%) e a uma margem Ebitda ajustada de 12,4% (alta de 6 pontos porcentuais).

Somando todas essas melhoras —e impulsionada pela recuperação de créditos fiscais—, a C&A (CEAB3) bateu a expectativa de mercado e registrou um lucro líquido de R$ 70,9 milhões no trimestre, revertendo prejuízo de R$ 126,3 milhões no mesmo período do ano passado. “Foi a nossa melhor performance desde o IPO”, resume Correa.

Essa melhora operacional fez com que as ações já tenham subido mais de 500% desde o fundo do poço, em dezembro de 2022. Os papéis chegaram a bater R$ 12,52 na quarta-feira (8), na véspera de divulgação do balanço, mas caíram na sexta-feira (10) após a divulgação, e ainda operavam distantes dos R$ 16,50 do IPO e dos R$ 18,50 do pico histórico.

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Endividamento ainda pesa

Apesar de todas as melhorias operacionais, um ponto ainda pesa: o endividamento. Correa diz que, “à medida que a Selic vem caindo, isso gera oportunidades, pois a queda traz um peso menor no custo do financiamento, do nosso endividamento, e aumenta a geração de caixa da companhia. E essa geração de caixa vai diminuindo o endividamento”.

A lógica do CEO é a mesma expectativa de 10 em cada 10 executivos de varejistas brasileiras — sobretudo das endividadas. Mas ela pode ser afetada pela mudança no cenário macroeconômico das últimas semanas, após dados da inflação nos Estados Unido sabaixo do esperado e o Fed (o banco central americano) sinalizar que os juros lá devem ficar mais altos por mais tempo. Para piorar, questões fiscais brasileiras têm preocupado o mercado local e feito o Banco Central daqui adotar uma postura mais cautelosa, ao desacelerar a queda da Selic.

Mesmo assim, Correa diz que a expectativa — e que vem acontecendo — é que a melhora operacional aumente ainda mais a geração de caixa. “E essa maior geração de caixa impacta menos na ultima linha e abre a possibilidade de maior investimento. Entra em uma espiral muito positiva, de aumentar o caixa e reduzir a dívida”.

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Apesar do discurso, a C&A ainda registra um fluxo de caixa livre negativo com a Selic em dois dígitos. É verdade que a queima de caixa diminuiu 56% neste trimestre, de R$ 216 milhões no começo do ano passado para R$ 96 milhões agora, e que a dívida líquida caiu 30% na comparação anual, de R$ 1,504 bilhão para R$ 1,045 bilhão.

Mas a varejista de moda tem compromissos relevantes a pagar em breve. A C&A tem R$ 1,203 bilhão em caixa, equivalentes de caixa e aplicações financeiras, mas R$ 1,126 bilhão em dívidas bancárias que precisam ser amortizadas até o fim de 2025 (R$ 460 milhões neste e R$ 666 milhões no próximo). Mesmo assim, o CEO é otimista. “O nosso endividamento caiu de mais de 3 vezes para 1,5 vezes no fim do ano e se manteve agora. E tem a expectativa de reduzir até o fim do ano”.

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Lucas Sampaio

Jornalista com 12 anos de experiência nos principais grupos de comunicação do Brasil (TV Globo, Folha, Estadão e Grupo Abril), em diversas funções (editor, repórter, produtor e redator) e editorias (economia, internacional, tecnologia, política e cidades). Graduado pela UFSC com intercâmbio na Universidade Nova de Lisboa.