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A gigante chinesa BYD, a maior fabricante de carros elétricos e híbridos do mundo, já dá como certo o acordo com o governo da Bahia para ficar com a antiga fábrica da Ford em Camaçari, apesar de ainda faltar a assinatura do contrato. “Não falta nada. Não tem empecilho nenhum, é só a complexidade de abrir uma empresa nova, de ter um CNPJ na Bahia”, afirmou ao IM Business Alexandre Baldy, conselheiro especial da montadora no Brasil.
Antes mesmo do investimento de R$ 3 bilhões na Bahia, a BYD (sigla de “Build Your Dreams”, ou “Construa Seus Sonhos”) já é a terceira montadora em vendas de carros elétricos e híbridos no país, segundo dados de agosto da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico), e passou a liderar entre os elétricos, com os três modelos mais vendidos do segmento no mês passado (Dolphin, D1 e Yuan). Mas, mais do que a relevância do mercado brasileiro, o que a grande rival da Tesla mira é o “selo verde” que o país pode lhe trazer.
Baldy, que foi ministro das Cidades no governo Michel Temer (MDB), secretário estadual de transportes metropolitanos de São Paulo na gestão João Doria (PSDB) e deputado federal por Goiás, foi contratado pela BYD em dezembro para atuar como porta-voz da empresa no Brasil. Ele diz que a gigante chinesa ”é uma green tech, não uma indústria de carros”, e está “investindo no país da Amazônia” por causa da sua agenda de sustentabilidade. “A BYD poderia ter ido para o México, mas tem a simbologia de ser o Brasil. [O investimento no país] não é pelo tamanho do mercado, é pelo simbolismo. Pelo tamanho do mercado, o Brasil não é relevante”.
A empresa não abre seus números de receita e lucro (ou prejuízo) no país, mas a operação local é ínfima se comparada à chinesa. A BYD vendeu mais de 700 mil veículos elétricos e híbridos no segundo trimestre, quase o dobro do comercializado há um ano, e ultrapassou a Tesla (que vendeu menos de 500 mil no mesmo período). No Brasil, o mercado inteiro de eletrificados, somando todas as marcas, não chegou a 50 mil unidades comercializadas no acumulado do ano até agosto (menos de 5% de todos os carros vendidos no período). A BYD lidera no segmento 100% elétrico, que representa menos de 1% do mercado brasileiro, e bateu recorde no mês passado ao vender 656 unidades – mais do que todos os outros concorrentes somados.
A própria ABVE admite que “o mercado de veículos eletrificados no Brasil ainda é considerado incipiente perto do mercado dos países europeus e asiáticos”, mas ressalta que o crescimento tem sido contínuo e que foram vendidos 49.052 unidades nos oito primeiros meses de 2023, contra apenas 321 há dez anos.
Investimento ‘transformacional’
É por isso que o investimento em Camaçari será “transformacional” para a BYD no Brasil. A fábrica na Bahia será a segunda da montadora fora da China – a outra foi construída na Tailândia – e terá capacidade de produzir 150 mil veículos por ano quando for inaugurada, o que deve acontecer entre o fim de 2024 e o começo de 2025. O próprio Wang Chuanfu, fundador, presidente e CEO da BYD, deve vir ao Brasil para o lançamento da pedra fundamental.
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A gigante chinesa já tem uma operação considerável no Brasil: são cerca de 500 funcionários entre a linha de montagem de ônibus elétricos em Campinas (SP), inaugurada em 2015, a fábrica de módulos fotovoltaicos, inaugurada na mesma cidade em 2017, e a fábrica de baterias elétricas na Zona Franca de Manaus, inaugurada em 2020, além do escritório da empresa na Zona Sul de São Paulo. A empresa também tem contratos de duas linhas de monotrilhos no país: a linha 17-Ouro em São Paulo e o VLT do subúrbio em Salvador.
Mas o número de funcionários deverá dobrar para cerca de mil nos próximos meses e saltar para 5 mil nos próximos anos, afirma Baldy, por isso a empresa já está se preparando: alugou um andar inteiro na Diamond Tower, em frente ao shopping Morumbi, e o número de concessionárias da marca vai praticamente quadruplicar até o fim deste ano, das atuais 28 para 100 unidades. Até o meio de 2024 a montadora chinesa pretende ter concessionárias em todos os estados do país. “Estamos começando em praticamente tudo, construindo até a equipe de vendas e de marketing. Em seis meses vamos ter mais 500 contratações”.
Enquanto a transformação não acontece, a empresa sente as dores do crescimento. Baldy conversou com o IM Business na véspera do feriado de 7 de Setembro no escritório da BYD para o monotrilho paulistano, na Avenida Jornalista Roberto Marinho (em frente à futura linha 17-Ouro). A empresa ocupa um andar inteiro no prédio, mas o local não tem recepção e a reportagem teve de esperar por mais de uma hora para a assessoria de comunicação e marketing da empresa conseguir uma sala vazia, onde a entrevista pudesse ser feita.
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Reforma tributária e ‘tomada de 3 pinos’
Político experiente e com bom trânsito em Brasília, apesar de ter apenas 43 anos, Baldy afirma que o investimento da empresa em Camaçari independe da Reforma Tributária, que deve ser aprovada no Congresso Nacional neste ano, e de subsídios do governo federal. Ele diz que a decisão da BYD ocorreu no ano passado, antes de as discussões sobre a reforma ganharem tração com o novo governo, e minimizou a desoneração que será concedida pelo governo baiano (redução de 95% do ICMS até 2032). “Sem subsídio, toda a indústria brasileira seria em São Paulo”.
O porta-voz da BYD no Brasil também rebate o argumento de alguns especialistas do setor, de que o carro movido a etanol pode ser mais sustentável do que os elétricos, dependendo da matriz energética do país. Estudo da empresa alemã Mahle, citado pelo portal UOL, aponta que um carro 100% elétrico emite mais gás carbônico no Brasil do que um movido a etanol (emissão de 17,6 toneladas de CO2 em dez anos, contra 12,1 toneladas do biocombustível). Na Bolívia, onde dois terços da energia elétrica é gerada por combustíveis fósseis, um veículo elétrico emite mais CO2 do que um movido a gasolina 32.5 toneladas a 31,3). Além disso, o descarte das baterias pode se tornar um grande problema no futuro.
“Mais limpa eu discordo. Tão limpa quanto pode até ser”, afirma Baldy sobre o etanol, apesar dos números. Ele também diz que o processo global de eletrificação dos carros é inevitável, devido aos investimentos e aos subsídios que as duas maiores economias do mundo (Estados Unidos e China) têm feito. “O etanol pode funcionar no Brasil, mas você já viu tomada de três pinos fora do Brasil? Além disso, China e Estados Unidos estão indo em qual direção?”, diz.
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Para crescer no Brasil, a BYD aposta “em plano de estímulo para as pessoas acreditarem no carro elétrico”, com uma série de benefícios para o consumidor como 5 anos de revisões gratuitas e 8 anos de garantia na bateria do veículo. “É um investimento para as pessoas conhecerem os benefícios”, afirma o porta-voz.
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