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Uma nova onda de acesso do futebol ao mercado de capitais pode estar em curso. A relação de clubes tradicionais com a Faria Lima já teve flertes mais ou menos prósperos, e o modelo de Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs) é um elemento que pode mudar o jogo.
Nos últimos meses, foram duas sinalizações de aproximação: no início de outubro, o São Paulo Futebol Clube anunciou que a Galapagos Capital e a OutField irão estruturar um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) para reperfilar sua dívida. Poucos dias antes, o Clube Atlético Mineiro anunciou a primeira emissão das chamadas debêntures-fut desde a aprovação da Lei das SAFs. O Galo disputa neste domingo (10) a finalíssima da Copa do Brasil contra o Flamengo, na Arena MRV, a partir das 16h.
“Estamos passando por um momento de transformação. Já começamos a ver algumas alternativas não só saindo dos clubes, mas vindo aos clubes”, diz Pedro Daniel, diretor executivo da Ernst & Young. Em sua avaliação, a busca de gestores por negócios no mercado do futebol demonstra um amadurecimento da indústria.
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Com alternativas restritas de acesso a crédito, clubes de futebol muitas vezes precisam se expor a dívidas de juros altos e curto prazo para se financiar. É o caso do São Paulo, cujo fundo pretende reperfilar as obrigações com bancos que hoje ultrapassam R$ 200 milhões. Os valores, contratados para compor o caixa, têm vencimentos na maioria entre 2024 e 2025.
O fundo composto pela Galapagos e gerido pela OutField pretende prolongar os prazos e reduzir juros. Ele usa recebíveis relacionados a negociações de direitos de transmissão, naming rights e patrocínios.
Associações ou SAF?
Para Pedro Daniel, da Ernst & Young, o caso do tricolor paulista pode se tratar de uma exceção em um cenário no qual clubes no modelo SAF devem ter mais facilidade em acessar opções de financiamento direto. O São Paulo não é SAF, e, sim, uma associação.
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Um elemento que contribui para sua avaliação é a própria figura dos acionistas na SAF, com capital comprometido e certa representatividade frente aos credores. Além do mais, diferentemente das gestões de modelos associativos, SAFs não estão sujeitas a eleições, o que aumenta a confiança de credores em financiamentos para mais longo prazo.
Joga contra, no entanto, um arcabouço regulatório ainda incipiente. “É pouco provável que vejamos, no primeiro momento, os bancos de primeira linha fazendo grandes projetos no setor. Falta infraestrutura financeira, uma regulação mais robusta que mitiga o risco, principalmente para esses bancos”, diz.
Em agosto de 2023, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), emitiu um parecer orientando sobre possibilidades das SAFs no mercado de capitais. Em nova publicação em agosto deste ano, o órgão definiu que os clubes-empresa podem emitir as debêntures-fut sem a necessidade de registro na autarquia.
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O recurso captado, segundo a lei que regulamenta as SAFs, deve ser usado no desenvolvimento de atividades ou no pagamento de gastos, despesas ou dívidas relacionados às atividades típicas dessas empresas – ou seja, em futebol.
Atlético-MG emite primeira debênture-fut
O Atlético Mineiro foi o primeiro clube a emitir esse tipo de debênture. O clube mineiro viu sua dívida líquida cair de R$ 2,1 bilhões para R$ 1,3 bilhão em 2023, após aportes dos acionistas no processo de migração para uma SAF. Parte das obrigações contraídas pelo Galo nos últimos anos eram justamente com alguns dos sócios.
Segundo informações registradas junto à CVM, o Galo deve utilizar os recursos captados para quitar as dívidas atuais e alongar seu perfil da dívida. A oferta é para levantar R$ 105 milhões, com limite para encerramento em março de 2025.
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“Diferente [em relação ao fundo estruturado pelo São Paulo] o que temos nesse novo perfil do Galo. Já houve uma amortização, já existe uma operação mais eficiente. Agora é uma busca por mais ajuste de fluxo de caixa em médio prazo. Passa-se a procurar por outro tipo de mecanismo”, explica Pedro Daniel.
Desde a criação das SAFs, a Faria Lima tem olhado mais atentamente ao futebol. Gestoras como XP e BTG estiveram próximas a negociações envolvendo grandes clubes. O perfil de acesso ao mercado de capitais, no entanto, é diferente das negociações envolvendo participações, dadas em contextos de clubes próximos à falência.
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