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Após impasse, Musk ganha acesso à poderosa ferramenta de pagamento do Tesouro dos EUA

Com isso, Musk e equipe que ele lidera têm acesso agora a instrumento para monitorar e potencialmente limitar os gastos do governo
Elon Musk, ao centro, durante a posse de Donald Trump como o 47º presidente no Capitólio em Washington, na segunda-feira, 20 de janeiro de 2025. (Foto: Kenny Holston/The New York Times)
Elon Musk, ao centro, durante a posse de Donald Trump como o 47º presidente no Capitólio em Washington, na segunda-feira, 20 de janeiro de 2025. (Foto: Kenny Holston/The New York Times)

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O secretário do Tesouro, Scott Bessent, concedeu acesso ao sistema federal de pagamentos a representantes do chamado Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês).

Com isso, entregou a Elon Musk e à equipe que ele lidera uma ferramenta poderosa para monitorar e potencialmente limitar os gastos do governo.

A medida surge após um impasse com um funcionário graduado do Tesouro que havia resistido a permitir que os comandados de Musk tivessem acesso ao sistema de pagamentos do departamento, que distribui dinheiro em nome de todo o governo federal.

O funcionário, um servidor público de carreira chamado David Lebryk, foi afastado e depois se aposentou repentinamente na sexta-feira após a disputa, segundo pessoas a par de sua saída.

O sistema poderia dar ao governo Trump outro mecanismo para tentar restringir unilateralmente a liberação de dinheiro aprovado pelo Congresso para fins específicos, uma iniciativa que já enfrentou obstáculos legais.

Musk, que recebeu ampla liberdade do presidente Trump para encontrar maneiras de reduzir os gastos do governo, recentemente fixou sua atenção nos processos de pagamento do Tesouro, criticando o departamento em uma postagem nas redes sociais, no sábado, por não rejeitar mais pagamentos considerados fraudulentos ou indevidos.

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Os membros da equipe de Musk que receberam acesso ao sistema de pagamentos foram nomeados funcionários do Tesouro, passaram por verificações de antecedentes do governo e obtiveram as autorizações de segurança necessárias, segundo duas fontes que pediram anonimato.

Embora seu acesso tenha sido aprovado, os representantes de Musk ainda não obtiveram capacidade operacional e nenhum pagamento do governo foi bloqueado, disseram essas pessoas.

A iniciativa de Musk faz parte de uma revisão mais ampla do sistema de pagamentos para permitir que pagamentos indevidos sejam examinados e não é um esforço para bloquear arbitrariamente pagamentos individuais, disseram as pessoas familiarizadas com o assunto.

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Advogados de carreira do Departamento do Tesouro aprovaram a concessão do acesso, acrescentaram, e quaisquer mudanças no sistema passariam por um processo de revisão e testes.

O Doge não é um departamento governamental, mas sim uma equipe dentro da administração. Foi montado sob a direção de Trump por Musk para se espalhar por agências federais em busca de maneiras de cortar gastos, reduzir o tamanho da força de trabalho federal e aumentar a eficiência da burocracia. A maioria dos que trabalham na iniciativa foi recrutada por Musk e seus assessores.

Equipes similares do Doge começaram a exigir acesso a dados e sistemas de outras agências federais, mas nenhuma dessas agências controla o fluxo de dinheiro da mesma forma que o Departamento do Tesouro.

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Uma das pessoas afiliadas ao Doge que agora tem acesso ao sistema de pagamentos é Tom Krause, diretor-executivo de uma empresa do Vale do Silício chamada Cloud Software Group.

No fim de semana passado, Krause pressionou Lebryk para obter acesso ao sistema. Lebryk recusou e, posteriormente, foi colocado em licença administrativa, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.

Um porta-voz do Departamento do Tesouro, uma porta-voz do Doge e a Casa Branca não responderam aos pedidos de entrevista.

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Um bilhão de pagamentos por ano

Em um processo normalmente conduzido por servidores públicos, o Departamento do Tesouro realiza pagamentos enviados por agências de todo o governo, desembolsando mais de US$ 5 trilhões no ano fiscal de 2023.

O acesso ao sistema historicamente tem sido altamente restrito, pois contém informações pessoais sensíveis de milhões de americanos que recebem cheques da Previdência Social, restituições de impostos e outros pagamentos do governo federal.

Ex-funcionários disseram que cabe a cada agência garantir que seus pagamentos sejam apropriados, e não à equipe relativamente pequena do Departamento do Tesouro, que é responsável por processar mais de um bilhão de pagamentos por ano.

Lebryk, o funcionário de carreira do Tesouro que se aposentou na sexta-feira, havia resistido a pedidos da equipe de transição de Trump no mês passado para obter acesso aos dados.

Depois que Trump assumiu o cargo, a Casa Branca indicou que ele deveria ser removido do cargo e, segundo uma pessoa familiarizada com o assunto, Bessent sugeriu colocá-lo em licença.

Preocupação com a Previdência e informações sensíveis

Os democratas levantaram preocupações nesta semana de que o governo Trump e Bessent, que foi confirmado pelo Senado apenas nesta semana, estavam comprometendo o sistema de pagamentos do governo federal.

“Para ser direto, esses sistemas de pagamento simplesmente não podem falhar, e qualquer interferência politicamente motivada neles representa um risco de danos severos ao nosso país e à economia”, escreveu o senador Ron Wyden, do Oregon, o principal democrata na Comissão de Finanças do Senado, em uma carta a Bessent na sexta-feira.

“Não consigo pensar em nenhum bom motivo pelo qual operadores políticos que demonstraram um desrespeito flagrante pela lei precisariam de acesso a esses sistemas sensíveis e críticos para a missão do governo.”

No sábado, Wyden expressou preocupação com o fato de que o acesso ao sistema de pagamentos foi concedido e apontou que Musk — um bilionário com um vasto portfólio — poderia ter conflitos de interesse.

“Benefícios da Previdência Social e do Medicare, subsídios, pagamentos a contratantes do governo, incluindo aqueles que competem diretamente com as próprias empresas de Musk. Tudo isso”, escreveu ele nas redes sociais.

Durante a transição, Musk se opôs publicamente à escolha de Bessent como secretário do Tesouro de Trump. Na época, Musk, que era apenas um conselheiro influente de Trump, manifestou publicamente sua opinião de que preferia Howard Lutnick, um executivo de Wall Street, para o cargo, pois considerava que Bessent era “uma escolha que manteria tudo como sempre”. Lutnick acabou se tornando a escolha de Trump para secretário do Comércio.