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Aporte de R$ 100 milhões leva a Beep Saúde a uma valorização bilionária

A empresa tem um faturamento anualizado de R$ 300 milhões e um crescimento de 60%

Iuri Santos

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Quando Vander Corteze viajou a Nova York no último mês de maio, não passava pela sua cabeça captar um novo aporte para a Beep Saúde, healthtech que fundou em 2016. Bastou uma conversa com executivos do fundo de investimento The Lightsmith Group, no entanto, para iniciar a captação de um cheque de R$ 100 milhões, que levou a empresa a uma avaliação de R$ 1,2 bilhão.

O encontro aconteceu na Brazil Week, evento dedicado a negócios e inovação para empreendedores brasileiros. O fundo já estava de olho na empresa há algum tempo e foi rapidamente convencido pela atualização sobre os resultados da companhia, que teve um faturamento anualizado de R$ 300 milhões em 2024 e um crescimento de 60% em 2023.

“Quando eles viram os novos números de crescimento, agora com a empresa lucrativa, eu já tinha um termo de compromisso antes de voltar para casa”, diz Corteze, CEO da Beep Saúde, ao InfoMoney. O “agora com a empresa lucrativa” refere-se ao fato de que, no início do ano, a companhia atingiu seu breakeven — ponto de equilíbrio entre custos e receitas — e já opera com geração de caixa.

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Inverno das startups

Não é à toa que Corteze não procurava um investimento inicialmente. Esta é a quarta rodada de investimentos pela qual a empresa passa, mas agora em um cenário diferente. Nas séries B e C, a companhia contou com o suporte de um mercado de venture capital pujante, com aportes volumosos e variados.

Em 2022, data do último aporte, o mercado começava a mudar para o que se denominou “Inverno das Startups”, e a empresa percebeu que poderia ser difícil contar com um novo reforço do mercado ao seu caixa. “Entendemos que não queríamos estar em uma posição de depender de um próximo round”, conta Corteze.

A empresa se beneficiou de um mercado que tem avaliado mais a geração de caixa, lucro e maturidade das startups em detrimento das receitas. Além disso, a impressão é de que as healthtechs têm sido menos penalizadas que seus pares em outros setores — embora não em nível comparável às empresas de inteligência artificial.

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Foco em logística

“Fizemos o que precisava ser feito em 18 meses. Foi extremamente desafiador, mas em 18 meses saímos de uma companhia que focava majoritariamente em crescimento. Seguimos crescendo, mas paralelamente aumentamos muito nossa eficiência logística”, afirma o executivo.

Esse tem sido o ponto central para os resultados da empresa, na avaliação do líder, que vê a Beep como 50% saúde e 50% logística. Quase a totalidade do novo aporte será dedicada ao incremento de tecnologia para a contratação de profissionais capazes de aprimorar a operação de deslocamento de enfermeiros.

A rotina de um enfermeiro contratado pela Beep começa com uma passagem pelo hub logístico, onde ele se prepara com os insumos que vai precisar administrar durante o dia e sai no carro da empresa. Depois disso, só volta a esse centro novamente ao fim de todas as vacinações e exames que administrou individualmente, na casa dos pacientes, durante o dia.

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Hoje, o raio de atendimento de cada um dos profissionais é de cerca de 5 km; essa área já foi de mais de 10 km. “Queremos chegar a um momento em que nossa técnica, nosso profissional de enfermagem, se locomova menos de 1 km por atendimento. Ela vai ficar apenas em alguns quarteirões ao longo do dia inteiro”, conta.

Com uma estrutura física menor e menos custosa do que os incumbentes de exames laboratoriais, a Beep consegue melhorar as margens tradicionalmente comprimidas do setor de serviços de saúde. Por outro lado, tem um negócio intensivo em capital humano: sua folha salarial é comparável aos gastos com a compra de vacinas.

É um problema que uma das principais fontes de inspiração da Beep, o iFood — cujo atual CEO, Diego Barreto, foi mentor de Corteze — não enfrenta. E é aí que o investimento em logística se torna prioridade.

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A ideia de aprimorar a inteligência artificial responsável por determinar o mapa de atendimentos de cada funcionário, gerando maior geodensidade e escalando a quantidade de consultas diárias, lembra a empresa de delivery. Por outro lado, o iFood não tem uma frota de enfermeiros CLT trabalhando todos os dias.

Próximos passos

Na lista de empresas que a Beep busca inspiração estão ainda Nubank e Mercado Livre, de onde veio a ideia de Corteze de que as pessoas demandariam cada vez mais por comodidade e atendimento em suas casas.

David Vélez, fundador e CEO do Nubank, inclusive, é um dos investidores da rodada, que também conta com aporte do fundo CZI, de Mark Zuckerberg e Priscilla Chan, e da Actyus, liderada por Sergio Furio, fundador da Creditas.

A expectativa da Beep é que, seguindo o mesmo ritmo de crescimento, atinja um faturamento anual bilionário já entre 2026 e 2027. A empresa tem focado seus esforços nos mercados do Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal, sem uma perspectiva de expansão regional no momento, já que a expectativa é de que haja uma migração do atendimento presencial para o domiciliar, quando possível.

Alguns testes no setor de imunobiológicos subcutâneos estão em andamento, mas o serviço está sendo disponibilizado gradualmente. Embora vacinas representem dois terços do faturamento da empresa e exames laboratoriais um terço, o crescimento nesta segunda linha é de 80% ao ano atualmente; o foco é continuar essa evolução para conquistar a liderança em exames.

Iuri Santos

Repórter de inovação e negócios no IM Business, do InfoMoney. Graduado em Jornalismo pela Unesp, já passou também pelo E-Investidor, do Estadão.