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Maioria das empresas ainda não está pronta para a IA, diz executivo da Faculdade XP

O braço educacional da plataforma de investimentos tem criado cursos e atualizado grades para incluir o tema no currículo

Iuri Santos

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A mudança no mercado corporativo e de tecnologia está levando a Faculdade XP, braço de educação da XP Inc., a uma rápida adaptação ao tema da inteligência artificial generativa. No que acredita ser “uma tecnologia que vem para mudar o mercado”, a área tem expandido o portfólio de cursos para atrair executivos e profissionais de tecnologia e já estuda expansão para segmentações de carreira.

Neste mês, a empresa lançou ao mercado seu primeiro MBA com foco no público executivo. Até então, a maior parte dos cursos estava na área de tecnologia aplicada – em 2021, a plataforma de investimentos comprou o IGTI, faculdade especializada no tema, acessando o mercado de ensino superior.

Em 2023, o braço educacional da companhia conseguiu 6,4 mil novos alunos em seus 26 cursos. Pela avaliação de Diogo França, CTO e head de produtos da Faculdade XP, 2024 tem superado as projeções. “Estamos investindo não só em conteúdo novo, mas em qualidade”, conta em entrevista ao InfoMoney.

A Faculdade XP correu para adaptar uma grande quantidade de seus cursos para a onda da IA generativa, um dos temas que percorrem os corredores da Faria Lima desde a explosão do ChatGPT, em 2022. Já são sete pós-graduações dedicadas a profissionais de tecnologia com ênfase na temática.

Para França, até mesmo os casos mais bem-sucedidos de uso de inteligência artificial generativa em empresas ainda são recentes, e companhias que já tateavam o terreno da tecnologia, bem como aquelas que rapidamente se adequaram, consolidaram melhor a aplicação em seus negócios.

“No geral, a maior parte [das empresas] ainda não está preparada para usar IA”, diz França. “A nossa percepção é de que existe uma grande demanda das pessoas no mercado, sejam elas profissionais ou empreendedores, para entender como essa tecnologia vai impactar suas vidas.”

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Veja a entrevista:

InfoMoney: Para muitos especialistas e pessoas do mercado, 2024 seria um ano em que os casos de uso de IA generativa começariam a surgir, após anos de testes. Estamos nessa fase?

Diogo França: O surgimento do ChatGPT em 2022 levou a uma democratização do tema da inteligência artificial, apesar de ser algo que vem sendo estudado e analisado há décadas. Essa democratização é do termo, mas também das possibilidades para se fazer negócio. Eu acredito que faz sentido olhar para 2023, logo após o surgimento do GPT, como um momento em que o mercado parou para pensar “onde que eu vou dedicar aqui meus recursos para começar a usar isso?”. Agora, em 2024, começamos a ver casos de usos mais fortes.

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Hoje já existem alguns negócios um pouco mais consolidados, apesar de todos no geral serem relativamente novos.

IM: Qual é o perfil das empresas que hoje possuem esses casos de uso?

DF: O primeiro grupo é daqueles que já conheciam o tema, talvez até usavam IA em algum nível e conseguiram expandir o uso nos seus negócios e até criaram outros negócios a partir de um conhecimento prévio. Quando surgiram aqueles modelos de LLM [modelos de linguagem grandes, usados por IAs generativas] mais robustos como o GPT, eles rapidamente ganharam escala e forma.

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Tem um segundo que são aquelas empresas ou empreendedores no geral que já tinham um problema claro e viram na IA uma oportunidade de acelerar a resolução desse problema. E aprenderam como usá-la rapidamente.

E tem o terceiro grupo que ainda não usa. Falando como Faculdade XP, a nossa percepção é que existe uma grande demanda das pessoas no mercado, sejam elas profissionais ou empreendedores, para entender como essa tecnologia vai impactar suas vidas. No geral, a maior parte ainda não está preparada para usar IA. Os dois primeiros grupos que eu citei são mais a exceção.

IM: Os executivos estão preparados para embarcar no tema da IA, sabem o suficiente sobre inteligência artificial generativa para orientar suas equipes?

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DF: No começo do ano, o nosso portfólio de produtos aqui na Faculdade XP era basicamente orientado para pessoas de tecnologia: engenharia de software e arquitetura de dados eram nossas pós-graduações com maior volume de alunos.

Ao mesmo tempo, várias pessoas de fora do mercado de tecnologia nos procuraram para demandar também esse tipo de conhecimento em IA. Muitos dos que nos procuraram eram líderes executivos. Na semana passada, lançamos o primeiro produto em alguns anos de Faculdade XP que é focado para o público não tech. É focado na formação de lideranças e executivos.

Existe uma grande demanda e eles estão dispostos a aprender. É um grande movimento de mercado que as lideranças executivas, sejam CTOs ou CEOs, estão buscando se preparar para esse momento, até para desdobrar conhecimento.

IM: Como os cursos e os próprios alunos respondem ao aprendizado de uma tecnologia que evolui em tão alta velocidade?

DF: É uma tecnologia que de fato vem para mudar o mercado e tudo está acontecendo tão rápido que é difícil de acompanhar. Realmente é necessário sair da zona de conforto e aprender sobre ela, senão vou ficar para trás.

Acho que a maior dúvida dos alunos é essa: “como que a gente busca combater essa dor, dado que tudo é muito recente?”. Esse próprio MBA é um exemplo: ao longo do MBA são 10 disciplinas antes de um projeto final e, em cada disciplina, além do professor titular que é um doutor ou uma doutora, trazemos pelo menos dois convidados de mercado para contar como a empresa dele está usando a inteligência artificial. A ideia é que seja um negócio muito prático justamente para tentar solucionar esse problema de muita inovação constante.

IM: Discute-se muito a questão de mão de obra para IA generativa, até uma escassez de cursos de educação superior dedicados ao tema. A expectativa é expandir o portfólio nessa área?

DF: Existirá uma nova dinâmica de mercado, vai afetar todas as profissões, muito provavelmente a gente vai continuar investindo e ao longo dos próximos meses devemos lançar coisas novas, e não só focadas em executivos. Eles têm sido os primeiros a se preparar e demandar, mas hoje tem uma demanda de vários profissionais.

O que pensamos foi em lançar um produto focado nesse público para atender ao mercado e aí começamos a desdobrar esse conhecimento aos poucos. Nada impede que comecemos a ter produtos personalizados por carreira, por exemplo, até porque IA vai afetar toda e qualquer carreira do mercado.

IM: Os demais cursos têm sido adaptados para englobar IA generativa na pauta?

DF: Temos adaptado os cursos desde o começo do ano para IA. Um dos cursos com maior quantidade de alunos é o de arquitetura de software, e a gente desenvolveu a arquitetura de software com ênfase em IA. O aluno mantém a grade do curso original e a gente adicionou um bootcamp. Imagine que é um segmento que adiciona de 30% a 40% ao tamanho do curso de pós-graduação.

IM: Essas adaptações têm levado a um aumento de matrículas e melhores resultados para a Faculdade XP?

DF: O que posso dizer é que a demanda tem sido bem maior do que planejamos. Conseguimos ter um ano bem melhor [em 2024], não que apenas isso justifique [a adaptação a IA nos cursos] o bom ano. Acho que a Faculdade XP como um todo vem aumentando a qualidade dos produtos. Estamos investindo não só em conteúdo novo, mas em qualidade. A intenção é de que daqui para frente tenhamos conteúdos sempre atualizados, sejam eles de inteligência artificial ou não, mas sempre trazendo a inteligência artificial por contexto de tecnologia e negócio.

Iuri Santos

Repórter de inovação e negócios no IM Business, do InfoMoney. Graduado em Jornalismo pela Unesp, já passou também pelo E-Investidor, do Estadão.