Mecânico denuncia falhas graves na manutenção da Voepass: “Já sabia que ia acontecer”

Ex-funcionário da Voepass revela problemas graves antes do acidente fatal; empresa teve operações suspensas pela Anac após denúncias e investigações

Paulo Barros

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Na esteira da suspensão das operações da Voepass pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), um mecânico da empresa denunciou graves problemas na manutenção das aeronaves, incluindo falhas no suporte e na segurança operacional. As revelações foram feitas em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, neste domingo (16), jogando ainda mais luz sobre a companhia, que ficou marcada pela tragédia do voo 2283, que caiu em agosto de 2024, em Vinhedo (SP), matando 62 pessoas.

O mecânico, que trabalhou na Voepass antes e depois do acidente, afirmou que a empresa operava sem fornecer suporte adequado à equipe de manutenção, o que comprometeria a segurança dos voos.

“A Voepass não dá suporte nenhum para a gente da manutenção. Não só de materiais, de componentes que vão ser postos nos aviões, como também ferramentas. Passei por grandes empresas, empresas excelentes, e quando chegamos na Voepass a gente sente uma diferença muito grande”, relatou.

Leia mais: Tem passagem pela Voepass, que foi suspensa pela Anac? Veja o que fazer

Sobre o acidente de agosto de 2024, o mecânico revelou que os problemas na aeronave envolvida eram conhecidos internamente:

“Eu já sabia que ia acontecer isso com o Papa Bravo (apelido da aeronave devido às letras do prefixo PB). Era o avião que dava mais problemas, que dava mais pane. A gente avisava que o avião estava ruim, a manutenção sabia que o avião estava ruim, reportava, falava, avisava, e eles queriam obrigar a gente a botar o avião para voar”.

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Mesmo após a tragédia, a cultura operacional da Voepass não teria mudado:

“Se você me perguntar: mudou alguma coisa? Mudou em nada. Acho até que piorou”, disse o mecânico ao Fantástico.

Aviões canibalizados e ocultados de fiscalizações

Imagens obtidas pela reportagem do Fantástico mostraram aviões parados em um matagal na sede da empresa, em Ribeirão Preto (SP), sendo desmontados para fornecer peças a outras aeronaves em operação. Embora essa prática não seja ilegal, o ex-funcionário afirmou que ela era conduzida de forma irregular dentro da Voepass.

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A empresa também teria tentado ocultar esses aviões durante inspeções da Anac.

“Aqueles aviões que estavam cobertos, aqueles eram os aviões que estavam no mato. Por que eles mandaram cobrir? Porque a Anac ia fazer uma vistoria lá. Eles estavam escondendo da Anac”, disse o mecânico.

O que diz a Voepass

Em nota ao Fantástico, a Voepass afirmou que busca retomar suas atividades o mais rápido possível e que, durante seus 30 anos de operação, a segurança sempre foi prioridade. A empresa destacou que o relatório preliminar do Cenipa confirmou que a aeronave do voo 2283 estava com certificação válida e todos os sistemas em funcionamento.

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A companhia também alegou que a reutilização de componentes entre aviões é permitida quando há certificação e rastreabilidade adequadas. A Voepass negou qualquer tentativa de burlar fiscalizações e disse que segue todos os protocolos regulatórios.

Paulo Barros

Jornalista pela Universidade da Amazônia, com especialização em Comunicação Digital pela ECA-USP. Tem trabalhos publicados em veículos brasileiros, como CNN Brasil, e internacionais, como CoinDesk. No InfoMoney, é editor com foco em investimentos e criptomoedas