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Eu já falei aqui de uma recomendação contrária de venda que foi um dos meus maiores acertos na minha carreira de análise de ações. Entretanto, nem sempre é possível acertar tudo na vida. Hoje irei falar de uma recomendação “fora do consenso” que não deu certo, o chamado call pé trocado ou curupira.
Antes de começar a contar essa história, preciso fazer um adendo sobre o Curupira, que é uma das lendas do folclore brasileiro. Uma das suas principais características é possuir pés virados para trás. Assim, o call curupira (errado) é quando o preço das ações se comporta de maneira oposta à recomendação (ex: recomendação de compra e queda no preço das ações).
Eu sempre digo que o mais importante na carreira de um bom analista de ações é acertar mais do que errar em recomendações de investimento. Portanto, errar faz parte do processo e devemos aprender com os nossos próprios erros.
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Eu acredito que um bom especialista em ações precisa ter três habilidades essenciais: i) saber escrever e expressar bem as suas ideias; ii) ter um bom modelo de projeção financeira que responda rapidamente aos diferentes cenários e; iii) timing e saber “tradar” o catalisador certo para uma determinada ação.
Eu diria que a maior parte dos erros ocorre devido ao timing da recomendação, pelo simples fato do analista não ter enxergado algo muito importante para o call ou ter dimensionado errado o catalisador para a empresa.
O call errado da Tecnisa
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O meu maior erro foi a recomendação de COMPRA para as ações da incorporadora imobiliária Tecnisa em outubro de 2013.
A recomendação de COMPRA nas ações da Tecnisa estipulou um preço alvo de R$ 12,00 por ação em dezembro de 2014, com potencial de valorização de 25%. O grande catalisador das ações era o projeto imobiliário Jardim das Perdizes, praticamente um novo bairro planejado em São Paulo
A tese de investimento era baseada na geração de caixa e consequente redução do endividamento da empresa no final de 2014 e 2015.
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O que realmente aconteceu
Com o grande volume de projetos entregues pela Tecnisa, apareceram os problemas: estouros de custos de obras e cancelamentos de vendas. Assim, a geração de caixa não veio e a dívida da Tecnisa ficou tão alta que a empresa anunciou um aumento de capital, que teve inclusive a participação da Cyrela.
Errar significa perder dinheiro
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Como dizia um analista da minha equipe: “Deu ruim, boss”. As ações (TCSA3) acumularam queda de 56,7% até o final de 2014.
Depois do leite derramado, joguei a toalha
Eu mudei a recomendação da Tecnisa de Compra para Manutenção no início de 2015, pois o nível de endividamento (dívida líquida/PL) aumentou para 146% em setembro de 2014, pois a geração de caixa não veio e o catalisador da ação se provou equivocado.
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Cuidado com previsões muito otimistas
Eu aprendi a ter mais cuidado e sempre duvidar de projeções muito otimistas para as empresas, especialmente quando o tema é endividamento, pois este é um dos indicadores mais importantes da análise fundamentalista de uma companhia.
Não tenha amor pelo call (recomendação)
Como especialista de ações sou diariamente desafiado a ter opinião sobre as empresas e sempre ter recomendações sobre as ações (compra ou venda), às vezes opiniões fora do consenso.
Porém, se a tese de investimento estiver equivocada ou mudar devido ao cenário e devido às mudanças na empresa, eu reconheço o meu erro e mudo a recomendação. Muitos analistas acabam ficando “presos” ao call e resistem para enxergar que as condições mudaram e que a recomendação não faz mais tanto sentido.
Errar faz parte do processo e a experiência de mais de uma década em análise de ações ajuda no aprendizado com as recomendações que não deram certo.
Por último, aprendi que nem sempre o call contrário funciona e o momento nem sempre é adequado nas decisões de investimento. Existem momentos em que é mais difícil ter uma opinião fora do consenso. Uma opção “fora do dinheiro” nem sempre está disponível e às vezes não fazer nada (ex: sem mudar a carteira recomendada) é a melhor decisão de investimento.