A economia brasileira em 2019: nova decepção?

A continuidade de um crescimento decepcionante pode apontar uma conjuntura pior que a da famosa década perdida, avalia copresidente do Conselho de Economia, Sociologia e Política da FecomercioSP e professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Dom Cabral, Antonio Lanzana

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Por Antonio Lanzana*

Estimativas para o desempenho do PIB no início de 2018 indicavam um crescimento de 3%, segundo o boletim Focus, porém, as expectativas foram se deteriorando, e o ano se encerrou com expansão de 1,1%. Existem muitas causas possíveis para esse recrudescimento no desempenho do PIB, entre elas, é válido citar: greve de caminhoneiros, ambiente internacional e incertezas eleitorais.

Havendo no País uma continuidade de um crescimento decepcionante, é importante entender que o cenário é muito complicado. Isso significa que o Brasil estaria inserido em uma conjuntura pior que a da famosa “década perdida”, na qual o crescimento anual médio na década de 1980 era de 1,6%. Ao considerar a década atual – dados consolidados de 2018 – e as previsões do boletim Focus para os anos que seguem –, resultaria em um crescimento médio anual de 0,9% ao ano.

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Em relação ao PIB per capita nacional, hoje, em 2018, está mais de 8% abaixo do observado em 2013. Isso significa que os brasileiros estão 8% mais pobres que no período em questão.

O País ainda está longe de recuperar o que foi perdido nos anos recentes, e, segundo algumas simulações, se o PIB crescer 2% a.a., o Brasil somente atingiria o PIB per capita de 2013 em 2025! E na possibilidade de crescer 2,5% a.a., a mesma riqueza per capita seria alcançada em 2023.

Tal qual observado em 2018, as estimativas para o desempenho do PIB vêm se reduzindo desde o início do ano: o Focus já ajustou de 2,5% para 2%; o IPEA, de 2,7% para 2%; e é importante entender que esses ajustes para baixo na taxa de crescimento da economia são frustrantes e deterioram as expectativas.
Reverter esse cenário seria plausível caso o governo entregasse mais crescimento e emprego.

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Os primeiros indicadores de 2019 revelam que estamos crescendo a um ritmo mais lento que em 2018. Ou melhor, inseridos em cenário de desaceleração do ritmo de atividade.

Em relação aos dados setoriais, o volume de vendas do comércio no Brasil, considerando o varejo restrito (IBGE), revela 1,9% na comparação interanual de janeiro, abaixo da média de 2018 em comparação a 2017, que era de 2,3%. Já em relação ao varejo ampliado, janeiro de 2019 em relação ao mesmo mês do ano passado aponta 3,5% de alta, abaixo dos 5% oriundos da comparação anual entre 2018 e 2017. A mesma tendência é observada na produção industrial, sob a mesma base de comparação – e, nesse caso, não se pode descartar o efeito da crise Argentina, que afeta os bens manufaturados.

O cenário global, como um todo, mostra algum desalento em relação aos resultados da economia brasileira. Houve uma certa euforia com os empresários e consumidores, sob a crença de que o governo poderia entregar mais do que, de fato, pode, e, por isso, há um movimento de revisão de expectativas.

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Entre os componentes da demanda agregada, um dos principais para puxar o crescimento da economia para cima neste ano é o consumo das famílias, ou seja, da demanda interna. Política fiscal está no caminho certo para garantir um bom cenário, mas é recessiva no curto prazo.

Em suma, o consumo das famílias depende da recuperação do nível de emprego, da renda, da confiança dos agentes e das condições de crédito. Com isso, os papéis do crédito e da retomada da confiança são notáveis.

Não se pode esperar ainda redução nas taxas de juros praticadas pelo Banco Central, pois se trata de um novo comando que ainda não tem sua credibilidade estabelecida. E é importante também entender que, na ausência de uma Reforma da Previdência – ou mesmo com uma reforma tímida –, haverá reflexo no câmbio e na inflação.

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A maior contribuição do BC ao crescimento é por meio da credibilidade e, principalmente, porque o Banco Central tem meta de inflação, não de crescimento!

*Antonio Lanzana é copresidente do Conselho de Economia, Sociologia e Política da FecomercioSP e professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Dom Cabral

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