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“Eu confesso que estranhei, não entendi nem meu partido. Se eu fosse do PSL e tivesse a fala eu não votaria pela inversão da pauta, porque eu vejo que tem 200 milhões de brasileiros ali fora, 10 milhões atrás de um emprego e a gente discutindo aqui sexo dos anjos e questões que não são tão importantes quanto a reforma”. A fala é do presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), deputado federal Felipe Francischini (PSL-PR). Sua expressão era de perplexidade, mas quem acompanha esse início de gestão Jair Bolsonaro não pode se dar a esse luxo.
O atual cenário — que desgraçadamente periga arrastar a reforma da Previdência para uma desidratação incompatível com a retomada de crescimento do país, ou até mesmo adiá-la para um futuro incerto — reflete a mais pura incompetência política de um governo federal nas últimas décadas.
Assim se dá porque Jair Bolsonaro, seus filhos e assessores mais próximos decidiram apostar em uma fórmula eleitoral de sucesso comprovado, porém inexequível na vida real. E, talvez ainda pior, até mesmo do que se inspirar em Fernando Collor de Mello e em grande medida no populismo petista, a utilizam agora como biombo para mascarar a própria incompetência.
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Para azar do país, embora o apoio à atual administração já esteja dando sinais de queda, boa parte da sociedade ainda se vê mergulhada na fábula da dicotomia ideológica. O número de desempregados continua acima dos 10 milhões, a taxa anual de homicídios pode ser comparada a de países em guerra, Educação e Saúde estão abandonadas, mas o sujeito quer saber mesmo é de culpar a imprensa por tudo, de usar o PT como referência moral e de encontrar desculpas para justificar quaisquer comportamentos estapafúrdios por parte de membros do governo.
Também para infortúnio do país, o mercado resolveu comprar o pacote Bolsonaro, talvez acreditando que Paulo Guedes seria capaz de domar o presidente ou, o que é ainda mais improvável, teria condições de fazê-lo. Fica a pergunta: a passagem de Joaquim Levy na Fazenda não nos ensinou nada?
Pois, ao contrário do que o deputado Francischini e a maioria imagina, é o Congresso quem hoje dá o melhor exemplo de como o atual governo deve ser tratado. Inclusive a oposição, mas acima de tudo aqueles de quem se esperava um apoio claro.
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Trocando em miúdos, as surras que Bolsonaro vêm levando com frequência em votações na Câmara e no Senado têm sido saudáveis. Não deveria ser assim, mas, dadas as circunstâncias, é a melhor maneira de educar o comissariado.
Diga-se, efeito idêntico poderia se dar caso as pesquisas de opinião pública fizessem esse monstrengo quixotesco chamado bolsolavismo entender que o veneno começa a perder efeito. Ou, quem sabe, se o empresariado e a parte do mercado que durante a eleição ignoraram todas as evidências para abraçar o autoengano encerrassem, de vez, uma lua de mel já sem razão de ser.
A essa altura está claro: não se trata mais de olhar para a Previdência com o otimismo de antes, aquelas falas bonitas apostando que tudo se resolveria no primeiro semestre ou os chutes tortos garantindo que faltam poucos votos para a sua aprovação.
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O trabalho agora, se é que ainda resta algum, é a curto prazo. Um passo de cada vez. Todavia, que seja em conjunto.
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