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por Leonardo Monasterio*
Pode o emigrante beneficiar o país que deixou? Sim, yes, ja, si, hai…. A resposta é positiva em qualquer língua e para qualquer povo. Se o papel da imigração no desenvolvimento dos países é bem documentado, a importância da emigração para os países que “perdem” as pessoas tem sido menos falada.
Décadas atrás, havia o temor de que o brain drain, a perda de talentos nativos dos países pobres para os países ricos, seria um obstáculo ao desenvolvimento. Com o tempo, a realidade se mostrou mais complexa e benéfica para as nações que enviaram pessoas ao exterior. São diversos os mecanismos que fazem a emigração ser bem-vinda, no longo prazo, para o país de origem.
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Em primeiro lugar, existe a migração de retorno. Apenas parte do fluxo de migrantes é para a vida toda. Por toda África gerações de nacionais voltaram ao país em busca de oportunidades. Os novos empreendedores trazem recursos, conhecimentos, redes de contatos e capacidade de transitar entre diferentes culturas. Tudo isso contribui para a construção de suas economias.
Essa diáspora reversa tem acontecido na Índia e na China em relação aos Estados Unidos: bem sucedidos descentes de imigrantes destes países voltam à terra dos seus ancestrais, abrem empresas e promovem o desenvolvimento local. É o tal do brain gain.
Outro efeito positivo da emigração se dá por meio de incentivos para adquirir habilidades. A possibilidade futura de ganhos leva os potenciais emigrantes a investirem em seu capital humano. Um filho emigrante bem-sucedido pode ser a única esperança de uma família pobre. E, como nem todos migrarão, o país acumula capital humano e a produtividade da economia como um todo aumenta.
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Isso não é apenas uma possibilidade teórica: há evidências de que isso de fato acontece mundo afora.
Existem benefícios da emigração também nos ramos de alta qualificação. À primeira vista, é triste que cientistas brasileiros tenham que fazer carreira no exterior, mas muitos deles abrem portas para estudantes ou se dedicam a resolver problemas nacionais nas universidades estrangeiras. A permanência de alguns cientistas no exterior faz parte da integração do país na comunidade científica internacional.
Já em termos políticos, a possibilidade de emigrar pode funcionar como freio para os maiores erros dos governantes. No limite, um cidadão pode “votar com os pés” e fugir do país.
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Imaginem se não houvesse qualquer possibilidade de saída. Os governos seriam ainda piores do que foram ao longo da história (infelizmente, esse mecanismo fracassa em países como a Venezuela, cleptocracias autoritárias baseadas na extração de recursos naturais, ou naqueles que impedem fisicamente a evasão de seus cidadãos).
Há, por fim, a importância das remessas dos emigrantes para as suas famílias. Por colocarem a sua capacidade produtiva em um ambiente econômico mais desenvolvido, os emigrantes são capazes não só de terem vidas decentes, mas também de ajudarem os que ficaram para trás. Em países como El Salvador, as remessas dos emigrados são responsáveis por cerca de 20% da renda nacional.
O exemplo do futebol mundial sempre ilumina as coisas. A ida de jogadores e treinadores brasileiros para o exterior foi uma benção e não uma tragédia. Os que retornaram trouxeram novas técnicas do exterior e repassaram aos locais.
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Ainda mais importante do que isso, a remota possibilidade de um garoto talentoso vir a jogar um dia no Barcelona é um poderoso incentivo para milhares se dedicarem desde a infância ao esporte. Apenas um será o Neymar de sua geração. Uns poucos irão para a França ou Inglaterra; outros para o Oriente Médio ou Ásia; e muitos ficarão no Brasil. Todos esses fluxos levam a uma contínua melhoria da qualidade do futebol brasileiro.
Além disso, a possibilidade de saída dos jogadores faz com que não sejam mais tão dependentes dos dirigentes de clubes ou da CBF. (Por essas razões, a ideia de limitar a saída de jogadores brasileiros, além de moralmente indigna, seria um tiro no pé do futebol brasileiro).
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Não há nada de errado ou vergonhoso em emigrar. Quem o faz, apenas exercita a sua liberdade, na busca de uma vida melhor para si e sua família. Não prejudicam o país, nem ninguém. Quanto mais o Brasil se tornar um país aberto, seguro e livre, mais expatriados voltarão. E trarão de volta sua capacidade de trabalhar, inovar, seus contatos e mesmo seus recursos financeiros. O Brasil deveria agradecê-los desde já.
*Leonardo Monasterio é economista, pesquisador do IPEA, professor da UCB e associado do Livres.