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Guilherme Molina, associado IFL-SP ( Instituto de Formação de Líderes de São Paulo), engenheiro e Diretor de Investimentos em Private Equity.
A Venezuela está passando por um caos social e econômico que trouxe um sofrimento ao seu povo similar apenas a outras experiencias socialistas recentes (Rússia, Cuba, Coreia do Norte, Vietnan, etc).
Cerca de 3 milhões de venezuelanos abandonaram o país nos últimos anos, a inflação atingiu 1.700.000% ao ano, a economia encolheu 60% desde que Maduro assumiu, mais de 80% da população vive na pobreza, sendo que 60% na pobreza extrema1.
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Esta atrocidade humanitária poderia ter sido evitada se a lógica do socialismo fosse clara para toda população. A despeito do seu objetivo nobre e seu apelo simpático e igualitário, o socialismo não tem como funcionar, é um erro intelectual.
E isto foi demonstrado exaustivamente, desde o início do século XX, por diversos escritores da escola austríaca de economia.
O funcionamento do socialismo depende de um planejamento central eficiente, o que significa que algumas pessoas escolhidas pelo governo serão encarregadas de alocar todos os recursos da economia como mão de obra, investimentos, produção de alimento, etc., a fim de atender todas as demandas da sociedade.
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Dado a complexidade de uma economia moderna é impossível que, mesmo as melhores cabeças com os melhores computadores, possam prever de maneira racional todas as necessidades do que produzir, onde investir, etc. (A Venezuela possui uma população de 32 milhões de pessoas e está ligada a uma cadeia global de suprimentos que, no limite, depende de entender o que mais de 7 bilhões de pessoas estão fazendo e pensando).
Seria necessário que o governo tivesse acesso a todo conhecimento disponível na sociedade e na cabeça de cada pessoa, ou seja, o governo precisaria ser omnisciente. O único ser capaz de fazer este tipo de planejamento seria Deus, porém os líderes socialistas, com medo de perder seu poder, teriam dificuldade em permitir que ele chegasse ao poder.
Arriscaria dizer que Maduro não abriria mão do poder para que o todo poderoso assumisse o poder. Criaria uma retórica de conflito para justificar sua permanência, como todo líder socialista fez.
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Outra característica do conhecimento é ser disperso e descentralizado, como explica Hayek (economista austríaco ganhador do prêmio Nobel).
Cada indivíduo possui apenas parte do conhecimento, e há conhecimento que está apenas dentro da cabeça das pessoas, assim como suas intenções futuras. Este é o princípio da limitação do conhecimento.
Acreditar que a capacidade humana é suficiente para compreender perfeitamente o funcionamento dos mercados, e que podemos superar os limites do conhecimento, é uma arrogância fatal2 que custou mais de 100 milhões de vidas3.
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Um outro ponto que dificulta o planejamento é entender que o funcionamento do mercado depende de milhões de pessoas exercendo suas vontades para trocar itens e serviços entre si.
Saber o que cada ser humano pretende fazer, gostaria de consumir, etc., são características subjetivas e de difícil generalização ou previsão. Este é o princípio da subjetividade da ação humana.
A crença arrogante dos seres humanos em acreditar demasiadamente na sua capacidade cognitiva e a possibilidade de entender perfeitamente o funcionamento de todas as coisas, levou a criação de utopias como o socialismo. A história mostra que todos os casos históricos de planejamento central socialista fracassaram.
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Ela também mostra que a evolução de todas as sociedades não pode e nunca foi ordenada, sempre tendendo a uma ordem espontânea 2. A tentativa de controlar este movimento evolutivo natural sempre depende do uso da tirania de alguns poucos contra todos.
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Por isto, talvez, a sociedade liberal nunca foi implantada em sua totalidade, e o socialismo, sim. O Segundo aceita a tirania e a violência como justificativa para atingir seus meios, enquanto o liberalismo, não.
Portanto a limitação de conhecimento e a subjetividade da mente humana impossibilita que haja planejamento central eficiente dos meios de produção.
Soma-se a estes dois efeitos o tempo, que significa dizer que o mundo (e os mercados) são processos em constante modificação, e não estáticos. O efeito do tempo faz com que, mesmo que fosse possível em determinado momento saber todas as necessidades de consumo de uma população, até que todos os meios de produção fossem alocados e todos os itens fossem produzidos, as necessidades já haveriam mudado e a alocação dos recursos já seria ineficiente.
Portanto, devido a limitação do conhecimento, a subjetividade da ação humana e a ação do tempo modificando constantemente todo o mercado, é impossível haver planejamento central de uma economia.4
Estes conceitos levam à mesma conclusão de Mises, do início do século XX, sobre o clássico problema do cálculo econômico do socialismo5. Com a estatização dos meios de produção, não há cálculo de preços em todas as etapas intermediarias da produção pois não há preços (não há mercados livres onde há oferta e demanda dos produtos e como visto até agora, planejá-los é impossível).
Sem os preços os diversos participantes do mercado não conseguem saber se sua produção é eficiente. Sem poderem planejar sua produção, não podem alocar os recursos de maneira eficiente. Desta maneira, é impossível haver alocação eficiente dos recursos, pois os preços são os sinais que a sociedade envia para os fabricantes sobre onde há maior demanda de serviços e produtos. Todas as empresas operam “às cegas”.
Desta maneira, Mises concluiu que o planejamento socialista é impossível. No caso venezuelano, isto pode ser comprovado pela falta generalizada de produtos em supermercados, de bens intermediários para a produção de petróleo, etc.
A escola austríaca de economia previa a inviabilidade intelectual e prática do socialismo desde que Mises, nos anos 1920, demonstrou que o socialismo era inviável. Portanto, por mais nobre que seja o objetivo do socialismo, ele é inviável. Na sequência, diversos outros escritores seguidores de Mises complementaram sua teoria, em especial Hayek que aprofundou a teoria do conhecimento demonstrando como o socialismo é intelectualmente impossível.
Estes escritores foram esquecidos durante quase todo século XX e muitos continuam a acreditar no erro intelectual do socialismo. A última grande vitima foi o povo venezuelano.
A pergunta, que desesperadamente se deve fazer é: Quantas pessoas ainda precisarão morrer para que acreditem no que os economistas austríacos mostram há mais de 100 anos? O Problema do socialismo não é sua intenção, e sim, sua impossibilidade prática.
1-“The Economist”, 2 de fevereiro de 2019
2-“The fatal Conceit”, F. A. Hayek, 1988
3-“O Livro negro do comunismo”. -Courtois, Stéphane (1 de janeiro de 1999)
4-“Ação, Tempo e Conhecimento: Escola Austríaca de Economia “– Ubiratan Jorge Iorio
5-“O cálculo econômico em uma comunidade socialista”, Ludwig Von Mises