Economia com Fernando Haddad pode ser a economia de Dilma Rousseff

Um dos economistas de Fernando Haddad (PT), Guilherme Melo, parece não ter aprendido nada com os erros do ex-presidente Lula e de sua sucessora Dilma Rousseff. Na expert 2018, Melo defendeu basicamente a mesma fórmula que levou o Brasil ao caos. Caso Fernando Haddad ganhe as eleições - e essas medidas sejam implementadas - o dólar a R$5,00/US$ ainda estará barato.

Alan Ghani

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Um dos economistas de Fernando Haddad (PT), Guilherme Mello, parece não ter aprendido nada com os erros do ex-presidente Lula e de sua sucessora Dilma Rousseff. Na Expert XP 2018, Melo defendeu basicamente a mesma fórmula que levou o Brasil ao caos. Caso Fernando Haddad ganhe as eleições – e essas medidas sejam implementadas – o dólar a R$5,00/US$ ainda estará barato.

A espinha dorsal do discurso de Guilherme Mello é que o ajuste fiscal se resolve pela retomada da atividade econômica, solução tipicamente heterodoxa, keynesiana. Para Mello, se a retomada econômica voltar, a questão fiscal se resolveria devido ao aumento da arrecadação (maior PIB). Nas palavras do economista do PT, “é a retomada do crescimento que ajuda a solução do problema fiscal”.

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O que Mello parece não entender é que no mundo real exige algo chamado “expectativas”. Como haverá retomada do investimento por parte das empresas se a situação fiscal está deteriorada? Qual empresário vai querer assumir esse risco diante desse cenário? Para ele, diante desse cenário, quem seria o agente capaz de impulsionar o crescimento econômico? Claro, o governo. O economista não falou isso explicita ou literalmente, mas juntando suas frases ao longo do debate, a visão keynesiana fica evidente: “a retomada do crescimento do emprego como uma condição para você ter um ajuste fiscal sustentável.”, (…) nós temos que resolver o problema fiscal, é evidente, mas lado a lado com a resolução do problema de crescimento do emprego.”

A pergunta a ser feita é: qual é a diferença da visão econômica heterodoxa dele para a política do governo Dilma? Ou a política no governo Dilma não foi baseada na tentativa de criação de emprego e renda, por meio do estímulo do consumo (crédito barato, isenções fiscais e aumento dos gastos do governo), acreditando que essas medidas conteriam o problema fiscal? A ideia do governo era que todos os problemas se resolveriam com crescimento econômico:  aumentaria a renda, o emprego e a arrecadação do governo –claro, tudo isso, sem provocar inflação, uma vez que os preços são rígidos no curto prazo para os economistas keynesianos do PT.

No entanto, a história foi bem diferente. A deterioração fiscal iniciada no 2º mandato do governo Lula – o superávit primário passa de uma média de 2,4% do PIB (de 2003 a 2006) para 1,9% do PIB (de 2007 a 2010) – se torna peça chave para a maior crise econômica da história brasileira no governo Dilma.

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A expansão desenfreada do gasto público, do crédito subsidiado e das desonerações fiscais levaram o Brasil a sucessivos déficits primários. De um lado, o empresário se tornou avesso ao risco diante da deterioração fiscal e deixou de investir, contribuindo para a queda da renda e, portanto, da arrecadação. Por outro lado, a própria expansão do gasto piorou o resultado primário. Além disso, o aumento das despesas públicas reduziu a poupança nacional, pressionando as taxas de juros, encarecendo ainda mais o custo da dívida. Resultado: explosão do resultado nominal (o déficit nominal em 2013 era de -2,1%, saltando para -4,7% do PIB em 2014 e -8,6% do PIB em 2016).

Infelizmente, o resultado desse descontrole fiscal todos conhecem: alta dos juros, queda da renda e aumento do desemprego. Em 2016, o déficit primário atinge -2,5% do PIB, as taxas de juros dos títulos públicos chegam a 16%a.a, o PIB cai -3,46% e o desemprego atinge 13 milhões de brasileiros.

Ainda na questão fiscal, o economista do PT propõe a tributação de lucros e dividendos. Alexandre Pacheco, colunista do InfoMoney e especialista na área tributária, já demonstrou em vários artigos (aqui, aqui, aqui)  que tal medida só irá gerar distorções, encarecendo ainda mais o processo produtivo das empresas, com efeitos sobre a atividade econômica (menos crescimento e criação de empregos).

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Já em relação à reforma da previdência, o economista do PT acredita que a reforma da previdência é apenas uma questão de acabar com os privilégios, ignorando o ponto central: o aumento da idade mínima devido ao envelhecimento da população. É claro que se deve acabar com os privilégios, mas a reforma da previdência vai muito além disso, caso contrário, é calote da dívida pública, prejudicando principalmente os mais pobres, conforme afirmou o economista Paulo Tafner em entrevista para o InfoMoney (aqui) .

Em resumo, se Haddad for eleito e colocar as ideais de Guilherme Mello em prática, temos uma certeza: voltaremos aos tempos de Dilma Rousseff.

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Alan Ghani

É economista, mestre e doutor em Finanças pela FEA-USP, com especialização na UTSA (University of Texas at San Antonio). Trabalhou como economista na MCM Consultores e hoje atua como consultor em finanças e economia e também como professor de pós-graduação, MBAs e treinamentos in company.