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Semana de 4 dias de trabalho: com bons resultados, projeto abre inscrições para 2025

Empresas interessadas no modelo de jornada reduzida já podem entrar em contato com movimento 4 Day Week Brasil

Anna França

(Shutterstock)
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Os bons resultados obtidos com o projeto-piloto da semana de 4 dias no Brasil levaram o movimento internacional 4-Day Week Global, em parceria com a brasileira Reconnect Hapiness at Work, a lançar o programa para companhias que desejam implantar o sistema da semana reduzida em 2025. As interessadas podem acessar o formulário e fazer sua inscrição.

“Mas mais do que reduzir um dia na semana, essas empresas precisam estar dispostas a avaliar sua cultura e redesenhar seu processo de trabalho para ganhar produtividade”, disse Renata Rivetti, fundadora da consultoria Reconnect, durante o evento que reuniu, em São Paulo, os representantes das primeiras organizações a entrar no programa.

Criado em 2019 na Nova Zelândia, o movimento já se espalhou por vários países da Europa, África e Américas sob a gestão do movimento 4-Day Week Global.

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O experimento, que já está sendo testado em mais de 500 companhias pelo mundo, ficou conhecido como 100-80-100 porque prevê que o profissional continue recebendo 100% do salário, mas trabalhe 80% do tempo e, em troca, se compromete a manter 100% de produtividade.

Segundo Renata, a conclusão da implementação do projeto em 19 empresas ajudou a derrubar o mito de que esse programa seja apenas uma redução de horas de trabalho, mas sim de ganho de produtividade. “Com esse primeiro grupo, pudemos ver o que funciona para cada empresa e que a chave de tudo é a flexibilidade”, acrescenta.

Para Paul Ferreira, representante da Fundação Getulio Vargas (FGV), quem faz opção de trabalhar quatro dias por semana precisa saber que vai ter de ser produtivo nesses quatro dias, por isso precisa de uma mudança profunda de rotinas. “Não basta achar que a quinta-feira é a nova sexta. O desafio é grande, mas esse primeiro grupo mostrou que funciona”, disse o responsável pelo estudo que compilou os dados quantitativos e qualitativos do projeto.

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Participação no projeto-piloto

Das 21 empresas que entraram no piloto da semana de 4 dias, envolvendo cerca de 290 colaboradores, apenas duas não finalizaram. Uma delas era do Rio Grande do Sul e foi afetada pela tragédia de enchente, em maio, e não pode continuar. A outra resolveu pausar em função da troca de direção, segundo Rivetti.

Entre as empresas que terminaram a implementação, praticamente todas decidiram estender o processo até o final do ano e 97,5% dos seus funcionários disseram que gostariam muito que a semana de 4 dias continuasse, mostram os dados do estudo feito pela 4 Day Week Brasil em parceria com a FGV e o Boston College, baseado em dados coletados e compilados entre janeiro e julho.

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Os desafios

Felipe Nuno, fundador da agência de branding design Noono Studio, lembra que o maior desafio do projeto foi repensar a gestão do tempo e revisão dos processos para fazer a mesma coisa em quatro dias. “Agora já incorporamos as mudanças e ultrapassamos a parte mais complicada, que foi a mudança dos hábitos. Para ajudar, implementamos ferramentas de gestão de tarefas, o que nos ajudou a ser mais produtivos e conseguir até pegar novos projetos”, explica.

Para Roberta Faria, fundadora da empresa de impacto social Mol, o desafio foi conseguir confiar uns nos outros e dar autonomia para que as pessoas pudessem tomar decisões quando alguém estava no seu day off. Para isso, o grupo teve de mapear todos os processos e usar novas ferramentas tecnológicas de gestão, que ajudaram a documentar e automatizar as tarefas. “Assim, todos passaram a ter acesso à informação e saímos da informalidade ‘do eu cuido disso sozinho’ para uma jornada mapeada com conhecimento e responsabilidades compartilhados, o que garantiu maior eficiência e uma mudança na mentalidade geral”, disse.

Para se atingir esse nível de organização, a comunicação é um ponto fundamental, na opinião de Paul Ferreira, porque é ela que leva as informações para todos os níveis. “Mas, para tudo isso funcionar, é essencial que a alta liderança esteja comprometida e que faça novos tipos de acordos para transformar a relação de trabalho”, disse. 

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Empresas maiores têm oportunidade

Os dados mostram que essas experiências iniciais foram positivas e podem ajudar até as empresas maiores que queiram entrar no projeto, na opinião do representante da FGV. “Nessa primeira etapa tivemos empresas menores, e muitas delas optaram por implantar em determinados departamentos. Isso pode funcionar também para  empresas maiores”, diz Ferreira, acrescentando que os resultados obtidos passam a confiança de se expandir para outras áreas de forma segura, afastando os riscos.  

Entre os impactos mais significativos do projeto não está só o ganho de produtividade, mas também do engajamento e da retenção de talentos. Conforme o estudo, cerca de 40% relataram que seria preciso um salário 50% maior para que ele considerasse uma proposta que implicasse no retorno a uma semana de trabalho de cinco dias.

“É preciso parar de romantizar e quebrar o mito de que o workaholic é aquele que traz resultado, porque as pessoas sobrecarregadas estão adoecendo, e a produtividade está caindo junto”, finalizou Renata.

Anna França

Jornalista especializada em economia e finanças. Foi editora de Negócios e Legislação no DCI, subeditora de indústria na Gazeta Mercantil e repórter de finanças e agronegócios na revista Dinheiro