Nada de ChatGPT: nos investimentos, IA pode transformar analista em “ciborgue”

Como chatbot da OpenAI é ruim para a tarefa, indústria quer usar IA para melhorar o ser humano responsável por descobrir investimentos

Monique Lima

(Foto: Gerd Altmann/ Pixabay)
(Foto: Gerd Altmann/ Pixabay)

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Quem já “brincou” com o ChatGPT para descobrir investimentos sabe: a invenção da OpenAI é ruim para ajudar a investir. Ao digitar “indique uma ação para investir” ou “crie um portfólio de investimentos do zero” no robô, ele responderá que não pode fazer uma recomendação porque não tem informações básicas do usuário, como o seu perfil de investidor, objetivos e tolerância a risco, e indicará fazer uma pesquisa por conta própria. Por que a Inteligência Artificial (IA) mais famosa do mundo não ajuda nessa tarefa?

Segundo Pedro Simonetti, sócio da gestora quantitativa Giant Steps, o modelo de aprendizado usado no chatbot é baseado em generalização, de modo que a resposta sempre será um grande compilado de tudo que existe na internet. “Você confia em tudo que está escrito na internet? Tem muita coisa boa, mas tem muita coisa ruim também. E com investimentos não dá para ser genérico”, afirmou o especialista em evento promovido recentemente pela Bridgewise.

Segundo ele, embora o ChatGPT tenha revolucionado o uso de inteligência artificial com sua interface amigável que permite interação com o público, os estudos de aprendizado de máquina e uso de IA no universo financeiro já acontecem há décadas, com aplicação principalmente nos fundos quantitativos.

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“Analista ciborgue”

Na israelense Bridgewise, o uso de IA envolve analisar 44 mil ações globais, fazer comparativos por setor e entregar um relatório no idioma do cliente. “Tem muitas empresas boas por aí, que não são famosas, mas que o público não conhece porque não têm cobertura de casas de análise por limite de capacidade dos analistas”, disse Thiago Guedes, diretor de desenvolvimento de negócios da Bridgewise.

Para Fernando Ferreira, estrategista-chefe de investimentos da XP, o setor de análise no Brasil ainda está em processo de implementação do uso de IA, com o objetivo de aumentar a produtividade dos analistas. “Na XP, o setor de análise tem buscado no mercado profissionais com habilidade de programação para caminhar para esse futuro. Hoje, já usamos IA para criar textos e agilizar os relatórios. O próximo passo é otimizar os cálculos e a coleta de dados”, disse Ferreira no mesmo evento.

“Humanos não serão substituídos por IA, mas por outros humanos que sabem como usar bem os modelos de IA”, completou Victor Montezuma, CFO da Suno.

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IA certa pode ajudar a investir

“A grande questão é que a IA é uma ferramenta. Tem aplicações que são muito eficientes em tarefas específicas, como na coleta e organização de dados, desenvolvimento de códigos, mas não irá decidir tudo sozinho”, diz Rodrigo Maranhã, sócio da Kadima Asset.

Os fundos quantitativos da Giant Steps e da Kadima Asset são ambos baseados em algoritmos, que decidem os ativos da carteira, momento de compra e venda e tamanho da exposição. Porém, Simonetti destacou que esses algoritmos são criados por humanos, testados até a exaustão por humanos e só são aprovados quando não há a menor dúvida de que funcionam.

“É um produto de tecnologia que envolve aprendizado de máquina, IA, e outras ferramentas, mas que só foi possível pelo trabalho de muitas pessoas. A IA não vai substituir o gestor ou o assessor, mas pode ajudar a fazerem um trabalho melhor”, diz.